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Há mais de um mês que os cartazes e grafitti começaram a surgir no bairro da Graça, contra a criação de um hotel de luxo naquela zona de Lisboa, ainda marcada pelo pequeno comércio de rua. No Largo da Graça, pode ler-se a mensagem com clareza e síntese: "Não queremos um hotel". E para a próxima terça-feira, dia 17 de Dezembro, às 18.00, está agendada uma concentração em frente ao edifício, no Largo da Graça, com o intuito de tornar mais audível a vontade de muitos moradores do bairro.
"Esta concentração foi uma proposta na assembleia popular que organizámos no dia 30 de Novembro, onde apareceram cerca de 120 vizinhos e vizinhas do bairro da Graça para mostrar o seu desconforto com este novo hotel do luxo no bairro, a gentrificação e a turistificação", escreve o grupo Stop Despejos, que dinamiza a iniciativa, num comunicado enviado às redacções. "A menos de 50 metros do quartel, o Convento das Mónicas [foi] também concessionado para hotel de luxo", relembra o colectivo, apontando o dedo à transformação do bairro de raiz popular. A reivindicação é que o contrato seja revogado, podendo assim o edifício, património do Estado, ganhar a forma de um espaço para a comunidade.
Na assembleia de 30 de Novembro, na Caixa Económica Operária, surgiram diferentes propostas, em resposta às necessidades sentidas pela população, como a criação de uma biblioteca (inexistente na freguesia de São Vicente), uma ludoteca, oficinas e ateliers de artes ou um espaço dedicado à exploração científica e investigação. Também ali poderiam surgir um ginásio, uma cozinha comunitária, um balneário público, salas para trabalho associativo, espaços intergeracionais, habitação, entre outras ideias. Espaço existe. O Quartel da Graça, classificado como monumento nacional em 2010, ocupa uma área bruta de 15 mil metros quadrados, destacando-se como o maior edifício público em desuso naquela zona da cidade.
Ainda a tempo?
O contrato de concessão com o grupo Sana foi assinado precisamente há cinco anos, a 17 de Dezembro de 2019, no âmbito do programa Revive, destinado à reabilitação de património público. "O Quartel da Graça, em Lisboa, vai abrir ao público no final de 2022 como um hotel de 5 estrelas", previa na altura o Governo de António Costa. Em troca, seria paga uma renda anual de 1,79 milhões de euros, durante 50 anos, parte do acordo que a Stop Despejos questiona se estará realmente a ser cumprida. O atraso deve-se a diversas alterações ao projecto de arquitectura, motivadas pelas exigências de protecção do património.
Mas, tendo o contrato com o grupo Sana sido assinado há cinco anos, ainda haverá hipótese de cancelar o projecto? “Temos esperança de que ainda vamos a tempo de conseguir travar isto. E achamos que tal é possível ao olharmos para o exemplo que se passou com o Martim Moniz, em 2019, quando, pela força da mobilização colectiva, se conseguiu travar o que o Fernando Medina tinha planeado para ali”, declarou ao Público Alberto Lopez, do colectivo Stop Despejos, referindo-se ao projecto dos contentores que chegou a estar previsto para aquela zona da cidade.
Além de reivindicar a revogação do contrato, o colectivo pede o fim do licenciamento de hotéis e alojamentos locais em Lisboa, evocando os direitos à cidade e à habitação. "A falta de habitação é um problema urgente, assim como a falta de espaços urbanos comuns e de acesso livre para lazer, convívio, apoio mútuo, serviços essenciais à vida, educação não formal, artes, ofícios e cultura", afirmam, no comunicado.
Descontentes com a crescente "turistificação" do bairro da Graça, que tem vindo a assistir a uma transformação gradual na qual se incluem o fecho de espaços comércio tradicional, despejos ou a grande afluência de veículos de animação turística, vários cidadãos têm-se insurgido e mobilizado contra o fenómeno, espalhando cartazes e agudizando o debate no bairro. A criação recente do Movimento Lisboa Para Viver – Stop Mass Tourism é um dos exemplos. Outro foi a petição para impedir a concentração de veículos de animação turística perto do Miradouro da Senhora do Monte, sendo que pouco tempo depois a Câmara de Lisboa anunciou que iria trabalhar num regulamento para ordenar a actividade na cidade e a Polícia Municipal e a EMEL desenvolveram uma operação-relâmpago na zona, multando e bloqueando vários veículos daquele tipo junto ao miradouro.
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