[title]
A linguagem é o que projecta os nossos pensamentos, ideias e sentimentos para o mundo, e é graças a ela que conseguimos comunicar uns com os outros. Mas foram precisos muitos milhões de anos para o cérebro humano se tornar o órgão complexo que conhecemos – e que continuamos a estudar – hoje. É precisamente sobre essa evolução e as principais etapas de aquisição da linguagem, processo que começa ainda no útero, de que nos fala a nova exposição do Pavilhão do Conhecimento. Dividida em seis núcleos distintos, uns mais interactivos do que outros, “Talking Brains – Programados para Falar” convida-nos a descobrir a riqueza da língua – verbal, visual e visuo-motora –, e a testar as nossas competências linguísticas.
![Talking Brains](https://media.timeout.com/images/106142461/image.jpg)
Com consultoria científica do investigador Wolfram Hinzen, da ICREA – Instituição Catalã de Pesquisa e Estudos Avançados e da Universidade Pompeu Fabra, esta nova exposição – patente até 1 de Setembro – resulta de um acordo celebrado entre o Pavilhão do Conhecimento e a Fundação “la Caixa”, para impulsionar a colaboração em projectos e acções conjuntas que promovam a cultura científica e tecnológica na Península Ibérica. “É uma versão itinerante de uma versão maior que esteve na CosmoCaixa [Museu de Ciência em Barcelona]”, esclarece Teresa Carvalho, do departamento expositivo, que acompanhou a montagem e a adaptação para português de todos os conteúdos, também disponíveis em inglês.
![Talking Brains](https://media.timeout.com/images/106142456/image.jpg)
À entrada está a silhueta de um cérebro e, a brilhar de forma intermitente, as suas sinapses, os pontos de contacto dos neurónios, que ajudam o nosso sistema nervoso a processar, interpretar e modificar as informações que recebemos.”Que partes do nosso cérebro precisamos para falarmos uns com os outros? Como é que este nosso cérebro fabuloso evoluiu para que seja possível entendermos o outro, o mundo e nós próprios? É também sobre estas questões que esta exposição se debruça”, adianta Mariana Cardoso, que co-orienta com Teresa esta nossa visita e nos chama a atenção para um vídeo que ensina, por exemplo, que o tálamo intervém na coordenação e regulação da rede linguística, e o cerebelo na memória, na leitura e na articulação da linguagem.
O cérebro humano é complexo... e fabuloso
Se estiver a ficar confuso, não se preocupe. Nem os especialistas sabem tudo: estamos sempre a aprender coisas novas sobre o cérebro, que é, aliás, capaz de se adaptar à medida que aprendemos coisas novas. A esse fenómeno chama-se neuroplasticidade, e há muitas formas de a reforçar, desde exercitar-se regularmente e descansar quando precisa até desafiar as capacidades do órgão, através, por exemplo, da aprendizagem de uma nova língua. É verdade, sabia que um cérebro bilíngue tem mais flexibilidade cognitiva e um declínio menos acelerado? E, espante-se, há mais de 7000 línguas vivas em todo o mundo. Poderá traçar as origens de 850 no primeiro núcleo da exposição, “Unidade na Diversidade”, onde se encontra uma “árvore genealógica da linguagem”.
![Talking Brains](https://media.timeout.com/images/106142463/image.jpg)
Há muitas outras espécies no reino animal capazes de comunicar, como as abelhas (que são capazes de dizer umas outras onde estão as melhores flores), mas isso não é exactamente o mesmo que a linguagem humana, que é recursiva e nos permite expressar um número infinito de mensagens, mesmo que nunca as tenhamos dito ou ouvido anteriormente. Para percebermos como chegámos até aqui – isto é, à impressionante rede de circuitos nervosos que se interligam e nos distinguem de outros animais em termos de aptidões cognitivas –, o segundo núcleo, “A Evolução do Cérebro Linguístico”, convida-nos a explorar, através de réplicas e vídeos, a evolução do ser humano, do Australopithecus afarensis até ao Homo sapiens, a única espécie de hominídeos que sobreviveu até hoje e que surgiu em África passados oito milhões de anos de evolução desde o último antepassado comum com os chimpanzés.
![Talking Brains](https://media.timeout.com/images/106142458/image.jpg)
Segue-se “O Desafio do Recém-Nascido”, uma área que nos permite perceber como reage o bebé, ainda no útero, à linguagem; e, mais tarde, como é que os miúdos desenvolvem a linguagem e como comunicam as crianças, por exemplo, com autismo severo, que não a conseguiram desenvolver. “As crianças, à partida, não têm dificuldade nenhuma em falar a sua língua materna nem em aprender novas línguas, por mais difíceis que nos possam parecer, e aprender e falar uma língua gestual activa as mesmas partes do cérebro”, diz Mariana, que nos desafia, por exemplo, a reflectirmos sobre se somos ou não capazes de entender uma língua gestual tão facilmente como entendemos mímica.
Há, contudo, pessoas não-verbais, isto é, que só conseguem aprender a comunicar com recurso a imagens, através do uso, por exemplo, do chamado PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras). E também há, atenção, pessoas que eram capazes de comunicar verbalmente e, de repente, deixam de o conseguir fazer por causa de distúrbios neurológicos, que resultam de acidentes vasculares, traumatismos cranianos, encefalites, tumores ou até demência. Entre o núcleo “Doenças da Linguagem” e “O Universo no Cérebro”, podemos aprender tudo isto e até ver imagens reais de uma cirurgia ao cérebro, no módulo “De Cabeça Aberta”. “Esta área explora também os avanços da medicina e dá-nos a conhecer a história de um paciente que descobriu que tinha um tumor no cérebro”, explica Teresa, antes de nos levar à zona mais interactiva de toda a exposição.
![Talking Brains](https://media.timeout.com/images/106142462/image.jpg)
No “Labirinto da Linguagem”, as famílias são convidadas quer a descobrir curiosidades, como o facto da língua materna influenciar a maneira como os bebés choram; quer a pôrem-se à prova através de diferentes jogos. Por exemplo, a construir frases ligando ou desligando interruptores relativos ao sujeito, verbo ou ordem da frase, ou a tentar lembrar-se do máximo de espécies do reino animal começadas pela letra P num curto espaço de tempo. “É a zona favorita dos mais novos . As crianças mais pequenas gostam sobretudo de ouvir os nenucos chorar, e depois os pais ficam fartos e choram elas”, brinca Teresa. Um minuto depois, vemos o cenário proposto a acontecer mesmo à nossa frente. Mais tarde, percebemos que, em contraste, os pais e os filhos mais crescidos, pré-adolescentes e adolescentes, preferem desafios mais complexos e fazem questão de competir entre si.
É possível visitar a exposição de terça a sexta-feira, das 10.00 às 18.00, e aos fins-de-semana e feriados, das 10.00 às 19.00. Além disso, está também prevista programação relacionada, nomeadamente a habitual escape room, que este ano se realiza a 19 de Junho e a 6 de Julho, para um público jovem; e o evento “Neuroarte: Tintas e tintos”, nos dias 27 de Junho e 18 de Julho, para maiores de 18 anos. Para mais informações, basta contactar o Pavilhão do Conhecimento.
Pavilhão do Conhecimento. Horário até 30 Agosto: Ter-Sex das 10.00-18.00, Sáb-Dom e feriados 10.00-19.00. Grátis até aos dois anos, 9€-14€ (bilhete único), 30€ (bilhete de família, para dois adultos e filhos até aos 17 anos)
Siga o canal da Time Out Lisboa no Whatsapp
+ Museus para crianças em Lisboa? São mais que as mães e bem divertidos