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Da ficção científica às páginas da Vogue: há três novas exposições para ver no MAAT

Uma grande exposição de um grande fotógrafo, William Klein, 11 olhares de raiz africana a pensar futuros utópicos e distópicos, e Catarina Dias, que ocupa o mais experimental dos espaços do museu.

Helena Galvão Soares
Jornalista
O Mundo Inteiro é um Palco, obra de William Klein
Pedro PinaO Mundo Inteiro é um Palco, obra de William Klein
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Nesta quarta-feira, 18 de Setembro, o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) inaugura três exposições e ainda um novo espaço expositivo no jardim, onde vai encontrar uma instalação de Jota Mombaça. A brasileira faz parte do grupo de onze artistas que protagoniza "Black Ancient Futures", exposição que extravasa o edifício do MAAT e ocupa também a antiga Central Tejo e o jardim. Mas a rentrée do MAAT não fica por aqui – além de uma festa de arromba para assinalar o oitavo aniversário do museu, no primeiro fim-de-semana de Outubro, inauguram outras duas exposição, já esta quarta-feira. "O Mundo Inteiro é um Palco", que se destaca por ser um olhar amplo sobre a vasta obra do fotógrafo norte-americano William Klein, e "Inverted on Us", da artista Catarina Dias, no mais experimental dos espaços do museu, o Cinzeiro 8.

Onze artistas, onze olhares sobre o futuro

"Foi difícil chegar a um nome para esta exposição", explica Camila Maissune, curadora, juntamente com o director do museu, João Pinharanda, de "Black Ancient Futures", com onze artistas de várias nacionalidades, parte dos quais a expor pela primeira vez em Portugal. "Não queríamos um título com as palavras 'África', 'africano' e 'diáspora'. Não queríamos um nome de quem quer ajustar contas. Queríamos um título esperançoso, de futuro. Sem amnésia sobre o passado, mas a propor novos lugares", continua. A espiritualidade e o misticismo africano, o "Ancient" do título, estão nas obras destes novos artistas que criam narrativas mágicas e de ficção científica, que pensam futuros utópicos e distópicos, propícios a mudanças de pontos de vista, a outros olhares. 

Icarus 13, de Kiluanji Kia Henda
Pedro PinaIcarus 13, de Kiluanji Kia Henda

Baloji, April Bey, Jeannette Ehlers, Lungiswa Gqunta, Evan Ifekoya, Kiluanji Kia Henda, Nolan Oswald Dennis, Gabriel Massan, Jota Mombaça, Sandra Mujinga e Tabita Rezaire são os artistas participantes na exposição, com propostas que vão dos mundos criados por Gabriel Massan (Brasil) em instalações/ videojogos de narrativa colaborativa, ao novo olhar sobre o mausoléu de Agostinho Neto, em Luanda, trazido por Kiluanji Kia Henda (Angola) – na instalação Icarus 13, o mausoléu/ foguetão é também metáfora para os movimentos de independência, para as novas nações e para a guerra civil, ficção científica que conta a história de uma primeira viagem ao sol documentada com fotografias (que na realidade são de outras coisas). As peças dos onze artistas podem ser vistas até 17 de Março de 2025.

William Klein: da vanguarda ao mainstream

Anunciada pelo MAAT como "a mais ambiciosa exposição da obra de William Klein no continente europeu, depois do seu falecimento", "O Mundo Inteiro é um Palco" – título tirado a Skakespeare, que Klein andava a reler – tem a curadoria de David Campany, conhecido investigador contemporâneo na área da fotografia e amigo do fotógrafo norte-americano (1926-2022). Klein, mais conhecido pelas suas fotografias de moda na Vogue, fez exuberantes livros de fotografia de rua, foi pintor figurativo e abstracto, designer editorial e escritor dos seus próprios livros, realizador tanto de cinema experimental pop como do mocumentário satírico Who Are You Polly Maggoo?. Klein foi-se apaixonando por diversas formas de arte ao longo da sua vida e dedicando-se a elas. "Para ele, tudo era uma aventura criativa que se ia desenrolando, cruzando as vanguardas e o mainstream, encontrando espaços entre a cultura comercial e uma independência convicta", diz Campany.

William Klein, obra gráfica, in A vida é um palco
Pedro PinaWilliam Klein, obra gráfica, in A vida é um palco

É esta pujante e original diversidade que David Campany tenta mostrar em cerca de 200 obras que divide por cinco salas. O design expositivo reflecte o próprio estilo de Klein, com fotos ao corte nas molduras, além de aproveitar o potencial arquitectónico do edifício do MAAT Central para expor enormes fotografias do tecto ao chão. A entrada na exposição é aquilo a que Campany chama de bouquet, um expositor da variedade de linguagens artísticas de Klein e de todo o período criativo do artista, até 2013. Na primeira sala, o curador chama a atenção para a forma como Klein interagia com os seus visados na fotografia de rua e que é bem visível pelo facto de os fotografados, independentemente do que estejam a fazer, estarem a olhar para a câmara. "Vão para o centro da sala e sintam-se William Klein, com os fotografados a olharem para vocês", desafia o curador, durante a visita destinada à imprensa.

A exposição, que pode ser visitada até 3 de Fevereiro de 2025, vai ser replicada em catálogo do MAAT, com imagens de quase 150 obras e textos do curador, David Campany, incluindo um extenso ensaio e uma cronologia breve da vida e obra do artista. Campany, um apaixonante comunicador, talvez venha a fazer uma visita guiada à exposição em Janeiro, mês em que estará de volta a Portugal para uma retrospectiva da obra cinematográfica de William Klein, organizada pela Cinemateca Portuguesa, em parceria com o museu.

"Inverted on Us", de Catarina Dias

O Cinzeiro 8, no MAAT Central, também tem novidades a partir desta quarta-feira, com uma exposição de Catarina Dias, actualmente com uma outra exposição a decorrer – "Through Wet Air", no Pavilhão Branco, no Palácio Pimenta.

Inverted on Us
Pedro PinaInverted on Us

Em "Inverted on Us", a artista portuguesa, que tem feito da pintura e do desenho as suas principais linguagens, dá continuidade ao trabalho em torno do enigma da visibilidade. "Tal como a chama acesa que não possui sombra no mundo real, também a energia fulgurante que compõe estas obras não se permite existir mediante sombras ou ilusões. É, pois, através destes lampejos de luz que constituem determinadas obras de arte que se pode, porventura, revelar o modo como a experiência do real se completa verdadeiramente", escreve Filipa Correia de Sousa, curadora da exposição, que pode ver até 17 de Março de 2025.

Avenida de Brasília (Belém). Qua-Seg 10.00-19.00. 11€ (grátis no 1.º Dom do mês)/ 30€ passe anual

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