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Durante quatro meses, circulou por diferentes plataformas digitais um inquérito que instigava a população a reflectir sobre o projecto que a Câmara Municipal de Lisboa qualifica como a "maior operação de requalificação urbana da cidade, depois da Expo ‘98 e da Alta de Lisboa”. Em causa estão os planos para o Vale de Santo António, um descampado de 48 hectares entre o Beato, a Penha de França e São Vicente, centrados na construção de habitação para arrendamento a preços acessíveis. Os resultados desta consulta realizada por um grupo informal de residentes, partilhados com a Time Out, revelam que, num universo de 598 respostas, 53% dos inquiridos não concordam com o projecto e 19% estão a favor (os restantes concordam parcialmente ou não têm opinião). Os números, o contexto e o posicionamento do colectivo também já foram partilhados com a autarquia lisboeta.
Foi por considerarem que “urbanizar densamente a área não é uma solução para o problema da habitação” que Hugo Warner, especialista em economia circular, João Baia, sociólogo e antropólogo, António Mota, estatístico, e Ana Filipa Oliveira, especialista em comunicação e advocacia social, decidiram lançar este inquérito em Julho. Ao mesmo tempo, o colectivo acredita que falta auscultar as partes interessadas sobre o destino desta zona da cidade. "Normalmente, nas consultas públicas, os prazos são muito curtos. E na última consulta sobre o Vale de Santo António [em 2020], os resultados nunca foram publicados. Não queremos isso. Queremos que a decisão sobre um espaço da cidade possa contar com o contributo do maior número de pessoas possível”, explica Hugo Warner.
O que fazer, então, neste vale? Os quatro cidadãos propõem a criação de um espaço público verde, dedicado ao lazer, ao desporto e à cultura, mas também a contrariar os efeitos das alterações climáticas. Ter um local que sirva de refúgio climático é, assim, visto como uma prioridade, confirmada por 86% dos inquiridos nesta consulta, que acreditam que “a Câmara deve dar prioridade às acções que visem combater as alterações climáticas e a perda de biodiversidade”. Como afirma o colectivo no comunicado à Câmara, “o desenvolvimento urbano só se pode alcançar com a regeneração da natureza”. É nesse sentido que pede uma reavaliação e reflexão conjunta e transparente sobre o projecto.
Com base nos resultados do inquérito, o grupo deixa, ainda, um conjunto de recomendações à autarquia. À cabeça surge a convocatória de um “conselho de cidadãos sobre o futuro do Vale de Santo António, suportado por conhecimentos técnicos e com poder para formular recomendações”. Aprofundar o conhecimento sobre o que está a ser feito noutros pontos da Europa para reagir aos mesmos desafios que Lisboa enfrenta e realizar um estudo de impacto ambiental, social e económico do projecto são outras das sugestões apresentadas.
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