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Em vésperas de apresentar uma colecção na ModaLisboa, a primeira depois da participação no concurso Sangue Novo, Diogo Mestre não tem como manter o estúdio arrumado. Há uma estante, essa sim relativamente organizada, onde colocou as peças já prontas – malhas, imensas malhas, todas elas a fazer lembrar os casaquinhos das avós, com botões dourados e mangas justas ao pulso. Serão uma parte importante de "Antes que te esqueças de mim", mais uma viagem ao sítio de onde nunca saiu, o Alentejo.
"Desde a primeira colecção que trabalho sobre a nostalgia. É comum a muitos criadores, mas a minha nostalgia está completamente parada na infância e naqueles anos em que fazia vestidos com toalhas. É como se fosse um paraíso parado no tempo", começa por dizer, à conversa com a Time Out. O paraíso em questão é Serpa, cidade do interior onde nasceu e cresceu. Aos 17 anos veio estudar para Lisboa. O design de moda tinha sido, desde sempre, uma vocação flagrante (e sem qualquer antecedente na família, além das máquinas Singer de ambas as avós), mas por uma décima teve de accionar o plano b – escultura, na Faculdade de Belas-Artes. Anos depois, o mestrado veio finalmente pôr tudo no sítio certo.
"Sinto que cheguei ali com um lado experimental muito desenvolvido – os tricots, os fios aplicados à mão, o tear. E foi com a colecção do final do primeiro ano que me candidatei ao Sangue Novo, faz agora um ano. Passei à segunda fase e aí dediquei-me por completo às manualidades. Na segunda fase, a Bárbara e a Isza, que têm trabalhos incríveis, ficaram com os prémios. Mas depois disso, a ModaLisboa contactou-me a dizer que tinha gostado muito do meu trabalho e a convidar-me para passar para a Workstation", resume. Agora sem estar à mercê de nenhum júri, Diogo – ou melhor, o Mestre Studio – volta ao Pátio da Galé no sábado, dia 12 de Outubro, ao início da tarde.
Diz que abriu um baú – em nada literal – de onde tirou memórias, nem todas boas, e objectos, todas eles com lugar na casa de muitas avós por este país. Latas cheias de botões antigos, gavetas com naperons e bibelôs de louça ajudam a montar o cenário. "Eram referências que tinha guardadas e que vou reproduzir ao nível das silhuetas e de alguns detalhes. No fundo, peguei em coisas que poderia encontrar na cada da minha avó e dei-lhes um twist para encaixá-las na minha actualidade", continua.
Um guarda-roupa de menino, rico em texturas e peças de conforto, mas onde cabem também blusas e casacos cropped e um toque boémio. É a nostalgia de uma infância no campo trazida para a contemporaneidade. "Por mais que nem sempre tenha gostado de viver no Alentejo, é lá que está tudo o que eu acho bonito. Adoro a cidade, mas não há nada como estar parado, em silêncio, a olhar para uma seara ao vento. E é isso que me faz pensar em certos detalhes – como é que a luz funciona sobre o tecido, qual é o movimento, como é que vai ser o toque da peça. Mais do que ser fashion, tem de ser prazeroso."
Aos 22 anos e fixado em Lisboa, Diogo quer levar o Mestre Studio para a frente. Esta colecção, o Verão de 2025, é um ponto de viragem para a marca, com algumas das peças a poderem ser reproduzidas, ainda que em pequenas quantidades, e vendidas. Criar clientela é um dos primeiros passos para conseguir montar uma estrutura financeiramente autónoma e sustentável, o que ainda não acontece. No estilo, andará sempre entre o infantil e a sua versão mais sexy, entre o moderno e o pitoresco, mas sem nunca perder de vista o Alentejo.
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