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Os lisboetas acordaram esta quinta-feira com uma notícia inesperada: parte da ciclovia da Avenida Almirante de Reis foi eliminada durante a noite, na zona da Alameda. O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, já tinha demonstrado a intenção de acabar com parte da ciclovia para devolver a faixa de rodagem aos carros, argumentando que a medida serviria para escoar o trânsito. Agora, o executivo avançou mesmo no terreno, contra a recente proposta dos vereadores da oposição, que queriam voltar a debater este assunto na próxima reunião camarária, na segunda-feira.
Esta quinta-feira, dia 26, Carlos Moedas garantiu ao Público, durante uma vista ao bairro da Boavista, em Benfica, que “não aconteceu nada de extraordinário” esta noite. "Anunciámos há um mês que iria haver uma solução para a Almirante Reis que consistia em tirar metade da ciclovia do lado direito. Foi anunciado e foi trabalhado com os cidadãos. Ouvimos mais de 600 pessoas”, disse. No dia anterior, o autarca tinha afirmado à Lusa desconhecer o avanço das obras e afirmado que "houve todo um trabalho feito em relação à Almirante Reis", ressalvando que tal "não impede" a discussão da proposta para consulta pública.
Através do Twitter, o vereador único do Bloco de Esquerda acusou o presidente da Câmara de “se ter comprometido com o Bloco que haveria uma consulta pública para a ciclovia da Almirante Reis”. Segundo Ricardo Moreira, Carlos Moedas concordou em discutir, na próxima reunião do executivo, a proposta do Bloco de Esquerda, do Livre e da vereadora independente do Cidadãos por Lisboa (eleita pela coligação PS/Livre) que pretendia abrir "um período de recolha de contributos de não menos 30 dias" antes de avançar com qualquer alteração na ciclovia. Sobre isto, o autarca disse, também citado pelo Público, que a proposta ainda será levada a nova reunião de câmara e, caso seja aprovada, "pára-se tudo e faz-se essa nova consulta pública que o BE está a exigir”.
O vereador do partido Livre, Rui Tavares, em declarações à Lusa, disse que o avanço das obras antes da discussão da proposta para consulta pública do projecto para a Almirante Reis, ainda que possa estar dentro da legalidade, é uma “falta de respeito”.
#cicloviaalmirantereis no dia de reunião de câmara, minutos depois de @Moedas se ter comprometido com o Bloco que haveria uma consulta pública para a #ciclovia da Alm Reis as obras avançaram. Assim não. pic.twitter.com/y2QQcrXEKK
— Ricardo Moreira (@ricardosmoreira) May 25, 2022
António Valle, chefe de gabinete de Carlos Moedas, partilhou no Twitter um vídeo desta acção de eliminação de parte da ciclovia, defendendo que o presidente da Câmara de Lisboa “está a cumprir o que há muito anunciou para a ciclovia da Almirante Reis”. Sublinhou ainda que a medida avançou “depois de ouvir centenas de pessoas e organizações”.
Depois de ouvir centenas de pessoas e organizações, o presidente @Moedas está a cumprir o que há muito anunciou para a ciclovia da Almirante Reis pic.twitter.com/RbHnYp8fBD
— Antonio Valle (@ARMNValle) May 25, 2022
Em Março, Carlos Moedas já tinha dito que pretendia "acabar com metade da ciclovia". "Temporariamente vamos resolver uma parte do problema, que é retirar já uma parte daquela ciclovia para escoar o trânsito, mas no longo prazo aquela avenida tem de ter duas faixas nos dois lados e, depois, pode ter a ciclovia, mas isso tem de ser um projeto de reperfilamento da própria Almirante Reis". Esta é uma intenção anunciada desde o início da campanha de Carlos Moedas à Câmara Municipal de Lisboa e que elimina a medida avançada pelo anterior executivo, encabeçado por Fernando Medina.
Para esta sexta-feira, dia 27, já foi convocada uma manifestação a favor da permanência da totalidade da ciclovia na Avenida Almirante Reis pela Massa Crítica Lisboa, um movimento que promove passeios na cidade em transportes não poluentes. A manifestação arranca às 18.00 no Marquês de Pombal, desce a Avenida da Liberdade e segue para a Almirante Reis. Aí, segundo a página de Facebook, está previsto "subir e descer a Almirante Reis algumas vezes em protesto pela sua remoção". "A Ciclovia fica, Lisboa não pode regredir na mobilidade sustentável!" é o mote do protesto.
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