Notícias

David Fonseca: “Não tinha a ambição de fazer da música uma profissão”

É um dos autores mais consensuais da música portuguesa. David Fonseca fala sobre a vida, a carreira e a digressão “Still 25”, que chega aos coliseus este mês.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
David Fonseca
DRDavid Fonseca
Publicidade

David Fonseca passou os últimos meses a celebrar ao vivo – e com um ligeiro atraso – os 25 anos do lançamento do primeiro álbum dos Silence 4, em 1998, e tudo o que construiu desde então. Mas os próximos concertos da digressão “Still 25”, a 15 de Novembro, sexta-feira, no Coliseu Porto Ageas, e no fim-de-semana de 16 e 17 no Coliseu dos Recreios, são especiais. “Costumamos encarar estas datas nos coliseus quase como dias de festa”, reconhece. “Onde trazemos algumas novidades e fazemos um bocadinho mais do que costumamos fazer no resto da digressão”. Não revela o que vai fazer diferente, nem que surpresas tem guardadas. Garante, porém, que vai revisitar “todos os pontos” da sua carreira e que este não é um exercício retrospectivo. Antes pelo contrário. O que anda a fazer em palco, “é mais até um olhar para a frente do que um olhar para trás”. Porque é o que está para vir que continua a motivá-lo.

O nome desta digressão é, simultaneamente, uma referência aos 25 anos de carreira e ao facto de teres 25 anos quando sai o primeiro disco dos Silence 4. Quer dizer que ainda sentes que és mais ou menos a mesma pessoa que eras nessa altura?
Não, de todo. Como pessoa, não podia ser mais diferente. Até a maneira de fazer música é outra. Quando comecei era tudo mais simples, sozinho, no quarto, com uma guitarra. Não tinha a ambição de fazer disto uma profissão. Mas há algo que se mantém inalterado: quando comecei a tocar, sentia que estava a descobrir um mundo novo, sempre a tentar perceber o que ia fazer a seguir e o que é que isto significava para mim. E isso não mudou. Continuo com a mesma curiosidade e com a mesma vontade de fazer coisas novas que tinha ao início. O “Still 25” refere-se a isso.

Se não imaginavas fazer disto uma carreira, quais eram eram as tuas expectativas quando começaste os Silence 4?
Divertir-me aos fins-de-semana. Tinha deixado um curso a meio na [Faculdade de] Belas Artes e voltado para Leiria. Tinha muito tempo em mãos, os amigos estavam a estudar fora e, como não havia o que fazer, resolvi montar uma banda para combater o tédio. Tinha umas canções, que fazia em casa, e começámos a ensaiar e a ambicionar pequenas coisas: dar um concerto neste bar, naquele sítio; participar em concursos de música moderna; mais tarde, fazer um disco. Mas não mais do que isso. Até porque achava que éramos muito alternativos, cantávamos em inglês… Nunca pensei que pudéssemos atravessar uma barreira e chegar ao mainstream em Portugal. Isso apanhou-nos de surpresa – a mim, à banda toda e à Universal também. Até ao segundo álbum a solo, sempre pensei que a música era algo que estava a fazer em part-time, para ser sincero. Que era um hobby. Só a partir do terceiro disco a solo, com mais de 30 anos, é que comecei a pensar que, se calhar, era melhor encarar isto como uma profissão.

Se a música era um hobby, qual ia ser a profissão?
Achava que ia ser fotógrafo, que era o que queria ser desde miúdo. Andava sempre com a máquina fotográfica e tinha um estúdio de revelação em casa, onde passei centenas de horas. Quando saí da escola de cinema, antes do sucesso dos Silence 4, estava convicto de que ia seguir fotografia – de moda, artística, de reportagem, o que quer que fosse. Tinha os meus planos muito direccionados para aí, já com ideias específicas do que queria fazer. Só que depois em Dezembro assinámos o contrato, por volta de Março estávamos a gravar o primeiro disco no Porto, em Junho estava a ser lançado – isto tudo em 1998. E em finais de Dezembro estávamos a tocar no [Pavilhão Atlântico]. Portanto, os meus planos foram esmagados por uma realidade absurda, que nunca poderia imaginar em Janeiro de 98.

