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O Bauhaus do Mar (Bauhaus of the Seas Sails, em inglês) esteve em lista de espera, mas acabou por ser a sexta proposta escolhida pela Comissão Europeia para servir de farol ao novo Bauhaus Europeu, um movimento criativo e interdisciplinar lançado em 2020 para conceber futuros modos de vida. Liderado por Portugal e financiado em cinco milhões de euros, divididos pelos 18 parceiros do consórcio, o projecto arrancou em Lisboa a 1 de Fevereiro com uma série de demonstrações no Hub Criativo do Beato, onde se reuniram pela primeira vez todos os parceiros, agentes nacionais e convidados de outras cidades europeias envolvidas (Roterdão, Veneza, Hamburgo, Malmo, Génova e Oeiras). A partir de agora e ao longo dos próximos três anos, pretende-se, por um lado, reimaginar as cidades costeiras e, por outro, mapear, promover e estimular novas formas de relacionamento com o território líquido. Entre as iniciativas previstas, destacam-se a criação de um Fórum do Mar, de um menu regenerativo para o rio Tejo e de um “Blue Makerspace”, um laboratório e espaço de investigação com materiais do mar.
“O projecto surgiu a partir de um convite dos ministros da Ciência e da Cultura para formar um grupo de trabalho, que começasse a pensar numa possível resposta àquilo que se estava a delinear no contexto da Comissão Europeia como o novo Bauhaus Europeu, mas acabámos por perceber que não fazia sentido ser um governo a fazer a candidatura e, nessa altura, submetemo-la a partir do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa”, esclarece a arquitecta Mariana Pestana, que co-assinou o manifesto original, juntamente com o professor e director do Instituto de Tecnologias Interactivas, Nuno Jardim Nunes, o designer Frederico Duarte, o investigador e professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Heitor Alvelos, e o arquitecto Miguel Figueira. “No início, ficámos em lista de espera [inicialmente o novo Bauhaus Europeu contemplava apenas cinco projectos-farol], mas passado algum tempo recebemos a notícia de que íamos ser financiados também, e é o único liderado por um país do Sul da Europa. Este kick-off [que se replicou na quinta-feira, com um segundo programa na Fundação Calouste Gulbenkian] é apenas uma iniciativa, uma espécie de call-to-action. A ideia é que possam surgir mais neste âmbito.”
A primeira fase será de auscultação e “co-design”. O designer Frederico Duarte esclarece: “Vamos co-projectar a maneira como trabalhamos juntos, mas também com quem trabalhamos juntos, o que tem a ver com as comunidades, quer seja um grupo de cidadãos, de investigadores ou de artistas, e perceber que todas estas pessoas são agentes activos de um projecto que, no nosso caso, tem sempre como mote os corpos de águas e a forma como interagimos através da comida, dos materiais, da construção, como comemoramos, como trabalhamos, que actividades económicas desenvolvemos ou que não devemos desenvolver, e como é que outras espécies devem estar incluídas nesta conversa, desde os flamingos até às algas, das baleias até aos peixes que comemos. Ou seja, o grande desafio é entender como é que nós podemos não só não fazer mal como fazer melhor ao planeta.” Para isso, será importante mapear outros projectos e trabalhos de investigação relacionados com o mar, que já estão a acontecer no mundo inteiro, e que servem de exemplo. É o caso do Climavore, que se dedica à adaptação da alimentação humana à protecção do clima.
Paralelamente, será criado um Fórum do Mar em cada uma das sete cidades do consórcio da Bauhaus do Mar, para conversar, debater e definir propostas de intervenção para os respectivos territórios e ecossistemas aquáticos. Quem estiver interessado em participar e viva ou trabalhe em relação com o rio, o mar ou uma paisagem aquática, deve contactar a equipa através de um dos e-mails disponíveis no site do Bauhaus do Mar, onde há também informação sobre vagas para investigação em “gastronomia, materiais e literacia dos oceanos”. Mas, além desses grupos mais restritos, haverá ainda grupos de embaixadores do mar. “É a esta escala mais alargada que todos estes intervenientes – que estamos a identificar agora, muitos dos quais até já convidámos para este kick-off, por serem pessoas que têm vindo a trabalhar nesta relação com o território líquido e cujo trabalho conhecemos e julgamos muito importante – vão ter voz”, acrescenta Mariana Pestana.
Vêm aí “assembleias interespécies”
“Neste sentido, também é interessante referir que estamos a fazer algumas experiências para perceber como é que, através da tecnologia, podemos escutar outras espécies, aquilo que hoje em dia é conhecido como o universo mais-que-humano. Como é que nós podemos ter em consideração o bem-estar das algas por exemplo quando projectamos qualquer coisa para o rio Tejo? Como é que as algas, que nós queremos proteger, se fazem representar por exemplo num Fórum do Mar ou no contexto de uma assembleia municipal? Esta é uma das nossas grandes questões, e já existe um modelo desenvolvido e testado pelo [museu holandês] Het Nieuwe Instituut, que se chama Zoöp, e é precisamente um mecanismo de representação da natureza em diferentes contextos. Mas de que outras formas podemos defender os direitos da natureza e tê-los em conta nas nossas decisões para o futuro?”
Ainda antes de começar a pensar em como criar “assembleias interespécies”, a equipa da Bauhaus do Mar tenciona, em conjunto com a Câmara Municipal de Oeiras, definir o programa do futuro Museu do Tejo, que a autarquia já tinha manifestado interesse em construir na Bataria do Areeiro, em Santo Amaro. “É um tema do encontro que teremos em Junho”, confirmou Jorge Barreto Xavier, actual director municipal de Educação, Desenvolvimento Social e Cultura da Câmara Municipal de Oeiras. Não foram, contudo, adiantadas mais datas, ainda que 2025 tenha sido o ano mencionado aquando da candidatura do município a Capital Europeia da Cultura em 2027. “Até Junho, queremos constituir o nosso Fórum do Mar”, remata Mariana.
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