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Como é que o nosso cérebro linguístico evoluiu? O Pavilhão do Conhecimento explica

Na nova exposição "Talking Brains", as famílias são convidadas a descobrir a riqueza da língua, através da História e de vários desafios interactivos.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Entrada da nova exposição do Pavilhão do Conhecimento
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa“Talking Brains", nova exposição do Pavilhão do Conhecimento
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A linguagem é o que projecta os nossos pensamentos, ideias e sentimentos para o mundo, e é graças a ela que conseguimos comunicar uns com os outros. Mas foram precisos muitos milhões de anos para o cérebro humano se tornar o órgão complexo que conhecemos – e que continuamos a estudar – hoje. É precisamente sobre essa evolução e as principais etapas de aquisição da linguagem, processo que começa ainda no útero, de que nos fala a nova exposição do Pavilhão do Conhecimento. Dividida em seis núcleos distintos, uns mais interactivos do que outros, “Talking Brains – Programados para Falar” convida-nos a descobrir a riqueza da língua – verbal, visual e visuo-motora –, e a testar as nossas competências linguísticas.

Talking Brains
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

Com consultoria científica do investigador Wolfram Hinzen, da ICREA – Instituição Catalã de Pesquisa e Estudos Avançados e da Universidade Pompeu Fabra, esta nova exposição – patente até 1 de Setembro – resulta de um acordo celebrado entre o Pavilhão do Conhecimento e a Fundação “la Caixa”, para impulsionar a colaboração em projectos e acções conjuntas que promovam a cultura científica e tecnológica na Península Ibérica. “É uma versão itinerante de uma versão maior que esteve na CosmoCaixa [Museu de Ciência em Barcelona]”, esclarece Teresa Carvalho, do departamento expositivo, que acompanhou a montagem e a adaptação para português de todos os conteúdos, também disponíveis em inglês.

Talking Brains
© Francisco Romão Pereira/ Time Out LisboaTalking Brains

À entrada está a silhueta de um cérebro e, a brilhar de forma intermitente, as suas sinapses, os pontos de contacto dos neurónios, que ajudam o nosso sistema nervoso a processar, interpretar e modificar as informações que recebemos.”Que partes do nosso cérebro precisamos para falarmos uns com os outros? Como é que este nosso cérebro fabuloso evoluiu para que seja possível entendermos o outro, o mundo e nós próprios? É também sobre estas questões que esta exposição se debruça”, adianta Mariana Cardoso, que co-orienta com Teresa esta nossa visita e nos chama a atenção para um vídeo que ensina, por exemplo, que o tálamo intervém na coordenação e regulação da rede linguística, e o cerebelo na memória, na leitura e na articulação da linguagem.

O cérebro humano é complexo... e fabuloso

Se estiver a ficar confuso, não se preocupe. Nem os especialistas sabem tudo: estamos sempre a aprender coisas novas sobre o cérebro, que é, aliás, capaz de se adaptar à medida que aprendemos coisas novas. A esse fenómeno chama-se neuroplasticidade, e há muitas formas de a reforçar, desde exercitar-se regularmente e descansar quando precisa até desafiar as capacidades do órgão, através, por exemplo, da aprendizagem de uma nova língua. É verdade, sabia que um cérebro bilíngue tem mais flexibilidade cognitiva e um declínio menos acelerado? E, espante-se, há mais de 7000 línguas vivas em todo o mundo. Poderá traçar as origens de 850 no primeiro núcleo da exposição, “Unidade na Diversidade”, onde se encontra uma “árvore genealógica da linguagem”.

