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Comida congelada de chef: nesta loja há pratos feitos por quem sabe para terminar facilmente em casa

Entradas, pratos e sobremesas, mercearia, charcutaria e vinhos. Na loja Chefs à Mesa, que abriu numa zona renovada de Entrecampos, seis nomes conhecidos da gastronomia nacional juntam-se para nos dar o melhor do seu mundo em casa.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Chefs à Mesa
Francisco Romão Pereira
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Se há coisa que a pandemia – e os seus confinamentos – nos deixou foi o hábito de comer em casa a comida de alguns dos nossos restaurantes preferidos. Até já podemos ter voltado a essas mesas, felizmente, mas nem por isso abandonámos o conforto de também encomendar o almoço ou o jantar. Ajuda que a oferta se tenha mantido, mas também aperfeiçoado. O projecto Chefs à Mesa é o mais recente exemplo: uma loja que reúne menus completos de seis chefs. Os pratos são congelados, prontos a terminar em casa, sem que seja preciso muito para brilhar à mesa.

A equipa é de luxo, com nomes incontornáveis da gastronomia nacional. Dos veteranos Miguel Castro e Silva do Casario e do deCastro Gaia, a norte, e também presente no Time Out Market, Vítor Sobral (Lota da Esquina, Tasca da Esquina, Taberna da Esquina) e o recém-estrelado Paulo Morais (Kanazawa), a Bertílio Gomes da Taberna Albricoque e Vítor Adão, do Plano e do Planto, há muito por onde escolher, de pratos a sugestões de ingredientes que os próprios usam nos seus restaurantes e que podem aqui ser comprados.

Chefs à Mesa
Francisco Romão Pereira

O mais fácil talvez seja imaginar uma refeição que cruze estes saberes e sabores. Começando com uns rissóis de berbigão de Bertílio (20,70€/seis unidades), mais uns croquetes de carne para fazer no forno de Castro e Silva (8,80€/seis unidades) – e ainda uns rissóis de carabineiro de Vítor Adão, se quiser subir o nível à mesa (15,80€/três unidades). Ainda sob a alçada de Adão, pode seguir para os principais com um arroz de salmonete (33,90€/duas doses) ou um cabrito assado, com feijão-verde e batata assada (33,90€/duas doses). Vítor Sobral propõe, por exemplo, um arroz de pato à antiga (19€/duas doses) ou um caril de lulas e camarão (22,50€/duas doses). Já Paulo Morais, aproxima-nos do Japão, como tem feito toda a sua vida, com propostas como ramen de pato confitado (22,60€/uma dose), yakisoba de camarão e ouriço do mar (18,80€/uma dose) ou enguia grelhada (28,30€/uma dose), unagui don, de seu nome. Castro e Silva, que desenvolve há anos uma linha de comida pré-feita, aposta em pratos e acompanhamentos de forma separada, multiplicando as opções em casa. Tanto se pode comer uma barriga de porco (11,50€/duas doses) com um arroz de forno (5€/duas doses), como uma vitela em vinho tinto (13,90€/duas doses) com um puré de batata trufado (6,60€/duas doses). 

No final, um docinho, como o brownie de chá verde de Paulo Morais (11,30€/duas doses), uma mousse de chocolate negro com morangos confitados de Vítor Sobral (6,80€/uma dose) ou um gelado feito na cozinha de Bertílio Gomes (20,50€/1L). É à escolha do freguês, para comprar ali ou encomendar para receber em casa, não fosse este o princípio da loja. 

Chefs à Mesa
Francisco Romão Pereira

“Eu posso ter seis chefs à minha mesa e fazer um brilharete. É sempre bom e fica bem”, diz, em tom de brincadeira, Rui Carmo, que criou o Chefs à Mesa com Carlos Fontão de Carvalho, um amigo de longa data, com quem partilha a paixão pela gastronomia. “Já tivemos um restaurante, em Lisboa. Sempre tivemos este bichinho da gastronomia e durante a pandemia surgiu esta ideia quando pensámos que íamos deixar de fazer aquilo que mais gostávamos”, conta. “Tivemos que arranjar uma solução e surgiu esta ideia, que não é inovadora em termos de comida congelada, mas é inovadora pelo facto de ser com os chefs. Reunir seis chefs não é fácil.” 

O sexto chef é Luccas Paixão, do Asoka Veggie Market, que apresenta vários pratos vegan e vegetarianos, que segundo Rui têm bastante saída. Há seis hambúrgueres (4,30€/duas unidades), opções de pratos compostos como uma versão 100% vegetal do beef Wellington, aqui apelidada de beet Wellington (11,80€), ou um empadão (7,50€/duas doses), feito a partir de lentilhas germinadas e tofu fumado, com um toque de vinho tinto.

