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Casa Fernando Pessoa é o primeiro museu a sair do armário

O projecto "O Museu Fora do Armário" foi criado por André Murraças e quer fazer releituras queer das colecções de diferentes museus portugueses. Começa a 28 de Setembro e esta é a primeira paragem.

Beatriz Magalhães
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Beatriz Magalhães
Jornalista
O Museu Fora do Armário
José Frade O Museu Fora do Armário
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Em Setembro, a Casa Fernando Pessoa é a primeira paragem de "O Museu Fora do Armário". O programa, criado por André Murraças, procura fazer uma releitura queer das colecções dos museus portugueses. Além de uma exposição que ocupa a biblioteca do poeta, há sessões de leitura até Dezembro.

O projecto tem o objectivo de destacar autores e livros que se centram em realidades fora do que é heteronormativo e em personagens e vivências queer. "Há muita coisa que não é exposta nos museus, que está nos arquivos ou nas reservas. Há muitas vivências de pessoas LGBT de há muitos anos atrás. Por exemplo, no Museu Nacional de Arte Antiga podemos encontrar algumas imagens, pinturas onde se começa a ver alguma dessa representação", realça André Murraças, dramaturgo e investigador do património LGBTQ+ português, à Time Out.

O Museu Fora do Armário
José Frade

Na Casa Fernando Pessoa, a partir da exposição permanente e da colecção particular do poeta, destacam-se algumas obras, de várias épocas e autores distintos, acompanhadas de um pequeno texto que dá a saber a importância de determinada história. Tem como ponto de partida Nova Sapho, publicado em 1912 pelo Visconde de Villa-Moura. Apontado como o primeiro romance queer português pela investigadora Anna M. Klobucka, contraria uma tendência que se verificava na altura de caricaturar de forma depreciativa os homossexuais. Seguem-se a peça de teatro Alfama, de António Botto, e Sodoma Divinizada, um manifesto assinado por Raul Leal.

O exemplar de Antínoo, escrito por Fernando Pessoa, que integra a colecção de Almada Negreiros, bem como A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá Carneiro, fazem parte da exposição e também chegam à sessão de leitura que está marcada logo no primeiro dia, a 28 de Setembro. A partir das 16.00, Francisco Goulão e Leonardo Proganó são as vozes de serviço. Em seguida, começa uma visita comentada por André Murraças. Dia 7 de Novembro, às 18.30, as obras de Victoriano Braga, Octávio, e de Francisco Cabral Metello, Sachá – Comentários à Vida Moderna, que também fazem parte da mostra, são lidas por Francisco Goulão, Leonardo Proganó, Margarida Bento e Gonçalo Santos. 

O Museu Fora do Armário
José Frade

Também integrados neste ciclo estão livros de autores estrangeiros, como Dracula, de Bram Stoker, Leaves of Grass, de Walt Whitman, The works of Euripides e La Mare au Diable, de George Sand. Revista Europa, dirigida por Judith Teixeira, além de ser objecto de exposição, faz ainda parte da última sessão de leitura na Casa Fernando Pessoa. A 12 de Dezembro, às 18.30, Joana Manuel e Gonçalo Santos ficam encarregues de ler alguns textos da publicação, bem como Canções, de António Botto.

Uma das vontades do projecto é que este percorra várias instituições em Lisboa, sendo que em Novembro já vai passar pelo Museu de Lisboa – Palácio Pimenta. Aqui, vão existir duas visitas guiadas teatralizadas – a 2 de Novembro e a 1 de Dezembro. Ao revisitar a exposição permanente do museu, propõe-se falar e descobrir "uma outra Lisboa". "Como é que em Lisboa, ao mesmo tempo que esta foi crescendo e que se foi transformando na cidade que nós conhecemos agora, as pessoas homossexuais foram lidando com a Inquisição e a censura. Como é que era o circuito alternativo, as casas de prostituição, como é que esses universos existiam na Lisboa que estava a crescer, desde a pré-história à Expo 98, que é a última paragem", explica André.

O Museu Fora do Armário
José Frade

Como complemento a cada exposição, será lançada a Marginália, uma revista que procura ser um caderno de apoio às exposições e que incluirá textos sobre as obras, peças e pessoas abordadas. Cada museu terá direito a uma edição da revista, que depois estará à venda no local ou então na página de Instagram do projecto.   

No próximo ano, "O Museu Fora do Armário" passará ainda pelo Museu Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional do Teatro e da Dança e o Museu de Lisboa – Teatro Romano.   

Rua Coelho da Rocha, 18 (Campo de Ourique). 28 Set-5 Jan. Vários horários. 6€ (as sessões de leitura têm entrada livre)

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