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Depois de renovada a Praça de Espanha, a Gulbenkian vai crescer

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Director-adjunto, Time Out Portugal
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O jardim vai passar a ocupar quase a totalidade do quarteirão. A ligação ao novo parque urbano da Praça de Espanha será feita por uma ponte pedonal e através de uma “intervenção artística”, que a fundação vai oferecer à cidade.

“É um momento histórico na nossa cidade e no nosso futuro colectivo.” A presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, está satisfeita: a Praça de Espanha vai “ganhar a centralidade que merece” com o projecto de transformação total que a Câmara de Lisboa apresentou nesta segunda-feira, precisamente na Gulbenkian. Tão satisfeita que anunciou a ampliação dos jardins da fundação para o resto do Parque de Santa Gertrudes, mal acabem as obras no espaço público.

“A fundação lançará em breve um concurso de ideias para a extensão do parque Gulbenkian para todo o seu vértice Sul, passando a ocupar a quase totalidade do antigo Parque de Santa Gertrudes”, revelou Isabel Mota. De fora ficam apenas a casa da Fundação Eugénio Almeida e o seu logradouro (é o edifício que faz lembrar um castelo, na Rua Marquês da Fronteira). “A maior parte deste quarteirão estará em breve acessível ao público.” A expectativa é que “as obras possam estar concluídas pouco depois do calendário” previsto para a Praça de Espanha (2020).

A apresentação da renovada Praça de Espanha esteve a cargo de Fernando Medina, Manuel Salgado e José Veludo, projectista da NPK – Arquitectos Paisagistas Associados, que venceu o concurso internacional promovido pela Câmara de Lisboa, tal como a Time Out noticiou em primeira mão. Com o título “Os Caminhos da Água”, a proposta reaproveita a fertilidade singular da zona, onde confluem as águas de toda a bacia do planalto, para criar um enorme jardim – que incluirá uma recuperação parcial da antiga ribeira que ia de Berna até Alcântara.

Praça de Espanha

NPK

José Veludo disse que o futuro parque “será um elemento de coesão do espaço público”, unindo os bairros do Rego, Azul, da Palhavã e o IPO, “que ficará ligado à estrutura ecológica, tal como devia ser norma para todos os equipamento de saúde e de ensino”. O espaço verde vai entrar ainda pelo logradouro da Rua Eduardo Malta, ligando-o a Monsanto, integrará os teatros Aberto e Comuna, e as avenidas José Malhoa e Columbano Bordalo Pinheiro. O projecto prevê ainda recuperar a antiga Estrada da Palhavã, “uma diagonal perdida”, para ligar a Gulbenkian a Sete Rios de forma pedonal. O NPK quis devolver à cidade o caminho Norte-Sul que liga Benfica ao centro.

A equipa de projectistas quer, com esta transformação, “melhor continuidade pedonal com o centro da cidade e tornar mais presente o sistema natural”. Ou seja, se por um lado a inspiração era o Jardim da Gulbenkian, por outro era “estabelecer uma ligação forte” com a muito pedonal (e ciclável) Avenida Duque D’Ávila. Uma das saídas do metro da Praça de Espanha ficará no meio do futuro parque, onde também ficará “uma intervenção artística” doada pela Gulbenkian. A administradora Teresa Gouveia (ex-ministra de Cavaco Silva e Durão Barroso) está a liderar a equipa que está a “desenvolver uma reflexão conjunta com a câmara e com a equipa projectista no sentido de se encontrar a solução ideal”, anunciou Isabel Mota. A fundação também terá uma ligação física ao parque, através de uma ponte pedonal.

Mudanças no trânsito
Manuel Salgado fez a história da praça, que chegou a ter projectos de Álvaro Siza e de João Paciência, respectivamente nos executivos de Jorge Sampaio e Santana Lopes. “É uma área que vem sendo estudada há muito tempo.” Em 2008, já com António Costa à frente da autarquia, surgiu a ideia de a pensar não como espaço de construção mas de vazio – o que acabou por ser inscrito no Plano Director Municipal em 2012. Com a troca de terrenos com o Montepio, em 2014, a câmara lançou finalmente o concurso de ideias do qual resultou este projecto vencedor (eram nove os concorrentes). O vereador do urbanismo disse que a obra estaria concluída em 2020 – mais de uma década depois de o conceito embrionário ter surgido.

A duração da empreitada será de dez meses e o investimento de 6,637 milhões de euros. Quando estiver concluída, a praça não estará apenas mais verde: o trânsito também estará organizado de forma diferente. Quem for de carro das avenidas de Berna ou António Augusto Aguiar vai poder seguir em direcção à Av. de Ceuta, e ir pela Avenida dos Combatentes rumo ao Marquês de Pombal será mais simples.

“Hoje é, indiscutivelmente, um dia especial. Estamos a ver nascer o que é seguramente um dos projectos emblemáticos da Lisboa do futuro”, afirmou o presidente da câmara, visivelmente satisfeito. “A Lisboa do futuro é uma cidade com mais qualidade de vida, mais verde, que devolve espaço público, que se transforma todos os dias para que as pessoas vivam melhor a cidade. Poucos exemplos haverá de um único projecto que consiga reunir todos estes atributos e que nos identifique tanto o caminho que vamos seguir”, sublinhou Medina. “É rara a oportunidade que um presidente da câmara tem para poder dizer que no seu mandato nasce, no centro da cidade consolidada, um parque urbano com cerca de cinco hectares (o equivalente ao Jardim da Estrela). Admito que alguns dos meus antecessores tivessem querido fazer o mesmo. Não tiveram a sorte do tempo. Eu tenho.”

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