Notícias

Como era a escravatura há dois mil anos? Lisboa tem histórias para contar

O Teatro Romano expõe até 8 de Setembro “Dez histórias de liberdade – de escravo a liberto em época romana”. Além da contextualização histórica, há objectos, réplicas de lápides e um stand sobre cosmética de cabelos.

Helena Galvão Soares
Jornalista
Teatro Romano
DR
Publicidade

No ano em que se comemoram 50 anos de 25 de Abril e, consequentemente, 50 anos de liberdade, o Museu de Lisboa | Teatro Romano desenhou uma exposição a que chamou "Dez histórias de liberdade – de escravo a liberto em época romana". O objectivo foi escolher, de entre as várias que os arqueólogos conseguiram reconstituir pelas fontes que possuem, dez histórias de escravos libertos, de forma a tornar as suas vidas compreensíveis para os lisboetas actuais.

Como teve oportunidade de alertar mais do que uma vez a arqueóloga e directora do museu, Lídia Fernandes, na inauguração, a 9 de Maio, estes casos não retratam a realidade vivida pela maior parte das pessoas em condição de servidão no Império Romano, que podiam viver em condições bastante degradantes. Um exemplo disso é dado no piso térreo do Teatro Romano por uma reprodução em tamanho real de uma exígua divisão de casa em Pompeia, de 3,40 x 3,50 metros, que era armazém e simultaneamente tinha três pequenas camas e servia de casa a três escravos. Outra coisa que realça é o facto de estes escravos libertos terem uma situação económica que lhes permitiu deixar lápides  – que não seria o caso da maioria.

Feito este esclarecimento, é preciso fazer um outro: o conceito de escravo no Império Romano é diferente do de outras épocas históricas posteriores, pelo que o termo mais correcto a usar será "servidão". Assim, por exemplo, um escravo podia ter escravos. Podia exercer uma profissão e ser remunerado. E, tendo dinheiro, podia comprar a sua liberdade e tornar-se um liberto. Como liberto estava-lhe vedada boa parte dos cargos públicos, mas podia ter propriedade e vários escravos. Na direcção oposta, um homem livre podia tornar-se escravo, por ter dívidas incomportáveis, que não conseguia saldar. Vendia-se a si próprio. Crianças abandonadas eram também tornadas escravas.

A primeira história que nos é apresentada na exposição é a de Caio Heio Primo, um escravo que consegue a sua liberdade e se torna sacerdote do culto imperial. Rico, mas impedido de ter cargos públicos, financia a remodelação da zona central do edifício do teatro e deixa o seu nome inscrito sobre as entradas laterais. A este Caio surge ligado um outro, seu escravo, Caio Heio Noto, que foi enviado para estudar Medicina em Mérida, a capital da província romana Lusitânia. Ficamos também a saber que há registo de 12 médicos (um dos quais uma mulher) na Lusitânia. Outro dos casos expostos é o de Cornélia, um caso duplamente raro de uma escrava actriz – é raro, uma vez que os papéis de mulher eram representados por homens, e ainda mais raro por ser uma escrava.

Objectos ligados à cosmética de cabelos
José AvelarObjectos ligados à cosmética de cabelos

Para lá dos dez expositores dedicados a cada um dos escravos, mostrando e explicando os objectos que lhe estão ligados, e como se conseguiu reconstituir a sua história, há ainda expositores sobre alguns tópicos relevantes, como a percentagem estimada de escravos no século I em Roma (talvez 30 a 40%) e na Lusitânia (talvez 10 a 20%); como é que as pessoas se tornavam escravas (neste período na Lusitânia não se encontram testemunhos de escravos prisioneiros de guerra, as pessoas já nasciam escravas); um stand sobre cosmética de cabelos, uma das especializações das mulheres escravas; e, por fim, ocupando toda uma parede, estão as inscrições das lápides de 16 escravos e libertos que viveram no território sob dependência da Felicitas Julia Olisipo num expositor em columbário que podemos abrir para ficar a saber a tradução e o seu significado.

Museu de Lisboa | Teatro Romano. Rua de São Mamede, 3 A. Ter-Dom 10.00-18.00. Até 8 Set. 3€

A Time Out é linda! Junte-se a nós no Santo António à la Time Out

+ Livraria em Lisboa proíbe telemóveis

Últimas notícias

    Publicidade