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A 11.ª edição do projecto “A Arte Chega ao Colombo” inaugurou esta terça-feira, 27 de Julho, com a exposição “100 Anos Nadir Afonso”, uma celebração do centenário do pintor, arquitecto e ensaísta, que morreu em 2013, aos 93 anos, em Cascais. Patente na Praça Central até 12 de Setembro, a exposição conta com sete salas, que acolhem mais de 40 obras, incluindo 14 guaches inéditos, esboços de arquitectura e uma maqueta do Museu de Nadir Afonso, projectado em Chaves pelo arquitecto Siza Vieira. A entrada é livre.
A abertura ao público estava prevista acontecer em 2020, para assinalar o centenário do nascimento do artista, a 4 de Dezembro de 1920, em Chaves. Mas a pandemia forçou o adiamento. Agora, erguendo-se numa “cidade incerta”, como Nadir Afonso nomeou uma das suas últimas obras, a mostra retrospectiva apresenta-se acessível a todos, no âmbito do projecto integrante do Programa de Arte Pública da Sonae Sierra, que procura contribuir para a democratização da cultura através de exposições de qualidade em espaços públicos.
Figura de renome da arte contemporânea portuguesa, com uma obra pioneira e universal, Nadir Afonso revelou a sua aptidão para a pintura logo aos quatro anos, quando pintou, a vermelho, um círculo perfeito na parede da sala de casa. Quem o conta é a viúva do artista, Laura Afonso, curadora e presidente da Fundação Nadir Afonso, que nos faz a primeira de uma série de visitas guiadas já programadas. As próximas estão marcadas para 29 de Julho, 5 e 26 de Agosto e 9 de Setembro, sempre às 19.00. São gratuitas, mas deverá reservar online.
“Apesar da formação em arquitectura, a sua paixão foi sempre a pintura. Nadir sentiu, desde muito jovem, que esse seria o seu rumo”, partilha Laura, que o conheceu no último ano do liceu – ela tinha 17 e ele, aos 56, era já um pintor, arquitecto e pensador reconhecido. “Aos 12 anos, teve o seu primeiro cavalete e já pintava pelas ruas de Chaves. Antes disso, com nove anos, Nadir andava atrás do pintor lisboeta Alves Cardoso [que passava grandes temporadas em Chaves].”
Em 1938, Nadir Afonso inscreveu-se no curso de Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, mas nunca deixou de lado a sua paixão pela pintura, dedicando todas as manhãs às telas, mesmo quando foi para Paris, em França, para trabalhar com uma das figuras mais determinantes da arquitectura do século XX, Le Corbusier, que orientou a sua tese “A Arquitectura não é uma arte”. Laura esclarece: “A arquitectura não o satisfazia. Há uma relação muito íntima entre um pintor e uma tela. Mas um arquitecto tem de gerir uma equipa e lidar com a burocracia da realidade. Nadir não tinha esse espírito.”
Desenvolvendo um percurso artístico diversificado, que se distingue por diferentes períodos criativos, Nadir só passou a dedicar-se em exclusivo à pintura a partir de 1965. Dois anos depois, em 1967, foi distinguido com o Prémio Nacional de Pintura, ao qual se seguiu, em 1969, o Prémio Amadeo de Souza-Cardozo. Até ao fim da sua vida, em 2013, trabalhou activamente na produção artística, destacando-se no panorama internacional no âmbito do abstracionismo geométrico e como parte do grupo da Galeria Denise René, orientado na procura da arte cinética. “Na pintura, as cidades são talvez o que mais o identifica”, diz Laura.
É precisamente na série “Cidades” de Nadir Afonso que se inspira o museu temporário projectado por Diogo Aguiar Studio na Praça Central do Colombo. Formalizado com cubos de grandes dimensões, que se relacionam com as obras artísticas expostas, o espaço evoca as ruas, praças e edifícios de cidades como Lisboa, retratada em “Rossio” (1968), uma de 20 pinturas originais, a que se juntam ainda 14 guaches apresentados pela primeira vez ao público, desde “Varanasi” (1996) e “Cristália” (1999) a “Regresso de Cibele” (2008) e “Margem Sul” (2010).
Há ainda um espaço dedicado aos esboços de arquitectura de Nadir, bem como à maqueta do Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, projectado pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira e inaugurado em Chaves, em 2016; e uma sala multimédia, onde se pretende mostrar o movimento da sua arte. Numa experiência artística verdadeiramente imersiva e interactiva, cinco obras do artista são interpretadas e animadas em 3D, recorrendo a tecnologias de videomapping num jogo de luz em consonância com a música e o ambiente.
Centro Colombo. Até 12 de Setembro. Entrada livre. Visitas guiadas: 29 de Julho, 5 e 26 de Agosto e 9 de Setembro, 19.00.
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