Chefs à Mesa
Francisco Romão Pereira

“Nós deixamos a escolha dos pratos nas mãos dos chefs. A única coisa que dissemos na altura é que tínhamos de ter diversidade, eventualmente um ou outro cruzam-se com duas ou três coisas, mas nunca quisemos interferir”, revela Rui, explicando que foi preciso, ainda assim, pedir “coisas que não assustassem as pessoas quando vissem a embalagem”. 

Vítor Adão sabe do que Rui fala. “Tens de perceber se funciona e se é prático. Já várias vezes me aconteceu escolher pratos que depois não funcionam porque nem toda a gente é cozinheira”, aponta. Para aqui, escolheu pratos que dizem tanto de si, como do seu restaurante. Veja-se o caso do arroz de salmonete, servido no Plano, e aqui disponível para levar para casa, com a devida explicação para se finalizar sem grande dificuldade. Para o chef transmontano, entrar no Chefs à Mesa é também uma forma de combate ao desperdício nos seus espaços. “Há muito tempo que defendo que não conseguimos ter o melhor dos produtos sempre fresco sem que haja desperdício. A congelação, no fundo, evita que haja desperdício de produto que é premium. Os chefs usam do melhor produto e muitas vezes não conseguem aproveitar tudo da mesma forma”, explica. Pensar em refeições que possam ser congeladas, “de uma forma mais abrangente”, é por isso uma mais-valia. “Até porque isso permite-te ter o melhor produto da época e fazê-lo fora da época.”

Chefs à mesa
Francisco Romão Pereira

Ter uma oferta mais sustentável também foi uma preocupação de Paulo Morais, que até nas embalagens procurou opções biológicas e recicláveis. O desafio para sair da sua zona de conforto foi o que o levou a entrar na loja. “Eu gosto de desafios e já conheço o Rui há muitos anos, fiquei supercontente por ele querer colaborar comigo e poder de certa maneira ajudar neste projecto que me pareceu ser diferenciador”, afirma o chef, que não quis “fugir ao conceito japonês”. “Ainda ponderei ir para um conceito mais asiático, que seria muito mais fácil e abrangente, mas como hoje em dia estou focado na cozinha japonesa achei que faria todo o sentido ficar por aí. O desafio foi procurar aqueles pratos mais emblemáticos japoneses que pudessem ser comercializados congelados, percebendo como é que iriam funcionar para a pessoa”, acrescenta o chef, que no ano passado foi nomeado embaixador para a gastronomia japonesa pelo governo nipónico, garantindo que os seus pratos não são difíceis de fazer em casa. “Há sempre essa questão de como é que as pessoas vão conseguir, apesar de achar mais fácil fazer umas gyosas do que fritar uns rissóis. Não desfazendo, que eu adoro rissóis”, responde em tom de brincadeira. A ideia agora é ir mudando pratos conforme as estações, mas é preciso perceber primeiro a receptividade dos clientes. 

“Penso que se as pessoas procederem, minimamente, como recomendado, as coisas correm bem”, diz Miguel Castro e Silva, que começou “há uns 15 anos, no Porto, uma linha de comida takeaway”. “Tenho estado a desenvolver algumas coisas com base um bocadinho na experiência que tenho do passado. O tempo passa e há sempre novas ideias e melhorias para fazer”, ressalva. A pensar no cliente que não terá o chef em casa, Castro e Silva preparou, por exemplo, salgados que não têm de ser fritos, mas finalizados no forno, mas também uma base de pimento e tomate para se fazer um arroz ou massa. “Às vezes em casa, picar meia cebola, um quarto de pimento para um arroz para duas ou três pessoas não dá jeito. Ali, já tem tudo pronto. E o que quero fazer é criar outras bases.”

Chefs à Mesa
Francisco Romão Pereira / Time Out

O chef deixa ainda a dica para se usar esta base numa massa: “Eu gosto muito de cozer massas directo, cozinhá-las como se fosse um arroz, fica muito bom. Mete-se a base, a massa e acrescenta-se dois ou três copos de água, vai mexendo de vez em quando e passado 15 minutos tem uma massa maravilhosa”.

Por agora, o leque dos chefs está fechado. Rui sabe que falta representação feminina. Justa Nobre esteve para entrar, mas por motivos pessoais acabou por saltar fora. O espaço, que junta ainda aos congelados, mercearias, vinhos e outras sugestões de cada chef, é limitado. Correndo bem, quem sabe não abram outras lojas, com outros chefs. 

Rua Sanches Coelho, 4C (Entrecampos). 217 960 001. www.chefsamesa.com. Seg-Sex 10.00-22.00, Sáb 10.00-14.00

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