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Longe vão os tempos em que o Mattë se apresentava como um restaurante onde carne maturada e sushi conviviam na mesma carta. No último ano, afirmou-se como um restaurante de fine dining japonês, muito graças ao trabalho do chef Habner Gomes. A carne desapareceu e o foco ficou apenas na cozinha japonesa com o menu omakase a destacar-se. No final do ano, o restaurante de Santos deu mais um passo nesse caminho e, aproveitando o balcão existente, criou o menu kaiseki com 12 momentos, disponível apenas para oito clientes de cada vez.
As ambições não são pequenas e Habner Gomes, um apaixonado pela gastronomia japonesa, não as enconde, embora também não queira fazer disso bandeira. Trabalha com olho no Guia Michelin, mas é o trabalho de todos os dias que o move, especialmente desde que ganhou maior palco ao balcão. “O nosso cliente sempre pediu mais balcão, mas era impossível porque eu não conseguia dar serviço e fazer balcão”, começa por contextualizar o chef, explicando que só uma nova organização no restaurante permitiu dar o passo arrojado de servir um menu exclusivo kaiseki, um menu de degustação tradicional do Japão, feito com produtos de época.
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“No menu omakase, pedimos aos clientes para confiarem no chef. Aqui, pedimos para confiarem na mesma, mas o kaiseki tem por base as estações do ano e o produto sazonal, do peixe aos vegetais”, aponta Habner, que já trabalhou, por exemplo, na Taberna Hikidashi, em Campo de Ourique, e no Yakuza, na Avenida da Liberdade. “Há uns oito anos, quando trabalhei no primeiro balcão, no Hikidashi, os clientes ainda estranhavam ou ficavam meio tímidos, agora é o contrário.”
A proximidade que a barra permite é, para o chef, crucial na relação de confiança entre quem serve e quem come. “Às vezes, uma simples salada pode demorar horas a fazer e se eu servir para o cliente e não falar nada, não explicar o que está ali, o cliente não vai entender e ainda se vai questionar porque pagou tão caro por isso. Quando tem uma explicação, quando se entende o significado daquilo, tudo muda”, acredita.
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Com 12 momentos (125€), o novo menu foi pensado de raiz. “Eu vou servir não só cru, mas também cozido, grelhado, várias técnicas. O menu Kaiseki normalmente tem 12 técnicas, mas isso tem que ser no Japão, aqui é impossível”, afirma, justificando com o tempo que uma refeição assim pode demorar. No Mattë, o menu é pensado para não durar mais de duas horas. Começa com um momento simples que prepara o palato para a experiência, passa por um caldo quase a fazer lembrar um ramen, há um prato de sashimi, até chegar aquele que é um dos momentos mais esperados, os niguiris com uma selecção de peixes – lírio dos Açores, dourada, pregado e toro são habituais. A refeição termina, normalmente, com um pudim de gengibre que é uma receita de família do chef.
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Sendo um menu exclusivo dos poucos lugares ao balcão, é sempre preciso garantir a reserva.
Calçada Marquês de Abrantes, 22 (Santos). Ter-Qui 12.30-15.00/ 19.30-23.00, Sex 12.30-15.00/ 19.30-00.30, Sáb 19.30-00.30
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