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Edi está no centro do mundo. Tem oito anos e uma vida muito preenchida. Como quem diz, uma rotina atarefada com preocupações miudinhas. Nunca sabe o que há-de vestir, nunca tem apetite de manhã e à noite, quando chega a hora dos pais encomendarem qualquer coisa para o jantar, nunca sabe o que lhe apetece. No dia seguinte, repete-se tudo outra vez, num loop que nunca mais acaba. Pelo menos até Edi receber um convite para uma missão urgentíssima. Com os pés no presente e os olhos num futuro cada vez mais inquietante, a nova produção da Formiga Atómica, O Estado do Mundo (Quando Acordas), explora a relação causa-efeito entre pequenos gestos e grandes consequências. A estreia para as famílias está marcada para 12 de Novembro, às 18.30, no LU.CA – Teatro Luís de Camões.
Em cena, apenas um intérprete (Edi Gaspar, na fotografia abaixo), uma espécie de meteorito e uma panóplia de utensílios domésticos, aparelhos electrónicos e bens essenciais do dia-a-dia de todos nós. Num mundo onde o consumo ocupa um lugar incontornável, somos confrontados com um paradoxo: aquilo que defendemos a respeito do que é preciso fazer para salvar o planeta e a nossa incapacidade de abdicar de comportamentos do quotidiano. Até que ponto uma torradeira ou um secador podem ser responsáveis por grandes desastres naturais, como um incêndio ou uma tempestade de areia? Será que adicionar um cubo de gelo numa bebida ou barrar o pão com manteiga são gestos sem consequência?
“Este tema é, por um lado, absolutamente esmagador e, por outro, tão complexo, que a simples ideia de apresentar uma hipótese de solução é quase redutora”, diz Miguel Fragata, que co-assina o texto com Inês Barahona, a outra metade da Formiga Atómica. A partir da história de Edi e de várias outras crianças, como o Faisal, que vive na Malásia, “o lugar onde o mundo despeja o que já ninguém quer”, o encenador anseia despertar consciências para o papel da responsabilidade individual. “Não apontamos o dedo, porque seria contraprodutivo. Mas há uma série de escolhas pessoais que, multiplicadas por muito, terão com certeza um impacto. Temos tanto o direito como o dever de fazer barulho e chamar a atenção de quem nos governa.”
Numa co-produção com o LU.CA, a associação Comédias do Minho, o colectivo Materiais Diversos e o parisiense Théâtre de la Ville, O Estado do Mundo (Quando Acordas) estará em cena noutras geografias. Depois da estreia em Lisboa, seguem-se duas apresentações, a 8 e 9 de Dezembro, no Centro Cultural do Município do Cartaxo. Já em 2022, de 11 de Janeiro a 29 de Fevereiro, contam-se vários espectáculos no âmbito da rede cultural criada pelas Comédias do Minho, em Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira. Entre 23 e 30 de Março, é a vez do Théâtre de la Ville, em Paris, ser palco da versão francesa, em estreia absoluta.
Antes, estreou a série online Isto não é uma brincadeira – a crise climática em 8 mini-episódios, que convida pais e filhos a crescer em activismo e a decrescer em consumismo. Para ver gratuitamente nas redes sociais do LU.CA desde quarta-feira, 10 de Novembro, os vídeos de cinco minutos contam com dicas práticas de especialistas em diferentes áreas, até tutoriais para preparar refeições sem desperdício ou para fazer bombas de sementes. “O espectáculo e a série têm uma temática e um objectivo em comum, mas são objectos artísticos, embora complementares, completamente independentes.”
LU.CA – Teatro Luís de Camões. De 12 a 28 de Novembro. Sex 18.30, Sáb 16.30 e Dom 11.30 e 16.30. 3€-7€. M/6.
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