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“Lisboa é muito bonita e demasiado grande para se ver em tão pouco tempo.” A confissão é de Sangeun Kim, que conhecemos no primeiro dia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a 1 de Agosto. Na altura, a sul-coreana de 29 anos mostrou-se genuinamente entusiasmada, apesar de desiludida com os transportes. “Não vos quero ofender, mas os nossos autocarros e metros são melhores, muito organizados e seguros.” Em Seul, os transportes colectivos são o principal meio de locomoção. Em Lisboa, os atrasos, perturbações e greves têm sido cada vez mais frequentes. E as esperas prolongadas também. “Queria muito andar no eléctrico 28 e consegui, mas só depois de uma longa, longa fila”, partilha, por mensagem, uns dias depois do regresso à Coreia do Sul. Ainda assim, vontade de voltar não lhe falta. Não é a única.
![Jornada Mundial da Juventude](https://media.timeout.com/images/106033622/image.jpg)
“Vamos voltar mais vezes”, assegura Annie Mikobi, igualmente por mensagem, à distância de alguns dias. Natural do Congo, mas a viver e a trabalhar no Djibuti, a médica de 55 anos também esteve em Lisboa para o encontro católico. Quando a conhecemos na Cidade da Alegria, no Jardim Vasco da Gama, em Belém, Mikobi estava acompanhada por um grupo de mais sete fiéis, incluindo o filho, que tinha vindo de França, onde está a estudar. “O Djibuti é um país muçulmano e não temos muitos cristãos locais, então a Diocese de Djibuti [a única] escolheu dez fiéis para participarem na JMJ. Dois decidiram não vir”, explicou-nos. “Foi a primeira vez que vim a Lisboa e só me perguntava como seria. Mas cheguei e uau.”
A primeira vez de Mikobi em Portugal coincidiu com a sua primeira participação numa JMJ. Nascida no seio de uma família cristã, mas de origem protestante, a congolesa frequentou escolas católicas desde o ensino primário até ao secundário e acabou por se converter quando casou com um católico. “Mas nunca participei em nenhuma JMJ. Este ano, quando soube que a nossa diocese ia enviar jovens para a representar, perguntei se me podia inscrever a mim e ao meu filho.” Teve sorte e acabou por ter oportunidade de viver em família a experiência por que tanto ansiou. Sobre Portugal, e Lisboa em particular, só tem coisas boas para dizer. “É uma casa acolhedora, com gente bonita e boa.” Já o pressentia à chegada: o primeiro dia na cidade, a 28 de Julho, passou-o a dormir para recuperar energias, mas rapidamente se rendeu à simpatia dos seus hóspedes (e às bifanas).
![Jornada Mundial da Juventude](https://media.timeout.com/images/106033623/image.jpg)
Solarenga, alegre, livre. Foi assim que os peregrinos com quem falámos, todos pela primeira vez na capital portuguesa, nos descreveram Lisboa. No meio de um então lotado eléctrico articulado 15E, a dominicana Canoly, de 30 anos, também aplaudiu a limpeza da cidade, mas o que a deixou mesmo satisfeita foi a meteorologia. “[O clima] aqui é mais fresco, mais agradável, mais natural”, afirmou, antes de aprovar uma das mais populares especialidades da doçaria portuguesa: “O pastel de nata é delicioso. Que combinação perfeita: suave mas com uma boa estrutura.” Christophe Peeters, de 27 anos, disse-nos o mesmo. “Também temos pastéis na Bélgica, mas são diferentes. O que comemos no Cais do Sodré era muito bom. Ainda não provámos o de Belém”, lamentou o jovem, que se encontrava na Alameda Dom Afonso Henriques, depois de o seu grupo ter desistido de tentar apanhar um comboio. “Acabámos a passear, a pé, e viemos aqui parar.”
Da circulação condicionada às famosas colinas de Lisboa, a mobilidade na cidade não se revelou digna de reconhecimento, mas também não estragou o postalinho. “Não tinha muitas expectativas, só queria vir e aproveitar”, garantiu Peeters. O padre polaco Bartlomiej Zakrzewski, de 37 anos, também desvalorizou o assunto: “Não esperava nada, porque vim para me encontrar com Deus e a comunidade católica. A cidade é bonita e o tempo é muito bom, mas não é a primeira coisa no nosso pensamento.” Não sabemos como correu o resto da experiência – nenhum retomou o contacto.
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“Acredito que foi uma troca de ensinamentos entre o povo português e a juventude católica”, diz-nos João Pedro. O brasileiro de 18 anos, que nunca tinha estado em Portugal nem participado numa Jornada, viu todos os seus desejos cumpridos. Passava do meio dia quando o vimos pela primeira vez, de bandeira do Brasil na mão, rodeado de amigos, na Cidade da Alegria. “Nossa, vim de coração aberto”, prometeu. “O plano para visitar a cidade está a ser feito a cada dia. Mas queremos conhecer pelo menos os pontos turísticos.” Dito e feito. De volta a Campinas, São Paulo, recorda a experiência. Visitou todos os monumentos em Belém, do Mosteiro de São Jerónimo ao Padrão dos Descobrimentos. “E o Arco da Rua Augusta, a Igreja de Santo António, a Sé de Lisboa. E o que eu mais gostei foi a Catedral da Sé. É muito bonito conhecer e viver a grandiosidade física e espiritual que a Sé carrega em sua história.”
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