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As expectativas estavam altas, mas ninguém arriscava grandes previsões, já que a Michelin se tornou perita em dar o inesperado. Na primeira gala do guia Michelin dedicado em exclusivo a Portugal, Vítor Matos foi o nome que se destacou ao conquistar as duas estrelas Michelin para o Antiqvvm, no Porto, e ainda uma estrela para o 2 Monkeys, que abriu em Lisboa, e que conta também com Francisco Quintas na chefia. Numa cerimónia apresentada por Catarina Furtado no NAU Salgados Palace & Congress Center da Guia, em Albufeira, João Sá (Sála), Rodrigo Castelo (Ó Balcão) e Octávio Freitas (Desarma) também conquistaram uma estrela. Francisco Quintas com 25 anos torna-se assim no mais jovem chef a receber uma estrela Michelin em Portugal.
Na segunda vez em que subiu ao palco, para receber a segunda estrela para o Antiqvvm, a única novidade nesta categoria, Vítor Matos destacou como o seu restaurante "é uma escola", feita por uma equipa jovem que se tem vindo a renovar, e com uma "cozinha delicada e com profundidade de sabor". O objectivo, disse, é fazer com que "as pessoas não se esqueçam da experiência" à mesa.
Rodrigo Castelo não escondeu que há muito procurava a estrela e que o caminho agora faz-se “melhorando todos os dias com humildade”, soltando um “viva ao Ribatejo”. Já João Sá contou que passou um ano desde que perguntou à equipa se o que queriam era a estrela. Tinha apenas três condições para isso: se se divertissem a fazê-lo, se fossem felizes nesse caminho, “sem obsessões e sem stress”. “Quero agradecer ao Guia por ter olhado para um restaurante independente, pequenino, mas ambicioso”, sublinhou, agradecendo também à mulher, Marlene Vieira, e expressando o desejo de para o ano também ela poder receber a sua estrela.
Logo no início da cerimónia, o director internacional do Guia Michelin, Gwendal Poullennec, garantia que a noite não seria “curta em surpresas”, destacando “o momento muito importante para Portugal e para o Guia Michelin”. “Os nossos inspectores tiveram um imenso prazer a fazer esta nova selecção”, disse ainda, explicando que o Guia Michelin tem vindo a recomendar restaurantes desde 1910 e nos últimos anos [os inspectores] têm vindo a observar no nosso país um grande desenvolvimento. Portugal, disse, vive “um período de desenvolvimento, diversificação e prosperidade”. Já António Costa e Silva, ministro da Economia, frisou "o passo absolutamente extraordinário para colocar Portugal" num lugar de destaque como destino turístico.
As novas entradas para o Guia Michelin
Nas estrelas verdes, onde se pretende destacar uma abordagem sustentável à gastronomia, foram apenas dois restaurantes premiados: a Malhadinha Nova (João Sousa, Albernoa) e o Ó Balcão (Rodrigo Castelo, Santarém).
Na categoria que aponta os restaurantes com a melhor relação qualidade/preço, os Bib Gourmand, entraram para a lista: Flora (João Guedes Ferreira, Viseu), Inato Bistrô (Tiago Costa e Miguel Rodrigues, Braga), Norma (Hugo Alves, Guimarães), O Pastus (Annakaren Fuentes, Paço de Arcos), Olaias (Mónica Gomes, Figueira da Foz), Oma (Luís Moreira, Baião), Patio 44 (Simão Soares e Afonso Ramos, Porto) e Poda (João Narigueta, Montemor-o-Novo). Chamada a falar como forma de representar o grupo distinguido, Annakaren Fuentes lembrou o marido, Hugo Dias Castro, que morreu em Dezembro. "O Pastus nasceu de um sonho que os dois tínhamos, sonho de termos o nosso espaço, espaço onde ele pudesse cometer as loucuras gastronómicas como só ele sabia", recordou, emocionada.
Os primeiros chefs a subirem ao palco foram aqueles que viram os seus restaurantes entrarem para o guia como recomendados. São 21 os novos restaurantes recomendados: Apego (Aurora Goy, Porto), BAHR (Nuno Dinis, Lisboa), Blind (Rita Magro, Porto), Bonfim 1896 with Pedro Lemos (Gonçalo Pinto, Pinhão), Casa do Gadanha (Ruben Trindade Santos, Estremoz), Cavalariça (Bruno Caseiro, Comporta), Downunder by Justin Jennings (Justin Jennings, Lisboa), Fago (José Diogo Branco, Marvão), Fauno (Tiago Amorim, Porto), Gastro by Elemento (Ricardo Dias Ferreira, Porto), Horta (Santiago Agnolles, Funchal), Lamelas (Ana Moura, Porto Covo), MA (Ricardo Casqueiro, Coimbra), Noélia (Noélia Jerónimo, Cabanas de Tavira), Numa (Nuno Martins, Portimão), O Palco (Marco Almeida, Coimbra), Quinta do Tedo Família Geadas (Óscar Geadas, Folgosa), Seiva (David Jesus, Leça da Palmeira), Sem (Lara Prado e George Mcleod, Lisboa), Sem Porta (Tiago Maio, Comporta) e Vinha (Henrique Sá Pessoa e Jonathan Seiller, Vila Nova de Gaia).
