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Da fábrica às águas cristalinas, num barco de pesca feito à medida

Há quem ainda faça a diferença no movimentado Tejo. Subimos a bordo do pequeno Noa Asiri, o primeiro barco da Oceanscape, que navegou do Algarve para Lisboa.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Terreiro do Paço
Fotografia: Francisco Romão PereiraOceanscape
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Lanchas, cruzeiros, barcos à vela, autocarros anfíbios, caiaques, cacilheiros. O Tejo, pela sua dimensão, convida locais e visitantes a explorar o rio a bordo de uma série de embarcações, na sua maioria de recreio. Agora chegou a Lisboa mais um barquinho, e este é especial. Chama-se Noa Asiri, é um barco de pesca tipicamente português, mas foi construído para servir como um “mini-lounge marítimo”, como o descreve Inês Schlingensiepen, a mulher do mar que o trouxe do Algarve para a capital. É com ele que faz passeios entre Lisboa e Cascais, mostrando as diferentes realidades e vivências das nossas margens, entre a indústria, a pesca e o lazer.

Oceanscape
Fotografia: Francisco Romão PereiraTrafaria

Desde pequena que Inês se lembra de sentir o apelo do mar. Primeiro queria ser bióloga marinha, uma formação que acabou por frequentar nos Estados Unidos, mas acabou por abraçar a enfermagem. No entanto, o bichinho de trabalhar num barco nunca a deixou. E foi assim que esta lisboeta rumou ao Algarve, após vários anos de activismo em prol dos oceanos e dos seus habitantes, para trabalhar numa operadora turística que fazia visitas guiadas de barco a grutas e cavernas nas rochas junto ao mar. Mas em 2018 Inês decidiu que ia começar a construir o seu próprio caminho e fundou a Oceanscape, um projecto que combina um barco de pesca com um espaço de convívio. O “toque mais confortável” saiu da imaginação de Inês, que desenhou a adaptação de um Pescador 700, “o barco de pesca português”, feito à medida por uma empresa portuguesa e familiar, a Obe & Carmen, fundada em Águeda há 50 anos. Infelizmente, apareceu a pandemia, Inês regressou a Lisboa e foi então que decidiu fazer-se ao mar na sua própria terra, não pondo de lado um regresso, com um segundo barco, ao Algarve.

Rumo ao mar

O ponto de partida do nosso passeio foi a Estação Sul e Sueste, uma das docas do Noa Asiri (o nome da filha de Inês, que significa “liberdade sorridente”), a par da Doca de Belém. Mas a estação, além de ser especial para todos os lisboetas, tem um significado especial para a própria Inês, já que o arquitecto responsável pela sua construção foi o seu bisavô Cottinelli Telmo. Junto ao barco conhecemos David, o experiente skipper da Oceanscape, um profissional que também trocou as águas do Algarve pelas de Lisboa e que reencontrou Inês na capital. “Nenhum projecto é só uma pessoa, é ter uma boa equipa. E o David é um homem do mar e tem gosto de cuidar das pessoas”, conta Inês, um peixe na água que também tem credenciais para assumir o leme do barco.

Passeio de barco
Fotografia: Francisco Romão Pereira / Time OutInês e David a bordo do Noa Asiri

“Agora não fazemos grutas, fazemos fábricas”, brinca Inês (fazem grutas, sim, já lá vamos). É que a pequena dimensão do barco dá-lhe mais flexibilidade de navegação, ou seja, ao longo da margem de Almada, à partida menos apelativa do que a de Lisboa, o entusiasmo a bordo cresceu ao passarmos mesmo por debaixo das estruturas em ferro do Terminal de Palença, junto aos coloridos silos de biodiesel. Mais à frente, já na Trafaria, o pequeno barco navegou calmamente por entre as embarcações piscatórias ancoradas perto da costa, sem destoar. Afinal, estávamos a bordo de um verdadeiro barco de pesca, mas sem as canas.

Seguimos em direcção ao mar e a uma das primeiras paragens marítimas, num verdadeiro frente a frente com o Forte de São Julião, em Carcavelos. Continuamos junto às praias, mantendo a distância de segurança dos pré-veraneantes que apanhavam banhos de sol e de mar, rumo ao nosso grande objectivo: Cascais. É aí que os tripulantes podem optar por dar um mergulho directamente do barco, seja junto à recatada Praia de Santa Marta, ao lado da marina, num cenário de cortar a respiração, seja nas grutas junto à Boca do Inferno, onde as águas estão mais calmas por esta altura do ano. Ao voltarmos para trás, numa viagem em que íamos acenando aos pescadores que por nós passavam, ainda fomos à bomba. O depósito do barco é pequeno, por isso é preciso reabastecer no regresso, o que acabou por ser também uma emoção, numa bomba destinada a embarcações.

Praia de Santa Marta
Fotografia: Francisco Romão PereiraPraia de Santa Marta

Neste regresso, foi-nos servido almoço a bordo, graças a uma parceria que a Oceanscape tem com a Volup. A refeição é à escolha do freguês e no nosso cesto estava um frasco com uma dose de Marroquino (grão de bico, quinoa, manga, cenoura, sultanas, ) e outro com uma dose de Asiático (noodles de arroz, tofu, cenoura, lima, tamari, gengibre). A acompanhar tivemos direito a sumos naturais, e para terminar a uma mousse de chocolate e a um mascarpone com morangos. Brevemente serão divulgadas novas parcerias gastronómicas, para satisfazer todos os gostos e dietas. A viagem de volta foi feita pela margem de Lisboa, a mais frequentada, junto aos principais monumentos. E quando dizemos “junto”, só faltava mesmo tocar no Padrão dos Descobrimentos com a ponta do dedo.

Além do passeio baptizado de Cascais Escape (com a duração mínima de três horas, 65€), a Oceanscape também faz passeios mais pequenos só em Lisboa. Como o Ocean Stories (hora e meia, 35€) que destaca a paisagem de Lisboa, os seus monumentos e história, ou o Sunset Bliss (duas horas, 40€), um passeio ao pôr-do-sol, acompanhado por tremoços e cerveja. Além dos preços por pessoa, é também possível alugar o barco para passeios privados, num máximo de dez pessoas, a partir de 250€. As reservas estão ancoradas aqui.

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