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O teatro de revista deu os primeiros passos em Portugal na segunda metade do século XIX. Com origem em França, o género foi bem recebido e, mais de 100 anos depois, continua a encontrar novas formas de chegar ao público nacional. Quase uma década depois de Tropa-Fandanga (2014), o Teatro Praga volta a explorá-lo em Bravo 2023!, espectáculo que se estreia no São Luiz – Teatro Municipal a 13 de Dezembro e que faz um balanço do ano. Fica em cena até 22 de Dezembro.
Tropa-Fandanga comemorava os 40 anos do fim da Guerra Colonial e os 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial, e era o que então designaram por “actualização” do género. “[Em Bravo 2023!,] foi voltarmos à revista, a este género, tentando cumprir o formato da revista, estando próximos da génese da revista, mas, de alguma forma, utilizá-la para pensar e criticar o que é”, diz agora o co-criador e actor André e. Teodósio.
Duas semanas antes da estreia no São Luiz, é um fim de tarde chuvoso e os ensaios decorrem num estúdio em Marvila. A sala é ampla, as paredes são brancas e os actores preparam-se para dar vida ao espaço com o primeiro acto. Os adereços são poucos, os figurinos faltam e nem todas as músicas se vão ouvir, mas faz-se o espectáculo. À moda da revista à portuguesa, as cenas, intercaladas por momentos musicais e de dança, abraçam uma crítica social e política de vários acontecimentos de 2023. Fazer um teatro de revista “é como montar um puzzle”. “Tens de falar sobre Portugal antigo e Portugal moderno, tens de ter cenas de rua, danças, cenas oníricas ou mitológicas…Tens uma lógica muito específica.”
Aqui, faz-se a revisão do ano que passou e, por isso, “tem a ver com perceber qual é o menu, perceber o que está a acontecer durante o ano com estes tópicos e, depois, começar a trabalhar cada uma das cenas. As cenas são como se fossem espectáculos, portanto, na verdade, é um espectáculo que tem muitos espectáculos lá dentro”, continua André e. Teodósio, realçando a complexidade do género. A peça assenta em “muitas temporalidades ao mesmo tempo, que é a temporalidade da revista, que é uma temporalidade que tem 100 anos, de um formato específico”; e, por outro lado, “estás a trabalhar com o hiato de um ano com as notícias do mundo e de Portugal, e depois também com a temporalidade imediata, que é naquele dia ou naquela semana poder estar a acontecer alguma coisa nova”, explica.
A André e. Teodósio, Cláudia Jardim, Diogo Bento, David Mesquita, Guilherme Leal, André Garcia, Joana Barrios, Jenny Larrue, Simão Telles, J. M. Vieira Mendes, Tiago Vieira, Sandra Rosado, e Joana Manuel, junta-se Marina Mota, que torna a sua experiência no teatro de revista numa mais-valia. “Queríamos que também tivesse ancorado a uma figura da revista, no próprio espectáculo, que tivesse essa experiência e que trouxesse o seu conhecimento e o seu capital simbólico”, diz.
Bravo 2023! é uma reinterpretação do teatro de revista, que não apaga o que os Praga querem ser enquanto colectivo artístico. “Acima de tudo é haver uma certa ideia de que o teatro experimental não pode passar por determinados formatos e nós questionarmo-nos sempre porque é que não pode. Portanto, estamos frente a esses formatos e queremos, de alguma forma, arriscar dentro deles”, releva o encenador. Além disso, numa altura em que “o tipo de atenção está cada vez mais cativo das redes sociais e numa aceleração muito grande”, a peça quer dar ao público a “experimentar cenas que são talvez um bocadinho mais longas e que tenham exigência de olhar”.
Apesar de ser “de alguma forma inusitado uma companhia de teatro experimental estar a fazer este género”, importa “experimentar novos formatos, novas coisas, amalgamar muitos tipos de informação diferentes, para tentar contribuir para uma libertação do próprio formato, do próprio tipo de humor e do próprio tipo de informação do qual se espera numa revista”. Agora num espaço que não pode, nem deve, definir-se apenas como mais um teatro de revista. Este é um teatro de revista, sim, mas à moda dos Praga.
Para André e. Teodósio, o trabalho da companhia passa por “tentar batalhar contra ditaduras invisíveis, sejam ditaduras que te obriguem a fazer de uma determinada forma, ou que te digam que não há outra forma de fazer, ou que não deves fazer sequer.” Que a haja no Teatro Praga, “uma contração de tudo, uma contração de pessoas, de tempos, de informações”.
São Luiz Teatro Municipal. 13-22 Dez. Ter-Sáb 20.00, Dom 17.30. 12€-15€
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