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Comer em tempo de Covid: Patuá

Uma tasca macaense parece um sonho da era pré-Coiso. O regresso à Penha de França encantou.

Alfredo Lacerda
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Alfredo Lacerda
patuá
Mariana Valle Lima
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Faria sentido que Lisboa tivesse uns quantos bons restaurantes de cozinha macaense. A cozinha macaense será, com a de Goa, uma das mais originais fusões culinárias onde os portugueses participaram.

Sucede que restaurantes goeses em Lisboa há uma boa meia dúzia, macaenses nem por isso.

Nem em Portugal, nem em Macau. Os chineses de Macau borrifam-se para a herança lusa e os portugueses de Macau ficam encostados a ver a história passar. Há ainda algum folclore imposto por meia dúzia de regras definidas na transição do território para a alçada da China, como as fardas da PSP e os nomes das ruas em português, mas a comidinha é toda chinesa, com excepção do extraordinário Riquexó, a tasquinha da dona Aida Jesus, anciã com 104 anos.

Patuá
Mariana Valle Lima

Em boa hora, por isso, nasceu uma tasca macaense na fronteira entre os Anjos e a Penha de França. (Sim, outra vez a Penha de França. Viva a Penha de França. A Penha de França é, porventura, o bairro que melhores surpresas me tem dado nos últimos meses. Uma tasca macaense na Penha de França é uma coisa bela.)

À frente dos fogões está “o Xico”, contou quem serviu à mesa. Xico é filho de mãe macaense e tem avó chinesa. A fiscalização familiar do receituário é apertada. “Muitas vezes vai às compras e telefona à mãe e às tias para esclarecer dúvidas”, detalhou. Xico tem o prazer das suas origens (Patuá é uma referência ao crioulo macaense) e tem mais, porque domina outros territórios e é livre. Tanto toca a música da sopa tom yum tailandesa, como a da miso japonesa, como a de variados acepipes chineses, como o belíssimo peixe frito à moda de Cantão.

Foi por aqui que se começou um jantar recente e foi uma maravilha. O peixe do dia era cantaril e estava perfeito: frito inteiro, suculento por dentro, crocante por fora, apresentado na mesa erguido, teatral, a condimentá-lo um molho agridoce clássico e apropriado.

Patuá
Mariana Valle Lima

Não é um dos pratos fixos da carta, toda ela exposta nos vidros que forram a sala, reminiscências de outra tasca, eventualmente. E é também essa a beleza do Patuá. Xico gosta da aventura de mudar os pratos do dia, uma trabalheira só para verdadeiros apaixonados. Navegando pelo seu Facebook, percebi que lá caem tesouros raros e sazonais, de coração de atum a caranguejo de casca mole.

A terminar veio uma cabra à moda da tia Licínia, cabra mesmo, com notas chinesas. E o clássico dos clássicos da cozinha luso-chinesa: o minchi. Minchi é o bitoque macaense, uma coisa que parece ter sido inventada por uma concorrente do Masterchef Júnior, mas que nos enche de conforto: arroz, batatas fritas aos cubinhos, carne picada e um ovo estrelado por cima.

Em síntese. O Patuá é uma tasca asiática sem modernices, mas com autenticidade criativa. Come-se lá maravilhosamente e por um preço mais do que justo. Altamente recomendável. A revisitar muitas vezes.

Rua da Ilha de São Tomé, 10 A, Lisboa. 21 157 1942. Ter-Sex 19.00- 22.00. Preço médio: 15€

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