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É o mais relevante acervo internacional de obras produzidas desde o modernismo, em contexto português, e abre esta sexta-feira portas ao público. Um fim-de-semana de celebração em torno da arte – com entrada gratuita e um programa de festas à altura da ocasião –, num museu que vê agora a sua identidade renovada, depois de o antigo inquilino se ter visto a braços com a justiça. De Berardo ficou apenas a colecção, uma das três com lugar nas reservas do Museu de Arte Contemporânea MAC/CCB. Em depósito estão também a Colecção Ellipse, arrestada após a falência do Banco Privado Português, com cerca de 800 obras de arte, e a Colecção Teixeira de Freitas, em resultado do acordo assinado com o coleccionador brasileiro radicado em Portugal. Estas duas últimas, totalizam cerca de 2000 peças.
"Este é um momento de particular responsabilidade para o CCB", referiu Pedro Adão e Silva, durante uma conferência de imprensa que teve lugar no museu, esta quinta-feira de manhã. "Este novo início obriga, por um lado, à diversificação e à multiplicação das fontes de receita que financiam a actividade do CCB, mas também aquilo que diria que é o propósito de um espaço como este, a abertura à cidade, a construção de um chão comum, assente na mediação, na educação e que vise o que é a diversidade cultural e social de quem visita o espaço e também a diversidade etária", continuou o ministro da Cultura.
Adão e Silva descreveu ainda o CCB como um "equipamento único no país", agora que é oficialmente composto por um museu de arte contemporânea, um centro de artes performativas e um centro de arquitectura. O ministro anunciou ainda a criação de um fundo de aquisições para o novo museu, com cerca de dois milhões de euros, de forma a retomar "a política de aquisições que o CCB teve algures nos anos 90 e que ficou suspensa", acrescentou.
Questionado sobre o papel do Museu Nacional de Arte Contemporânea – agora que o foco está sobre o novo museu de Belém, que representa um investimento de 36 milhões de euros por parte do Estado –, o ministro da Cultura garantiu que o museu do Chiado será também ele alvo de investimento público, tendo em vista a sua ampliação, e defendeu um trabalho articulado entre as duas instituições. Também o processo de selecção de um director artístico para o MAC/CCB continua em curso. Foram submetidas cerca de 40 candidaturas, a maioria de proponentes estrangeiros. O nome escolhido será anunciado em Dezembro.
Três novas exposições para ver já este fim-de-semana
O espaço, com uma área expositiva de 9000 metros quadrados, é já um velho conhecido do público. Praticamente inalterado, é casa de três novas exposições, que se juntam assim à exposição permanente "Colecção Berardo: Do Primeiro Modernismo às Novas Vanguardas do Século XX" e a "Habitar Lisboa", mostra temporária que ocupa o Centro de Arquitectura/Garagem Sul.
Em "Objecto, Corpo e Espaço", que daqui em diante ocupará em permanência o piso -1 do museu, respiram as segundas vanguardas do século XX. Nestas salas, misturam-se e dialogam quatro colecções – a Colecção Berardo, a Colecção Ellipse, a Colecção Teixeira de Freitas e a Colecção de Arte Contemporânea do Estado (CACE). Segundo Delfim Sardo, curador e administrador do CCB, questões estéticas e didácticas ditaram a organização do circuitos expositivo, mas também referências emocionais como a que proporcionou o regresso de uma escultura de Rui Chafes – Sonho e Morte –, a mesma presente aquando a inauguração do Centro Cultural de Belém, em Março de 1993. Outro dos destaques vai para Estratégias de Sobrevivência, a obra número um do MAC/CCB, recentemente doada.
Assente numa "relação paritária" entre artistas portugueses e autores internacionais, a exposição segue no encalço dos géneros artísticos que irromperam dos anos 60 em diante. O minimalismo, a arte povera, a pintura sistémica ou o neo-expressionismo tomam conta de algumas das 18 salas. Em nomes como o do conceptualista Joseph Kosuth, com obras complementares e dialogantes nas colecções Berardo e Ellipse, ou em temas como o pós-colonialismo, enriquecido com obras de Chris Ofili, Lynette Yiadom-Boakye e Glenn Ligon, a articulação entre colecções torna-se especialmente visível. De Ângela Ferreira, que partilha uma das salas com o norte-americano Jimmie Durham, surge uma instalação pela primeira vez exposta lado a lado com respectivos desenhos de estudo. A primeira faz parte da CACE, os segundos foram cedidos por um coleccionador privado.
A abertura do MAC/CCB fica ainda marcada por duas exposições temporárias, ambas patentes até dia 10 de Março. "Ou o desenho contínuo" marca a chegada da Colecção Teixeira de Freitas a Belém. São 111 desenhos organizados em oito núcleos, também no piso -1. Debruçados sobre temas como a arquitectura, o corpo, a natureza e a prática artística em si, podem muito bem surpreender os visitantes pela interactividade ou pelo formato, nem sempre estático ou bidimensional. No andar de cima, outras das galerias abre-se à escultura de Berlinde De Bruyckere. Brutal e fantasmagórica, "Atravessar uma ponte em chamas" foi feita a pensar no MAC/CCB e dá continuidade ao já longo trabalho da artista belga em torno de conceitos como a morte, a dor, a violência e o sexo. No dia 10 de Novembro, a exposição é palco de uma performance de Romeu Runa, desenvolvida em parceria com De Bruyckere.
Na exposição permanente dedicada à Colecção Berardo, continuamos a poder ver Femme dans un fauteuil (métamorphose), a pintura de Pablo Picasso que, a 13 de Outubro, foi coberto de tinta vermelha por dois jovens do grupo ambientalista Climáximo. Salvo pelo acrílico que o protegia, a obra de 1929 continua impecavelmente exposta, já a partir desta sexta-feira à noite.
Centro Cultural de Belém, Praça do Império (Belém). 21 361 2878. Ter-Dom 10.00-19.00. 10€ (5€ para cidadãos com nacionalidade portuguesa e para residentes em Portugal)
+ No fim-de-semana, ouve-se música clássica no Palácio Galveias