Talking Brains
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

Há muitas outras espécies no reino animal capazes de comunicar, como as abelhas (que são capazes de dizer umas outras onde estão as melhores flores), mas isso não é exactamente o mesmo que a linguagem humana, que é recursiva e nos permite expressar um número infinito de mensagens, mesmo que nunca as tenhamos dito ou ouvido anteriormente. Para percebermos como chegámos até aqui – isto é, à impressionante rede de circuitos nervosos que se interligam e nos distinguem de outros animais em termos de aptidões cognitivas –, o segundo núcleo, “A Evolução do Cérebro Linguístico”, convida-nos a explorar, através de réplicas e vídeos, a evolução do ser humano, do Australopithecus afarensis até ao Homo sapiens, a única espécie de hominídeos que sobreviveu até hoje e que surgiu em África passados oito milhões de anos de evolução desde o último antepassado comum com os chimpanzés.

Talking Brains
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

Segue-se “O Desafio do Recém-Nascido”, uma área que nos permite perceber como reage o bebé, ainda no útero, à linguagem; e, mais tarde, como é que os miúdos desenvolvem a linguagem e como comunicam as crianças, por exemplo, com autismo severo, que não a conseguiram desenvolver. “As crianças, à partida, não têm dificuldade nenhuma em falar a sua língua materna nem em aprender novas línguas, por mais difíceis que nos possam parecer, e aprender e falar uma língua gestual activa as mesmas partes do cérebro”, diz Mariana, que nos desafia, por exemplo, a reflectirmos sobre se somos ou não capazes de entender uma língua gestual tão facilmente como entendemos mímica.

Há, contudo, pessoas não-verbais, isto é, que só conseguem aprender a comunicar com recurso a imagens, através do uso, por exemplo, do chamado PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras). E também há, atenção, pessoas que eram capazes de comunicar verbalmente e, de repente, deixam de o conseguir fazer por causa de distúrbios neurológicos, que resultam de acidentes vasculares, traumatismos cranianos, encefalites, tumores ou até demência. Entre o núcleo “Doenças da Linguagem” e “O Universo no Cérebro”, podemos aprender tudo isto e até ver imagens reais de uma cirurgia ao cérebro, no módulo “De Cabeça Aberta”. “Esta área explora também os avanços da medicina e dá-nos a conhecer a história de um paciente que descobriu que tinha um tumor no cérebro”, explica Teresa, antes de nos levar à zona mais interactiva de toda a exposição.

Talking Brains
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

No “Labirinto da Linguagem”, as famílias são convidadas quer a descobrir curiosidades, como o facto da língua materna influenciar a maneira como os bebés choram; quer a pôrem-se à prova através de diferentes jogos. Por exemplo, a construir frases ligando ou desligando interruptores relativos ao sujeito, verbo ou ordem da frase, ou a tentar lembrar-se do máximo de espécies do reino animal começadas pela letra P num curto espaço de tempo. “É a zona favorita dos mais novos . As crianças mais pequenas gostam sobretudo de ouvir os nenucos chorar, e depois os pais ficam fartos e choram elas”, brinca Teresa. Um minuto depois, vemos o cenário proposto a acontecer mesmo à nossa frente. Mais tarde, percebemos que, em contraste, os pais e os filhos mais crescidos, pré-adolescentes e adolescentes, preferem desafios mais complexos e fazem questão de competir entre si.

É possível visitar a exposição de terça a sexta-feira, das 10.00 às 18.00, e aos fins-de-semana e feriados, das 10.00 às 19.00. Além disso, está também prevista programação relacionada, nomeadamente a habitual escape room, que este ano se realiza a 19 de Junho e a 6 de Julho, para um público jovem; e o evento “Neuroarte: Tintas e tintos”, nos dias 27 de Junho e 18 de Julho, para maiores de 18 anos. Para mais informações, basta contactar o Pavilhão do Conhecimento.

Pavilhão do Conhecimento. Horário até 30 Agosto: Ter-Sex das 10.00-18.00, Sáb-Dom e feriados 10.00-19.00. Grátis até aos dois anos, 9€-14€ (bilhete único), 30€ (bilhete de família, para dois adultos e filhos até aos 17 anos)

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