Nos coliseus vais tocar canções de toda a carreira, incluindo dos Silence 4? 
É um alinhamento complicado de fazer, porque tento tocar todos os pontos destes 25 anos. O que, obviamente, inclui também os Silence 4. Costumo dizer que metade dos alinhamentos é uma tentativa de chegar perto das expectativas das pessoas e a outra metade é o que me apetecer. Por isso, nunca se sabe muito bem o que vai acontecer. Algumas coisas já se espera que aconteçam, outras não, porque são escolhas minhas, mais pessoais. Acho que é uma abordagem interessante, porque acabo por mostrar a minha visão pessoal sobre estes anos todos. 

E canções novas, inéditas, vai haver? 
Penso que vai haver canções que nunca foram tocadas. Mas não será música minha nova. Isso só para o ano.

Pensei que tivesses material inédito, novo, porque, em 2023, quando lançaste aquelas duas canções – a “Paranoia”, a partir da “Borrow”; e a “Get Out of My Heart” que samplava a “My Heart” – foi anunciado que ias editar um disco no fim do ano. Depois, no início de 2024, disseram-me que afinal ia ser neste segundo semestre. Só que não. Porque é que o disco tem estado a ser sucessivamente adiado? 
O meu processo tem-se tornado cada vez mais rigoroso. Também estive envolvido nesta digressão nova, que me levou mais tempo do que estava à espera. E quis fazer um disco que tivesse um certo significado, que falasse do meu momento presente. Posso dizer-te, em primeira mão, que já fiz um disco inteiro e o deitei para o lixo. Aquela não era a direção que queria seguir. Então voltei à estaca zero, e tive de empurrar esse lançamento para 2025.

Os Silence 4 também vão regressar no próximo ano. Não tens medo que essa reunião te force mais uma vez a adiar o disco?
Não. Acho que uma coisa não tem a ver com a outra. Até porque, nos Silence 4, não vamos inventar nada de novo. Vamos tocar as músicas que sempre tocámos. Temos as canções que temos, só dois discos de originais, não há muito para decidir. Não é o mesmo que montar uma digressão como a minha, em que tenho de analisar 20 anos de canções, inúmeros discos e participações, e tentar destrinçar um espectáculo no meio daquilo.

No início da conversa, dizias que o que mais te interessa é o que vais fazer a seguir. Imagino que, sendo que essa é a tua motivação, fazer uma digressão retrospectiva como esta “Still 25” seja um frete.
Na realidade, montar uma digressão é um bocadinho como montar um disco novo. E uma das coisas de que mais me orgulho é de eu e a minha equipa termos conseguido montar sempre espectáculos diferentes. Tento, de alguma maneira, trazer sempre uma novidade a cada digressão. Portanto, apesar deste espectáculo falar muito da minha carreira para trás, também tem muitas ideias que estou a desenvolver e a mostrar pela primeira vez. Nesse sentido, é mais até um olhar para a frente do que um olhar para trás.

A reunião dos Silence 4 também?
São duas coisas diferentes. Desde que os Silence 4 não existem que, de vez em quando, um promotor ou alguém se lembra de nos convidar para tocar. E foi o que aconteceu mais uma vez. O meu manager recebeu um convite e perguntou-me se era algo que gostaria de fazer. Como a última reunião dos Silence 4 tinha sido já há 11 anos, achei que podia ser interessante. Contactei o resto dos membros, eles também acharam interessante e pensei “porque não”? Ainda por cima, a banda tinha-se juntado em 1995, estava a fazer 30 anos, e achámos que seria uma boa desculpa para dar alguns concertos e para fazer claramente um acto nostálgico, em que tocamos todas as canções do primeiro disco e do segundo. 

Imaginas esta reunião a prolongar-se para lá dos concertos que já foram anunciados? À semelhança do que tem acontecido com grupos dessa altura, como os Da Weasel ou os Ornatos Violeta, que todos os anos dão uns quantos concertos?
Isso não me interessa, de todo. Não tenho uma propensão muito grande para a nostalgia. Acho piada poder recordar isso num momento ou no outro, ou dedicar um momento do meu tempo a isso, mas não do ponto de vista regular. Como te dizia, aquilo que me dá alegria é criar algo que ainda não existe e depois de montar várias coisas à volta. E não me parece que isso seja uma hipótese para uma banda que não faz músicas desde o ano 2000. No fundo, é quase como voltar para uma ex-namorada: não faz sentido. Pelo menos para mim.

Coliseu dos Recreios. 16-17 Nov (Sáb-Dom). 21.30. 15€-40€

📲 O (novo) TOL canal. Siga-nos no Whatsapp

👀 Está sempre a voltar para aquele ex problemático? Nós também: siga-nos no X

Últimas notícias

    Publicidade