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A concessão deste grande jardim com lagos, uma emblemática estufa do século XIX, árvores raras e uma singular colecção de cactos chegou a estar projectada para privados. Previa-se, então, a criação de um grande restaurante – que implicaria a demolição de um dos edifícios do antigo jardim zoológico (que ali chegou a funcionar, sim) –, quiosques, um auditório e um espaço de cowork. Mas uma petição pública, em 2021 e com perto de 12 mil subscritores, ajudou a travar a operação que "significaria acesso a carros, demolições e construções de edifícios enormes e desenquadrados”, lia-se no seu texto. Na próxima quarta-feira, em reunião de Câmara, a história da Tapada das Necessidades, na freguesia da Estrela, poderá mudar de vez, com a aprovação do financiamento da candidatura da Associação de Turismo de Lisboa para o projecto de reabilitação e dinamização da Tapada das Necessidades, com vista aos próximos três anos.
A concretizar-se este passo, as obras deverão começar muito em breve, envolvendo intervenções na vegetação, a reabilitação da estufa, da Casa do Fresco, dos caminhos do parque e da iluminação pública, dos sistemas de drenagem e das instalações sanitárias, tal como prevê o Plano de Salvaguarda e Gestão da Real Quinta das Necessidades. A cadeia de trabalhos prevê, ainda, a reabilitação do muro paralelo às ruas do Borja e Capitão Afonso Pala, bem como a criação de uma cafetaria e de um espaço para exposições, entre outros itens de ordem técnica. A obra, calculada em 19,3 milhões de euros, será financiada pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, construído a partir da aplicação da taxa turística a quem visita Lisboa.
Antes de ser posto em marcha, o plano será apresentado a diferentes entidades e à população. O objectivo é travar um processo aprofundado há décadas: a degradação do património, tanto o edificado como o botânico, classificado como de interesse público (com a desregulação provocada por espécies invasoras, por exemplo). Ao mesmo tempo, é um passo para manter a Tapada como um espaço destinado aos cidadãos e turistas que dela queiram usufruir, no seu sentido público.
282 anos de história, décadas de esquecimento
A Tapada das Necessidades foi criada em 1742, como espaço verde e local de caça para a família real. Na estufa, funcionava um jardim de Inverno para as plantas exóticas e flores coleccionadas pelo rei D. Pedro; e no reinado de D. Carlos, construiu-se a Casa de Regal, para que ali Dona Amélia tivesse o seu atelier. Ao longo do século XX, os edifícios tiveram diferentes usos e ocupações, mas, apesar de algumas operações de restauro, como a recuperação da estufa na década de 1930, os 10 hectares do parque entregaram-se ao esquecimento e à decadência de forma continuada.
Apesar do abandono visível, a Tapada das Necessidades continua a ser um local privilegiado de encontro e passeio dos lisboetas, escolhido tanto para piqueniques como aulas de yoga. Em 1910, o primeiro ano da República, o Governo Provisório proclamou: “A Tapada estará aberta ao público permanentemente, servindo para passeio (...) bem como para a lição das coisas”. E a população não quer que esta promessa seja quebrada.
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