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“A Côrte em pêso caiu em Cascais, seguindo os seus Reis. A alta burguesia aproximou-se logo dos seus ídolos. Tôda a gente quis ter casa em Cascais”, lê-se no livro de 1943 Memórias da Linha de Cascais, de Branca de Gonta Colaço e Maria Archer, que contam que quando os condes de Sabugosa alugaram pela primeira vez uma casa à beira-mar, já para lá iam veranear muitas outras famílias da nobreza: dos duques de Palmela e de Loulé, dos barões de Alvito, dos marqueses das Minas ou dos condes de Ficalho. Entre os chalets, palacetes e palácios que foram nascendo pela baía acima, cada um mais bonito que o outro, com um estilo arquitectónico nunca antes visto na região, destacou-se sempre o Chalet Ficalho – hoje nas traseiras da Casa das Histórias Paula Rego, à época da construção vizinho do Clube da Parada, onde o rei D. Carlos e os amigos se encontravam para praticar os mais diversos desportos. Os seus telhados redondos cinzento-esverdeados, as paredes de pedra em fundo salmão, as portadas vermelhas das janelas altas e o jardim botânico com espécies exóticas (o pai da condessa de Ficalho foi um dos fundadores do Jardim Botânico de Lisboa, tendo idealizado este à sua imagem), ainda hoje fazem parar quem passa à porta. A partir de agora, poderão entrar: a quarta e quinta geração da família transformaram a casa de férias de Maria Josefa de Mello numa guest house que evoca os anos de ouro da alta sociedade em Portugal.
A ideia da família quando se candidatou ao IFFRU (um programa de apoio financeiro para reabilitação e revitalização de edifícios históricos) foi sempre “manter tudo o mais parecido possível com o original”, conta Francisco Franco de Sousa, trineto da 5.ª Condessa de Ficalho, que construiu aquela casa nos últimos anos do século XIX para a sua filha Helena Maria Luísa (que todos tratavam por Vavá), de saúde débil e a quem o médico terá receitado “ares do mar” como forma de tratamento. Azulejos, lustres, sedas, telas, chão, pinturas, vidros, portadas e até peças de mobiliário com mais de 100 anos foram restaurados – os sofás que já não tinham salvação ganharam réplicas.
O imponente hall de entrada e a sala de jantar digna de museu, com telas pintadas representando árvores de fruto, são os espaços onde o restauro é mais impressionante, mas “a sala redonda” (que não é redonda) e a “sala pequenina” (uma mini-biblioteca com acesso directo ao exterior), no mesmo piso térreo e onde os hóspedes são recebidos, também guardam relíquias de outros tempos.
Os nove quartos distribuem-se pelo primeiro piso e o sótão, onde se pode chegar pela escadaria de madeira ou pelo novíssimo elevador, forrado com uma fotografia de 1900 onde se vê a trisavó e a avó de Francisco com amigas e um cão de água igual ao que nos acompanha na visita a poucos dias da abertura. “O sótão era a zona mais degradada. Não tinha telhado, estava a céu aberto, e eu e os meu primos vínhamos para aqui brincar e explorar os baús, cheios de medo”, recorda o trineto da primeira proprietária.
Além de ter agora todos os confortos obrigatórios dos dias de hoje (ar condicionado, aquecimento, elevador, internet), e de ter aproveitado os materiais ao máximo (as cabeceiras das camas, por exemplo, são feitas com o desperdício de madeira do restauro), a grande novidade é a agradável piscina, construída no jardim onde antes ficava uma meia lua de palmeiras. Se quiser, pode pedir para o pequeno-almoço lhe ser servido aí mesmo. Ou em qualquer outra parte da casa. “A expressão ‘pôr a mesa’ é anterior às salas de jantar e vem do tempo dos reis, que mandavam pôr a mesa onde quisessem”, conta Francisco. “Aqui também será assim, umas mesas muito bem postas onde os hóspedes quiserem.”
O slogan da guesthouse, que abre já este sábado, é “Venha fazer do Chalet Ficalho a sua casa.” Uma casa de veraneio, como no tempo dos reis e rainhas. Se não puder ficar a dormir, para breve estão planeados chás e cocktails ao fim do dia.
Avenida Emídio Navarro 211, Cascais. 21 483 0087. Instagram: chalet_ficalho