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Ouvem-se os barulhos típicos de construção. No Parque Tejo, trabalha-se agora numa extensa laje onde em breve se vai erguer o altar-palco em que o Papa Francisco saudará o milhão e meio de jovens que se esperam em Lisboa para as Jornadas Mundiais da Juventude, em Agosto.
"Estamos a construir a laje de assentamento de todos os pilares que suportarão as várias plataformas do palco”, explica António Lamas, responsável máximo na SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana, a empresa municipal de Lisboa responsável pelas obras no Parque Tejo, onde decorrerá grande parte do evento, numa visita de imprensa esta quarta-feira. A área do recinto tem quase 100 hectares, mas são aqueles cinco mil metros quadrados que têm dado que falar.
Sabe-se desde 2019 que a capital portuguesa é a cidade escolhida para a 16.ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude, mas só agora se começam a revelar detalhes da preparação para o evento católico, adiado um ano. Nos últimos dias, a polémica instalou-se ao ser tornado público que o altar-palco em que o Papa vai celebrar a missa final da Jornada da Juventude vai custar 4,2 milhões de euros (valor sem IVA), num ajuste directo da SRU à construtora Mota-Engil. Esta quarta-feira, em conferência de imprensa, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, respondeu às questões sobre o caso remetendo para os requisitos do promotor. “A Fundação JMJ, em diálogo com a Santa Sé, estabeleceu um conjunto de requisitos”, disse o autarca. Entre eles estão a capacidade em cima do palco para 2 mil pessoas (entre bispos, coro e orquestra), a visibilidade do palco para a maioria dos peregrinos (o palco será elevado a 9 metros do chão), dois elevadores para mobilidade reduzida ou uma escadaria central para acesso de jovens ao palco.
O palco ficará para a cidade, mas ainda não é certo que eventos se possam realizar ali no futuro. Já sobre o ajuste directo à Mota-Engil, Filipe Anacoreta Correia descreve a construtora como “a empresa que apresentou a melhor proposta em todas as fases do procedimento”, nas três rondas de consultas. O contrato, assinado a 13 de Janeiro, dá à construtura 160 dias para executar o projecto após a consignação da obra. "O contrato termina em Maio, mas eu acho que Junho é o mais prudente", afirma o responsável da SRU.
Polémicas de lado, o vice-presidente aproveitou também para esclarecer as responsabilidades da autarquia quanto ao evento que acontece de 1 a 6 de Agosto. Uma das principais competências da CML é “o grande momento que decorre entre sábado e domingo”, que implica a dormida de cerca de milhão e meio de jovens no Parque Tejo – e na qual a utilização das tendas é interdita, por indicação da Fundação JMJ em virtude da experiência nas edições passadas. Segundo um colaborador da SRU, João Pimentel, o recurso a tendas levantaria questões de segurança e impediria a densidade de ocupação que se espera conseguir naquele espaço. Os participantes ficarão por isso ao relento na noite de 5 para 6 de Agosto, no máximo abrigados com mantas e sacos-cama.
Na divisão de responsabilidades entre a Igreja, o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, o que cabe a esta última? Desde logo, a construção das infra-estruturas do recinto principal do evento, no Parque Tejo-Trancão, o que inclui a recuperação do aterro sanitário de Beirolas, o saneamento, o abastecimento de água e de energia, uma ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, o altar-palco e o recinto dos peregrinos. Também sob a responsabilidade da CML está a construção de um outro altar-palco, no Parque Eduardo VII, onde acontecerá a missa de abertura com o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, o acolhimento ao Papa e a Via Sacra. Além disto, a Câmara vai ainda produzir os três outros espaços principais das Jornadas, que ficam no Terreiro do Paço, Alameda Dom Afonso Henriques e Parque da Belavista.
Plano de mobilidade é responsabilidade do Governo
“É um momento sem paralelo, nunca ocorreu nada semelhante”, disse Filipe Anacoreta Correia. “Às vezes aqui na cidade de Lisboa temos grandes eventos, mas não atraem mais do que 80 mil pessoas, em situações excecionais 90 mil pessoas”, acrescentou. “Historicamente não há registo de terem atraído mais de 90 mil pessoas.”
Sobre o plano de mobilidade para o evento, "essa é uma matéria em que temos de avançar mais”, admite o vice-presidente da CML, questionado pela Time Out. “Aí o Governo tem um papel muito importante, porque ficou responsável pelo plano de mobilidade e esse aspecto é fundamental para depois termos concretizações na parte da mobilidade municipal, que é essencial”, diz o autarca. "Há um grande encorajamento a processos pedonais" por parte da Igreja, "mas é evidente que vai ser um tempo de grande pressão sobre a nossa rede de mobilidade na cidade de Lisboa e nós temos de estar preparados". "Temos estado a trabalhar nela, mas ainda a precisar de cruzar com o plano nacional de mobilidade”, conclui.
Quanto ao estado do solo onde antes era o Aterro Sanitário de Beirolas, Anacoreta Correia garante: "a informação que nós temos na CML sobre os estudos que foram feitos é que esse assunto está superado na zona de Lisboa”. “Toda a análise, toda a informação que temos sobre essa matéria vai no sentido de esses receios que havia estarem ultrapassados".
No total, para conseguir cobrir os custos da JMJ 2023, a Câmara Municipal de Lisboa vai gastar 35 milhões de euros. 21,5 milhões de euros são para o Parque Urbano Tejo-Trancão, o que inclui estudos, projectos e fiscalização (1,6 milhões de euros), reabilitação do aterro sanitário de Beirolas (7,1 milhões), ensaios e fundações (1,06 milhões), o altar-palco (4,24 milhões), infra-estruturas e equipamentos (3,3 milhões) e a ponte pedonal sobre o Rio Trancão (4,2 milhões).
Os restantes 13,5 milhões de euros são para os recintos do Parque Eduardo VII, do Terreiro do Paço, do Parque da Belavista, da Alameda Dom Afonso Henriques, e ainda para o reforço dos equipamentos nas áreas da Higiene Urbana, Regimento de Sapadores Bombeiros, Polícia Municipal e Protecção Civil.
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