Notícias

Depois do Kappo, o Izakaya: Tiago Penão abriu uma taberna japonesa rock'n'roll

Se no Kappo, o chef pratica alta-cozinha, no Izakaya Tiago Penão está sem rédeas, sem nunca deixar de saber o que está a fazer. É assim o novo restaurante de Cascais.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Izakaya
Francisco Romão Pereira
Publicidade

O espaço é pequeno, mas cheio de pinta. Um balcão para menos de 20 pessoas, iluminado em parte por neónes vermelhos. O ambiente é frenético: a música está alta, as pessoas falam alto e na cozinha à nossa frente é difícil acompanhar o ritmo acelerado (nem por isso menos regrado) com que tudo acontece. É assim o Izakaya, o novo restaurante de Tiago Penão, o chef do Kappo, que fica a poucos metros dali. 

Para quem tem acompanhado o percurso de Penão, especialmente no último ano ao leme do Kappo, onde o chef brilha na alta-cozinha japonesa, não é estranho vê-lo agora também neste Izakaya. A devoção à gastronomia nipónica é-lhe conhecida, mas se o Kappo era um sonho antigo que ganhava forma na sua cabeça nos últimos anos, o Izakaya foi um desejo mais recente. “Desde que se abriu o Kappo e se falou em crescer que eu sempre achei que este conceito funcionava. É giro e não existe em Portugal”, diz-nos, já depois de um almoço concorrido.

Izakaya
Francisco Romão PereiraTiago Penão à esquerda

Tem sido assim desde que abriu há menos de um mês. Não há lugares que fiquem por preencher. “E ao almoço até é mais calmo”, garante o chef. “À noite, há música alta, muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, pessoas a falar, muita acção dentro da cozinha. É um sítio com muita energia.” Não vá ao engano, avisa Tiago Penão. “Se uma pessoa estiver numa onda mais calma, não é o sítio para ir, isto é um sítio de rock'n'roll. É barulhento, pessoas em pé, na rua, pessoas à espera.”

São assim os izakayas no Japão. De forma curta e simplista até, podem definir-se como sítios onde se serve comida para acompanhar a bebida. “O Izakaya basicamente é um género de uma tasca japonesa, ou um pub japonês, como lhe quiserem chamar. É um sítio onde basicamente os japoneses vão depois do trabalho. Eles saem do trabalho e vão para os izakayas, comem e bebem e vão para casa”, explica o chef. “É um sítio onde há bastante a cultura de beber copos com aquela comida mais do dia-a-dia”, continua. Também por isso as reservas só são feitas para o primeiro sitting. “Depois é por ordem de chegada. Acontece muito as pessoas chegarem e ficarem em pé a beber copos e a comerem alguns petiscos enquanto esperam por lugar”, conta Tiago Penão. E há aqueles até que chegam mais tarde, só para beber um copo ou outro. “Sexta e sábado estamos abertos até às duas, a cozinha fecha entre as onze e meia e a meia-noite, dependendo de como estiver, e as pessoas a seguir ficam. Há uma vertente muito grande de bar nos izakayas e queremos explorar essa parte”, aponta. 

Izakaya
Francisco Romão PereiraEdamame

Como boa tasca japonesa, não faltam opções de saké para acompanhar a refeição, a copo (8€-18€) ou a garrafa (71€-250€). Há cerveja de arroz artesanal (4€) e marcas japonesas como a Kirin (4€), mas também cocktails clássicos dos izakayas, diz o chef, referindo-se ao chuhai (10€) e ao high ball (12€). “Um é feito com aguardente japonesa e outro com whisky”, esclarece. “Temos uma margaratita (15€) feita com o molho que sobra do kimchi, que é uma couve fermentada. Tem tido uma aceitação brutal, as pessoas gostam imenso.”

Quanto à comida, há muito por onde escolher, doses pequenas e várias, a pedir uma partilha ao balcão. “Não é um fine-dining, não é o kaseki, não é nada disso. É uma coisa muito virada para a comida do dia-a-dia. Uma grande vertente são os yakitoris e depois temos os otsumamis, que são literalmente petiscos”, aponta Tiago Penão. 

Izakaya
Francisco Romão PereiraYakitori hatsumoto (topo do coração)

Entre os yakitoris, pequenas espetadas grelhadas em carvão, destacam-se as menos vistas por cá como a hatsumoto/topo do coração (8€) ou a bonjiri/cauda de frango (8€), mas não faltam os yakitoris de coração (8€), de moelas (9€) e até com almôndega de frango (9€). Já nos petiscos, pode ir das gyozas de frango (8€) às de rabo de boi (10€), passando pelas ostras ponzu e limão kosho (12€), os edamames (5,50€) que se comem como tremoços depois de passados no fogo, e as ameijoas asari no sakamushi (18€).

Na dúvida, entregue-se nas mãos de quem sabe e faça o menu omokase (65€). Aí, não tem sequer de se preocupar em tentar perceber o menu, já que o chef e a sua equipa decidem os pratos que vai fazer. “O menu é diferente todos os dias e até pode ser diferente de cliente para cliente. Basicamente escolhemos um número de pratos do global do menu, sendo que enviamos sempre um certo número de pratos de cada capítulo. Ou seja, vão x número de yakitoris, x número dos tais petiscos e pratos de arroz igual”, elucida Tiago Penão. “E ainda não começámos, mas queremos ter umas coisas fora da carta, tipo o especial do dia e coisas assim do género. Imaginemos que um fornecedor apareceu-me com um peixe que está incrível ou um fornecedor de carne que me arranjou uns porcos biológicos muito bons, a coisa vai por aí”, diz o chef, que se vai dividindo pelos dois restaurantes. 

Izakaya
Francisco Romão PereiraOstras ponzu e limão kosho

“Os dois projectos são em meu nome portanto eu tenho sempre de estar presente nos dois. É óbvio que o Kappo, pela exigência, requer mais da minha presença, mas todas as noites vou ao Izakaya”, conta, deixando claro que não quer apenas marcar presença, mas dar o serviço e estar com as pessoas. “Muitos dos clientes já seguem o meu trabalho do Kappo, é importante estar lá para os clientes verem e saberem que o projecto é nosso também.”

Quanto a sushi, tire o cavalo da chuva. “O sushi não existe em izakaya. Quisemos mesmo mostrar às pessoas que isto não é um restaurante de sushi, queremos fugir disso”, responde depressa o chef. Mas o peixe, de qualidade e maturado no Kappo, também aqui aparece, em “poucos pratos de sashimi”, sendo talvez o sashimi moriwase (25€) o melhor exemplo.

Rua do Poço Novo 180 (Cascais). 214 045 106. Ter-Qui 19.00-00.00. Sex-Sáb 12.30-15-30, 19.00-02.00

+ Do Médio Oriente a Itália: eis a nova vida do La Cosa Nostra

+ Antes do jantar, o Memoria oferece os petiscos para um “apéritif”

Últimas notícias

    Publicidade