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Clássico do cinema mudo, ‘O Fado’ vai ouvir-se pela guitarra de José Manuel Neto

Estreada em 1924, a curta-metragem está prestes a ser editada em DVD, depois de ter sido restaurada e digitalizada. Fomos às gravações da nova banda sonora e antecipamos o cine-concerto na Cinemateca.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
José Manuel Neto
Fotografia: Francisco Romão PereiraJosé Manuel Neto em estúdio, a gravar a partitura de 'O Fado'
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O Fado não tinha banda-sonora registada e José Manuel Neto nunca tinha composto uma. Realizado nos anos 20 do século passado pelo francês Maurice Mariaud, o filme inspirado no óleo A Severa, de José Malhoa, vai ser editado em DVD em conjunto com outro clássico mudo de Mariaud: Os Faroleiros. Enquanto não sai o registo, José Manuel Neto irá acompanhar ao vivo O Fado, na Sala M. Félix Ribeiro da Cinemateca, a 16 de Novembro.

No início de Setembro, fomos aos estúdios RedMojo, em Paço de Arcos, assistir à gravação da partitura para o filme O Fado. José Manuel Neto, um dos mais reputados músicos ao leme da guitarra portuguesa, guiado pelas suas notas e armado de perícia, ia integrando as suas composições nas imagens em movimento do filme mudo, uma obra com pouco mais de 20 minutos de duração. O produto final irá integrar a futura edição em DVD, uma das iniciativas do projecto FILMar – Digitalização do Património Cinematográfico, coordenado pela Cinemateca Portuguesa e financiado pelo fundo europeu EEA Grants, que visa restaurar e digitalizar cinema relacionado com o mar. Ou seja, O Fado (1924) apanhou a boleia do vento marítimo da edição em DVD de Os Faroleiros (1922) para chegar a este bom porto. Além destes dois filmes, Mariaud realizou mais um em Portugal: As Pupilas do Senhor Reitor (1924).

José Manuel Neto
Fotografia: Francisco Romão PereiraJosé Manuel Neto em estúdio

O lançamento do DVD estava planeado para 16 de Novembro, Dia Nacional do Mar, mas foi adiado. No entanto, nesse mesmo dia haverá a oportunidade de assistir ao cine-concerto, numa sessão onde José Manuel Neto estará apresentar a sua banda sonora, acompanhado por Nelson Aleixo na viola. A exibição de O Fado (uma cópia restaurada e digitalizada pela Cinemateca) será precedida pelas curtas-metragens Portugal Desconhecido (1969), de Manuel Faria de Almeida, e Des Portugais (1970), de Jean Leduc.

O enredo de O Fado anda à volta de um ferreiro de Alfama que troca o conforto do lar pelas noites de boémia, envolvendo-se com uma funcionária do estabelecimento que frequenta. E é um filme que vai buscar inspiração a três obras: o quadro A Severa (1910), de José Malhoa; a pequena peça homónima de 1915, com apenas um acto, de Bento Mântua; e o poema "A Canção das Perdidas", de Augusto Gil.

Agora, José Manuel Neto também foi beber de outras criações para criar a nova partitura, em concreto linguagens do passado. “O filme como é passado nos anos 20, não fazia sentido estar a utilizar uma linguagem mais contemporânea. Eu sei que nesse tempo havia uma forma de tocar. Fui ouvir o Armandinho... transporta-nos logo para a Lisboa dos anos 20. Ouvir o Alfredo Marceneiro ou aquelas guitarras de Francisco Carvalhinho e Martinho d'Assunção… mal começam a tocar, somos logo automaticamente teletransportados para essa Lisboa”, explica à Time Out.

São vários os temas que compôs, que vão acompanhando “o registo emocional do filme”. Mas houve espaço para a improvisação. “Ainda hoje aconteceu aqui na gravação. Eu trazia uma música para um determinado tema e foi improviso. Foram perto de três minutos de improviso”, revelou. E o mesmo irá acontecer no cine-concerto. “Vou encontrar ali umas balizas, que tenham a ver com partes importantes do filme, e que convém sinalizar, mas depois na grande parte vai ser improvisado. E possivelmente sairão outras músicas.”

partitura
Fotografia: Francisco Romão Pereira

Actualmente o guitarrista está a preparar um novo álbum “que não tem nada a ver” com este regresso sonoro ao passado, embora esteja a amadurecer essa ideia. “É outro registo sonoro, mas já tinha pensado há algum tempo em gravar um disco que tivesse a ver com esta época, ainda nem sabia que ia musicar este filme. É possível que ainda fique mais interessado em criar coisas com este tipo de linguagem, para um disco só sobre esta Lisboa antiga.”

Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Rua Barata Salgueiro, 39. FILMar – Dia Nacional do Mar. 16 Nov (Qui) 19.30. 3,20€

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