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Foi no final dos anos 30 que a família Addams se deu a conhecer na secção de banda desenhada da revista The New Yorker. Nas décadas seguintes, fizeram-se filmes, séries e desenhos animados, escreveram-se livros e encenaram-se musicais. A família composta por Morticia e Gomez, os filhos Wednesday e Pugsley, o tio Fester e a avó, o mordomo Lurch e a sua mão ajudante, Thing (ou Coisa, em português), cresceu muito para lá dos cartoons em que foram apresentados pela primeira vez. Aliás, Wednesday cresceu ao ponto de se ter vindo a apaixonar por Lucas, um rapaz totalmente normal e, ao que parece, com muito pouco em comum com a família Addams. E é quando Lucas e os pais vão jantar a casa de Morticia e Gomez que a excentricidade a que nos acostumaram vem ao de cima. Se a casa no meio de um cemitério, um mordomo zombie ou a loucura dos anfitriões não os afugentar, será que é possível que Wednesday e Lucas tenham o seu final feliz?
Esta é a premissa do musical que Ricardo Neves-Neves estreia, esta quarta-feira, no Teatro Maria Matos e que vai ficar em cena até 4 de Maio. A Família Addams, que conta com libreto de Marshall Brickman e Rick Elice e música e letras de Andrew Lippa, teve a sua primeira apresentação na Broadway, em 2010, e é agora adaptada pelo encenador de Noite de Reis e A Médica, a convite da Força de Produção. “No caso de A Família Addams, é um musical, uma comédia e tem um ambiente obscuro. São zonas onde eu já trabalhei, zonas que me agradam e estão também relacionadas com o meu gosto, com a minha experiência. E fiquei muito feliz com o convite, porque me permite continuar a fazer este tipo de trabalho relacionado com a música e a voz cantada, e trabalhar com músicos e cantores”, diz Neves-Neves, após um ensaio no Maria Matos.

A história centra-se em Wednesday e na sua relação amorosa com Lucas, que se prepara para conhecer a família Addams. A ideia de organizar um jantar para receber o rapaz e os seus pais não agrada Morticia, que desde início se sente descontente pelo facto de os convidados serem aborrecidamente normais. O que ela não sabe é que a filha aceitou casar-se com Lucas e decidiu contar apenas ao pai, Gomez, que nunca esconde nada da mulher. Segue-se então uma noite atribulada, em que peripécias se sucedem atrás de peripécias e mentiras atrás de mentiras.
As personagens são exactamente como as conhecemos: bizarras, sádicas, masoquistas, com um gosto especial pelo macabro e pelo grotesco. Por isso, dar-lhes forma não foi propriamente um desafio. “Existe a série dos anos 60, os filmes dos anos 90, as bandas desenhadas, agora mais recentemente, com dois ou três anos, a série de Tim Burton sobre a Wednesday. Já vimos as personagens em t-shirts, são personagens que nós conhecemos muito bem e, por isso, a construção deve andar à volta daquilo que já é muito conhecido”, explica o encenador, que até pegou nalgumas incoerências das séries e filmes para construir a narrativa. Um desses exemplos é o facto de, a dado momento, Morticia e Gomez discutirem acerca da incerteza sobre de quem é que a avó, a Grandmama, é realmente mãe – se de Morticia ou de Gomez.

Mas, ainda que o público possa conhecer bem a família Addams e que esta peça seja uma adaptação, há sempre maneira de lhe dar uma linguagem própria e conferir à obra uma nova dimensão. Para Ricardo Neves-Neves, a música desempenha aqui um papel importante – “O primeiro trabalho que fiz, para além da leitura do texto, foi conhecer bem as músicas, porque as músicas encaminham-nos muito no que são as características de cada cena e a forma de expressão das personagens. Contrariar isso é contrariar o núcleo central”, acredita.
É desde o primeiro momento, logo a seguir à subida da cortina, que a componente musical se faz sentir. Com duas grandes árvores de um lado e de outro do palco e sob a lua cheia, o cenário faz lembrar um cemitério, de onde emergem os membros da família Addams, em rendas, fatos e vestidos pretos. À medida que cantam acerca do que significa ser um Addams, fazem-se acompanhar de oito mortos-vivos que, pela roupa que envergam, aparentam ter morrido em séculos passados. Nas cenas seguintes, continuam as coreografias cantadas, ora sobre como o amor de Wednesday por Lucas a faz rir e chorar, ora sobre como o tio Fester se apaixonou pela lua.

Depois, o tipo de comédia apresentada é também uma extensão daquilo que é o sentido de humor do próprio Ricardo Neves-Neves. “À medida que vou vendo as coisas, vou imaginando a cena e vou imaginando com as minhas capacidades, com o meu imaginário, com as minhas referências, com o meu sentido de humor. Não consigo ter o sentido de humor de outras pessoas porque tenho o meu, não consigo imaginar o que vai na cabeça das outras pessoas”, afirma. Além de uma e outra piada que vão pontuando a história ou o ocasional grunhido de Lurch, a narrativa é apoiada no humor físico, que percorre inúmeros momentos da peça.

O elenco conta com nomes como Ruben Madureira, Brienne Keller, Artur Costa ou Sofia Loureiro, sendo que a direcção musical do espectáculo ficou a cargo de Artur Guimarães, a coreografia de Rita Spider e a adaptação das canções de Michel Simeão.
Teatro Maria Matos (Roma). 5 Mar-4 Mai. Qui 19.00, Sex 21.00, Sáb 16.30 e 21.00, Dom 16.30. 20€-22€
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