O prémio para serviço de sala foi para Pedro Marques do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia. “Não estava à espera”, reagiu Pedro Marques, mostrando-se “muito contente pelo reconhecimento incrível”, mencionando que “este é um prémio colectivo”. Leonel Nunes, do Il Gallo D’Oro, no Funchal, é o sommelier do ano. Rita Magro do Blind, restaurante de Vítor Matos no Porto, é a jovem chef do ano.
Portugal contava até agora com sete restaurantes com duas estrelas Michelin, 29 com uma estrela (depois do fecho do Eneko Lisboa no final de 2023), 37 Bib Gourmand e 90 recomendados. Este ano, perderam a estrela dois restaurantes: o Vistas, em Vila Nova de Cacela, que viu sair o chef Rui Silvestre para o Fifty Seconds; e a Casa da Calçada, em Amarante, que está encerrada para obras.
Foi na última gala ao lado de Espanha, em Novembro de 2023, que Gwendal Poullennec anunciou que aquela seria a última vez que os dois países celebrariam juntos, já que Portugal passaria a ter o seu próprio evento. Soube-se, entretanto, que a mudança de estratégia se deveu a um investimento do Turismo de Portugal de cerca de 400 mil euros.
Os restaurantes Michelin em Portugal
Duas estrelas
Alma (Henrique Sá Pessoa, Lisboa)
Antiqvvm (Vitor Matos, Porto)
Belcanto (José Avillez, Lisboa)
Casa de Chá da Boa Nova (Rui Paula, Leça da Palmeira)
Il Gallo d’Oro (Benoit Sinthon, Funchal)
Ocean (Hans Neuner, Alporchinhos)
The Yeatman (Ricardo Costa, Vila Nova de Gaia)
Vila Joya (Dieter Koschina, Albufeira)
Uma estrela
100 Maneiras (Ljubomir Stanisic, Lisboa)
2 Monkeys (Vítor Matos e Francisco Quintas, Lisboa)
A Ver Tavira (Luís Brito, Tavira)
Al Sud (Louis Anjos, Lagos)
Cura (Pedro Pena Bastos, Lisboa)
A Cozinha (António Loureiro, Guimarães)
Bon Bon (José Lopes, Carvoeiro)
Esporão (Carlos Teixeira, Reguengos de Monsaraz)
Desarma (Octávio Freitas, Funchal)
Encanto (José Avillez e João Diogo Formiga, Lisboa)
Euskalduna Studio (Vasco Coelho Santos, Porto)
Epur (Vicent Farges, Lisboa)
Eleven (Joachim Koerper, Lisboa
Fifty Seconds (Martin Berasategui em 2023, Rui Silvestre a partir de Março, Lisboa)
Feitoria (André Cruz, Lisboa)
Fortaleza do Guincho (Gil Fernandes, Cascais)
G Restaurante (Óscar Gonçalves, Bragança)
Gusto by Heinz Beck (Heinz Beck, Almancil)
Kanazawa (Paulo Morais, Lisboa)
Kabuki (Sebastião Coutinho, depois da saída de Paulo Alves)
LOCO (Alexandre Silva, Lisboa)
LAB by Sergi Arola (Sergi Arola, Penha Longa, Sintra)
Le Monument (Julien Montbabut,Monumental Palace, Porto)
Mesa de Lemos (Diogo Rocha, Viseu, Passos de Silgueiros)
Midori (Tiago Santos, Penha Longa, Sintra)
Ó Balcão (Rodrigo Castelo, Santarém)
Pedro Lemos (Pedro Lemos, Porto)
Sála (João Sá, Lisboa)
Vista (João Oliveira, Portimão)
Vistas (saiu Rui Silvestre, Algarve)
Vila Foz (Arnaldo Azevedo, Porto)
William (Luís Pestana, Funchal)
Estrela Verde
Esporão
Quinta de Lemos
Il Gallo d'Oro
Malhadinha Nova
Ó Balcão
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