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Parece mais do mesmo, inicialmente. Um andróide, escravizado, foge do seu proprietário e tenta sobreviver num futuro distópico, tal como em Citizen Sleeper (2022). O interface deste conto de ficção científica e jogo de tabuleiro virtual é familiar e minimalista; mecanicamente, é um misto de simulação de sobrevivência e de romance visual, como o título anterior, mais uma vez. Não tardam, contudo, a ser introduzidas novas mecânicas e sistemas, que alargam o escopo de Citizen Sleeper 2: Starward Vector e fazem dele uma experiência mais entusiasmante e complexa; menos romance visual e mais um jogo narrativo de interpretação de papéis (ou RPG, para atalhar caminho e poupar latim).
Gareth Damian Martin, jornalista e designer responsável pelos estúdios Jumper Over The Age, não gostou de ver o título anterior descrito como um “romance visual” em grande parte da imprensa – incluindo na Time Out Lisboa – e fez questão de que a sequela fosse mais complexa e memorável, com diferentes sistemas interconectados e uma componente lúdica mais vincada. O universo em que decorre a acção pode ser o mesmo, a premissa inicial e as mecânicas idem; no entanto, agora, há muito mais que fazer em cada ciclo e uma galáxia para explorar. A qualidade da prosa e as ambições temáticas são ainda maiores.

O Citizen Sleeper original era uma meditação alegórica sobre a precariedade e as consequências da austeridade económica que assombrou o ocidente na década passada. Este segundo é uma parábola que parte da entropia e das crises sistémicas que têm enodoado estes pavorosos anos 20 do século XXI para contar uma história pautada pela necessidade de entreajuda colectiva e criação de comunidade, sobretudo em momentos rupturas, mas também de novos começos.
E se o primeiro parecia ser algo pessoal, este é ainda mais. As crises que atravessam o jogo foram inspiradas nas nossas: as mortes e os confinamentos impostos pela covid-19, a guerra na Ucrânia, o genocídio palestiniano em curso. E nas de Garreth, que passou boa parte dos últimos anos a lidar com questões pessoais e a ver a sua saúde degradar-se, acabando duas vezes no bloco operatório, ambas a tentar solucionar o mesmo problema.
No meio do tumulto, conseguiu fazer um videojogo soberbo e genuinamente especial. Dos melhores que nos passaram pelas mãos nos últimos meses. A maior parte do tempo é passado a ler linhas de texto, enquanto se navega por um mapa digital, muito ocasionalmente abrilhantado pelos desenhos do ilustrador de BD Guillaume Singelin, e escutam as composições minimalistas de Amos Roddy. Ocasionalmente, rodam dados e é preciso fazer escolhas. O tempo e os recursos são limitados, a pressão e os níveis de stress não param de aumentar. Não obstante, no meio deste caos, vão-se desenrolando pequenas histórias e florescendo relações. Só temos de estar atentos.
Disponível no Game Pass, para PC e Xbox Series X/S. Também na Switch e na PlayStation 5
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