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Nasceu no Rio de Janeiro, mas cresceu no interior de Minas Gerais. Deixada ao cuidado dos avós pela mãe, que só voltaria a ver aos 11 anos, Alessandra Montagne não teve uma vida fácil. Da infância passada na roça à relação abusiva com o pai do filho, que teve aos 17 anos, foi na cozinha que Alessandra encontrou salvação. Mudou-se para Paris, onde a mãe e o padrasto viviam, e fez daquela cidade a sua casa. É na capital francesa que comanda dois restaurantes, o Nosso e o Tempero, e se prepara agora para abrir um terceiro, no Museu do Louvre, a convite do mais estrelado dos chefs, o francês Alain Ducasse, hoje seu amigo. Pelo meio, surgiu um desafio em Lisboa: a chef passa a liderar o Cícero, em Campo de Ourique. A carta assinada por si já está disponível.
Aberto desde 2022, o restaurante deve o seu nome ao pintor modernista brasileiro Cícero Dias. Num dois-em-um, o Cícero é tanto um bistrô, como uma galeria de arte, em que as obras do artista, a par de trabalhos de outros artistas brasileiros, preenchem as paredes. É tudo parte do acervo de arte pessoal de um dos sócios, Paulo Macedo, que, no jantar de apresentação da primeira carta de Alessandra, a 31 de Outubro, destacou o papel da chef que, tal como o pintor, tem vindo a “promover o Brasil em Paris”. É um novo Cícero que recebe Alessandra Montagne. Está “mais intimista” e “imersivo”, com apenas 22 lugares, ao contrário dos 40 de antes. E, tal como o espaço, o menu também sofreu as devidas mudanças.
O menu de degustação para este Outono/Inverno (95€ por pessoa) inclui cinco momentos, mas os pratos também podem ser pedidos à carta. Primeiro um amuse-bouche, um dadinho de tapioca, depois a pré-entrada. A coxinha de frango, o pão de queijo com caviar, e o mini pastel de nata de couve-flor (12€), são para comer nesta exacta ordem, segundo a chef. No Cícero, as influências tanto vêm do lado de cá como de lá do Atlântico. “Eu acho que vão ser mais portuguesas e um pouco brasileiras. Os produtos vêm daqui e, em Portugal, me sinto muito em casa, me sinto como se estivesse no Brasil”, diz Alessandra.
Alessandra vive há 25 anos em França, o lugar onde a paixão por cozinhar se tornou maior. “É uma coisa que não dá para fazer se a gente não ama cozinhar. Eu sempre gostei muito, mas nunca liguei o facto de cozinhar a uma profissão. Só chegou na França.” Lá, surgiram as oportunidades que acabariam por mudar a sua vida. “A França me deu todas as minhas chances, me abriu todas as portas. Eu nasci numa favela do Rio de Janeiro, fui criada no interior de Minas Gerais. Eu tive uma vida super difícil e quando cheguei na França, todas as portas se abriram”, continua.
Em Paris, além do gastronómico Tempero e do Nosso, recomendado pelo Guia Michelin, a chef prepara-se para abrir, em Junho de 2025, um restaurante no Louvre, com uma concessão de 12 anos. Alessandra foi desafiada por Alain Ducasse, que conheceu quando este começou a frequentar os seus restaurantes, para liderar a cozinha. Os pratos serão inspirados nas exposições patentes no museu. E no Cícero, a carta também foi concebida com as obras de Cícero Dias em mente, mais precisamente, as cores e as formas. “Eu gosto de fazer gostoso, é muito importante. Mas é muito importante para mim que o prato seja bonito. É importante que o cliente receba aquele prato e fale ‘Uau, que bonito! Deixa eu provar’ e que, depois, tenha a surpresa de estar gostoso”, explica. Até a louça foi desenhada por Alessandra e produzida em França.
Nas entradas, há cenoura com creme de cenoura e bottarga (24€), com pão feito na casa a acompanhar; mousse de cogumelos e sarraceno (22€), que chega com um pão brioche, uma receita da avó da chef; e ainda um prato de polvo e chouriço (26€). Para prato principal, tem à escolha um carabineiro e a sua bisque com risotto de cevada, creme de abóbora e camarão, e picles de abóbora (58€); uma poitrine de porco confitada, com jus de porco, puré de aipo fumado e beterraba (42€); um bacalhau e couve com beurre blanc de champanhe e arroz negro (42€); ou um mignon bovino com pickles de cebola roxa e molho trufado com polenta (48€).
A ideia é fazer uma “cozinha gostosa, colorida e sazonal”, em que a equipa procura seguir uma política de desperdício zero. Para finalizar, as sobremesas incluem uma variação de limão, inspirada nas formas geométricas de Cícero Dias (18€); um creme de chocolate com fava tonka e praliné de avelã (16€); e figo preservado em vinho do Porto com sorbet de figo (16€).
Perante esta nova etapa, Alessandra Montagne sente-se entusiasmada. “É uma nova página. É um risco, não é? Porque ninguém conhece a minha comida”, aponta, revelando que continuará a viver em Paris, sendo que, pelo menos uma vez por mês, virá a Lisboa para acompanhar este projecto. A cozinha do Cícero contará com a presença permanente da chef executiva, Ana Carolina Silva, que trabalhou ao lado de Alessandra no Nosso.
Rua Saraiva de Carvalho, 171 (Campo de Ourique). 96 691 3699. Dom-Qui 19.15-23.45, Sex-Sáb 19.15-00.00
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