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Nos dez anos de vida da Cabine de Leitura da Praça de Londres, "já aconteceu muita coisa", conta Carlos Moura-Carvalho, fundador e pioneiro do projecto em Portugal. "Mas agora tivemos mesmo de parar, porque era insuportável." O "insuportável" foram os danos e roubos frequentes (quase diários) que começaram a acontecer em Outubro e que levaram, a 6 de Novembro, ao encerramento da cabine telefónica transformada em biblioteca de partilhas, na freguesia do Areeiro.
A Cabine de Leitura da Praça de Londres "vai ser obrigada a encerrar para realização de algumas obras de reforço da segurança", foi comunicado nas redes sociais do projecto. Serão colocadas "pequenas barras de ferro, muito finas e pouco visíveis", de forma a impedir o vandalismo de que a cabine tem sido alvo, bem como o roubo frequente de livros. Concluída a intervenção, deverá voltar ao activo entre o final deste mês e o início de Fevereiro.
As situações de roubo e vandalismo não são apenas de agora, nota o responsável pelo projecto. "Há pessoas que roubam para vender. Já encontrámos livros com o carimbo da cabine na Feira da Ladra ou na Feira do Relógio. É um fenómeno recorrente, cíclico."
Um projecto sem apoios
Ao contrário de outras cabines de leitura da cidade e até do país (estima-se que existam mais de 50 no território nacional, depois do pontapé de saída dado em 2014, no Areeiro), que funcionam sob gestão pública (normalmente atribuída a juntas de freguesia), a iniciativa da Praça de Londres é inteiramente assegurada por voluntários. "Somos 15 voluntários. Cada um dá uma a duas horas por semana ao projecto da cabine. Uma vez por semana faço uma escala, para distribuirmos disponibilidades e definirmos o horário de abertura da cabine", explica Carlos Moura-Carvalho. Nos horários partilhados a cada semana nas redes sociais (Facebook e Instagram), os interessados devem dirigir-se à cabine com "um livro de que tenham gostado e que tenham interesse em partilhar" e levar um do seu agrado. Lá estará um voluntário à espera, pronto a registar as trocas. Nada envolve dinheiro.
Há cerca de dois anos que a iniciativa funciona, aliás, sem qualquer tipo de apoio, pelo que as despesas da reparação planeada para as próximas semanas ficarão a cargo do fundador, como já aconteceu no passado. Deverá custar "100 a 200 euros", atira o voluntário e ex-director municipal de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa.
"Há um ano e tal, dois anos, a Fundação Altice [detentora da estrutura] deixou de nos apoiar. No caso de partirem um vidro ou de outro tipo de despesa, seriam eles a suportá-la... Escrevi à Junta de Freguesia do Areeiro, mas nem sequer me responderam. Não têm qualquer interesse em ajudar", lamenta Carlos Moura-Carvalho, sem no entanto refrear o interesse no projecto e em tudo o que dele tem surgido nos últimos anos, desde leituras de poesia até lançamentos de livros. "Acho que outra pessoa com menos vontade já teria desistido. Mas eu gosto muito do projecto e vejo o entusiasmo que as pessoas têm em relação a ele", remata o responsável.
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