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A 25 de Maio de 1870, Coppélia estreava-se em Paris. O bailado, inspirado na obra Der Sandmann, de E.T.A. Hoffmann, é protagonizado por um casal, Franz e Swanhilda, e por Coppélia, por quem Franz nutre um fascínio, desconhecendo que, na verdade, a rapariga se trata de uma boneca mecanizada. A 22 de Dezembro de 1989, a Companhia Nacional de Bailado apresentava-o, pela primeira vez, no teatro São Luiz. E é a partir desta sexta-feira que a Coppélia volta a subir ao palco, desta feita no Teatro Camões. A produção exclusiva da CNB conta com a coreografia de John Auld, segundo a original da autoria de Arthur Saint-Léon, interpretação musical da Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por Pedro Carneiro, e participação dos bailarinos António Casalinho e Margarita Fernandes.
Depois de se ter estreado cá em 1989, Coppélia ou a Rapariga dos Olhos de Esmalte faria novamente parte do programa da CNB, cerca de 20 anos depois, na altura em que Carlos Prado assumia a direcção artística. O bailado marca assim a história da companhia, de forma a que a sua apresentação nunca perca sentido por mais anos que passem. “Além deste hiato de 15 anos, uma vez que foi um desenho de temporada feito ainda pelo Carlos Prado, fez sentido manter esta ponte do seu próprio património, ao mesmo tempo que se vai estreando peças em Portugal, ou criações em estreia absoluta, que fazem a Companhia Nacional ser esta janela para o mundo, que sempre quisemos que fosse”, diz-nos Fernando Duarte, actual director artístico da CNB, a meio de um ensaio.

É, nas palavras do director artístico, um dos bailados “resistentes” que perdurou no tempo, ao contrário de outras criações desse mesmo século. Situada numa pequena aldeia na Polónia, a narrativa vive de uma imagem que nos é familiar e que nos lembra o cenário das histórias encantadas que líamos em crianças, mas que nos leva também a pensar e questionar ideias e temas que atravessam a nossa actualidade. “Há esta atração pelo boneco, pela imitação do real, mas sem ser real. Portanto, a criação de algo que seria ideal à nossa imagem e semelhança, mas com uma vontade que é dada por nós e não pela personalidade da boneca e que, nos tempos que correm, relaciona-se com a questão da robótica, da inteligência artificial”, continua.
Depois, é um bailado que não é trágico, nem dramático, e que antes prima pelo seu carácter cómico. Franz e Swanhilda vivem uma história de amor feliz, que é apenas perturbada pelas pequenas desavenças entre os dois, que surgem cada vez que Franz olha ou manda um beijo a Coppélia, sentada, na varanda de casa de Dr. Coppélius, a ler um livro. Não há quem sofra por amor, nem quem morra por ele, e é aí que reside a beleza do bailado, não só para Fernando Duarte, mas também para António Casalinho e Margarita Fernandes.

“É um ballet pelo qual muitas pessoas se apaixonam, precisamente pelo facto de não ser assim tão dramático, ou não ter emoções intensas. O facto de ser leve faz com que seja fácil de apreciar a dança em si e faz com que, em palco, nos consigamos divertir. E, por consequência, também o público”, afirma António Casalinho, ao telefone com a Time Out. “É uma história em que não há problemas, não há drama”, acrescenta Margarita Fernandes.
Nos dias 26 e 27 de Abril, o bailarino principal e a primeira solista da companhia Bayerisches Staatsballett, de Munique, vão interpretar os papéis de Franz e Swanhilda, na sua estreia a dançar com a CNB. O convite chegou do director artístico, que já tinha trabalhado com os bailarinos em 2021, quando, ao lado de Solange Mel, se encarregou da curadoria do Bailado em Seteais. “Sempre pensei que seria um prazer e uma honra para a CNB acolher estes dois bailarinos. E, mal entrei na companhia, convidá-los foi das minhas primeiras vontades”, realça Fernando Duarte.
Para António e Margarita, uma das coisas que mais os entusiasma em participar no bailado é o facto de se tratar de uma obra com princípio, meio e fim. “O que mais gostamos de fazer é ballets completos, porque fazem parte de uma história, de um ambiente. Não é chegar lá e fazer três minutos de uma coreografia. É algo com uma história, uma continuidade, que torna tudo muito mais imersivo e em que dá para desfrutar muito mais”, garante a bailarina.

Coppélia foi, na verdade, o primeiro espectáculo que os dois fizeram como bailarinos principais já na companhia alemã e, por isso, dançá-lo agora em Lisboa, para um público novo, é uma oportunidade que não podiam passar ao lado. “O facto de ser um ballet clássico, antigo, histórico, faz grande parte da motivação para qualquer bailarino querer dançá-lo. Este ballet em particular, a coreografia e a música, tudo faz parte da nossa educação enquanto bailarinos. Nós crescemos e fomos educados a ouvir estas histórias e estas músicas”, lembra António Casalinho.
Contudo, por mais “antigo” ou “histórico” que seja o bailado, importou trazê-lo para esta temporada, especialmente tendo em conta que contribui para que o repertório seja o mais ecléctico e diverso possível, que se desenha em torno de criações mais e menos contemporâneas. “Aqueles que dançaram há 30 anos dançaram de uma forma e portanto agora estes dançam de outra forma, o que também proporciona essa actualização e relação com os públicos, que é importante. Os públicos de há 30 anos são diferentes dos públicos de agora, e então pensamos como é que, na nossa permanente relação e acção de mediação com os públicos, conseguimos fazer essa regeneração”, remata Fernando Duarte.
Teatro Camões (Parque das Nações). 11-29 Abr. Ter, Qui e Sex 20.00, Qua 15.00 e 20.00, Sáb 18.30 e Dom 16.00. 15€-30€
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