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De António Damásio para a tela. Arte e biologia encontram-se no Museu de História Natural

Da neurociência de António Damásio à manipulação dos materiais em telas e instalações, "Ordem das Coisas" cruza arte, ciência e filosofia numa das salas do museu da Politécnica.

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
Trabalho de Salomé Nascimento
Salomé NascimentoTrabalho de Salomé Nascimento
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Salomé Nascimento é a figura central da exposição que abre, esta sexta-feira, 8 de Novembro, ao público no Museu Nacional de História Natural e da Ciência. "Ordem das Coisas" é a face mais visível de um projecto de mediação cultural que a artista portuguesa elaborou com o apoio da DGArtes. Através da produção artística – a sua e a de mais três artistas convidados –, o intuito é ligar arte e natureza através de um elo nem sempre óbvio, a ciência.

"Baseei-me bastante na obra do António Damásio [A Estranha Ordem das Coisas]. Agora está mais na moda, mas sempre me chocou que o estudo das emoções fosse, por vezes, relegado para o campo do esoterismo, quando é algo do foro científico. É o estudo da parte emocional do cérebro", começa por contextualizar a artista. A ajudar a ligar as pontas deste raciocínio de partida está o filósofo norueguês Arne Næss, que nos anos 70 cunhou o conceito de ecologia profunda. "Mais do que respeito, é considerarmo-nos natureza. E isto casa com o trabalho do Damásio e com o facto de nós sermos biologia", continua.

Exposição "Ordem das Coisas"
DR

Næss condensou todo o pensamento numa única interpelação: "Como posso viver, de uma forma que seja boa para mim, para os outros e sustentável para o planeta?". Na hora de convidar outros autores a ocuparem este antigo laboratório da Universidade de Lisboa, Salomé identificou três nomes de diferentes gerações – o português João Filipe Bugalho, a alemã Paulina Dornfeldt e a italiana Silvia Pallini. "Convidei estes artistas, mais do que pelo trabalho em si, pelo posicionamento na relação com a natureza. E são três perspectivas diferentes, mas a sensibilidade, a forma de estar, a abordagem ao mundo é a mesma", completa.

A sala, outrora reservadas a práticas laboratoriais é maioritariamente branca, forrada a azulejo. A primeira mancha de cor a saltar à vista está fechada, dentro de uma velha vitrine. Lá dentro, um sortido de plásticos manipulados por Salomé Nascimentos – moldados com recurso a calor e pigmentados em tons de coral, confundem-se com matéria orgânica. São restos da última mudança de atelier, convertidos em arte. A mesma técnica surge noutros pontos da sala, distinguido o trabalho da artista.

Sob o mesmo tecto, expõem também os artistas convidados. As telas, de aspecto mais convencional, são de João Filipe Bugalho – "paisagens internas" que assumem contornos de paisagens do mundo natural real. Ao lado, estão obras de Silvia Pallini, artista italiana que trabalha exclusivamente a preto e branco, misturando água, tinta-da-china e carvão sobre papel para criar paisagens ainda mais conceptuais. O conjunto fica completo com a veia colectora de Paulina Dornfeldt, a mais jovem autora em exposição. A partir de objectos encontrados, num instalação, recria o "aparato científico" que aprendemos a associar ao espaço de um laboratório.

"Ordem das Coisas" pode ser visitada até 30 de Novembro, mas o projecto de Salomé Nascimento vai além desta exposição. Está previsto um laboratório de criação artística dirigido a doutorandos em Escultura da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Estão ainda agendadas duas conversas – com os artistas e as curadoras Sofia Marçal e Katherine Sirois, no dia 14 de Novembro, às 18.00, e no dia 21 de Novembro, à mesma hora, com a participação de Nuno Pimentel, oncologista da Fundação Champalimaud, do biólogo Roberto A. Keller e da psiquiatra Sandra Teles Nascimento. Ambas são gratuitas, mas requerem inscrição prévia.

Além das visitas orientadas que decorrem ao longo de toda a duração da exposição, há ainda três workshops – os dois primeiros gratuitos e o terceiro com um custo de 40€, todos eles com inscrição prévia. Os primeiros passarão pelo desenho cego e pela observação ao microscópio de elementos recolhidos no Jardim Botânico, nos dias 17 e 24 de Novembro, respectivamente. O último está marcado para 1 de Dezembro e envolve técnicas de cianotipia e fotografia artesanal.

Rua da Escola Politécnica, 56 (Príncipe Real). Ter-Dom 10.00-17.00. Até 30 de Novembro. 6€

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