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Descarado é quem aqui vier comer e não ficar para dançar

O novo restaurante das Docas é filho da cervejaria Sem Vergonha, mas atreve-se mais na carta. À noite, ao fim-de-semana, ganha até uma pista de dança.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Descarado
Mariana Valle Lima
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A família é Sem Vergonha, mas neste novo restaurante nas Docas, onde antes ficava o histórico Doca Peixe, a história é outra. Não é cervejaria, como acontece no Sem Vergonha, nem o peixe é o centro das atenções como acontecia antigamente. A carta é contemporânea e internacional, o ambiente é boémio, e o vistoso bar logo à entrada não engana: quem aqui vier não vem só para comer.

A montra de peixes desapareceu e não há nada que reste do antigo restaurante. O espaço foi todo remodelado, ganhando uma vibe mais cosmopolita. Ainda pode ser um lugar para juntar a família à mesa, ou não estivesse nas Docas com uma esplanada de invejar e uma vista desafogada para o Tejo, mas talvez seja agora um restaurante com uma clientela mais transversal.  

Descarado
Mariana Valle Lima

“Isto é um filho da pandemia”, diz Francisco Nobre, um dos quatro sócios, contando que a oportunidade de abrir aqui um restaurante surgiu no ano passado, depois de o Doca Peixe ter sido comprado pelo Grupo Avillez. O resto da história não é difícil de adivinhar. Com a crise sanitária, o projecto inicial acabou por cair. “Em Setembro, o José Avillez falou comigo a ver se teríamos interesse em fazer uma parceria. Acabámos por entender ficar com o espaço”, revela. “Desde essa altura acreditei muito que as Docas iam ser um sítio que ia retomar o que foi há uns anos.” Especialmente numa altura em que a procura por espaços exteriores se tornou quase critério obrigatório para a escolha do restaurante a ir. “No Sem Vergonha, sentíamos muito que as pessoas procuravam as esplanadas.”

Na hora de decidir o que fazer num espaço tão grande, dividido por dois pisos e duas zonas de esplanadas, não foi difícil chegar à conclusão de que seria preciso alargar a família. Abrir uma segunda cervejaria Sem Vergonha não era opção, “pelo perigo de canibalização e de marginalização do nome”. “Ou seja, havendo o Sem Vergonha 1, 2 ou 3, há o risco de correndo um mal poder contaminar os outros”, explica. “Entendemos que queríamos fazer um conceito diferente, que fosse uma coisa mais moderna. Quisemos que fosse algo que remetesse para o Sem Vergonha, mas sem ser uma cópia chapada.”

Descarado
Mariana Valle Lima

O resultado é o filho Descarado – no nome, na atitude e na carta. “O Sem Vergonha é uma cervejaria clássica e já bem implementada, e o Descarado é mais rebelde, mais irreverente.” Ao qual se acrescenta uma movida notívaga: “Ficamos abertos até às quatro, temos DJ de quarta-feira a sábado”. “É um bocadinho mais atrevido”, brinca Francisco Nobre. 

No andar de cima, onde salta à vista uma lareira que promete aquecer os dias mais frios, as mesas desaparecem para dar espaço à pista de dança. “As pessoas estão a procurar muito vir jantar e ficar.” Outras há que aparecem só para a festa porque a palavra passa rápido. “Temos conseguido ter aqui pessoas que até jantam no Sem Vergonha e depois vêm aqui para um passinho de dança.”

Descarado
Mariana Valle LimaMoscow Mule

Não é de estranhar por isso a aposta forte nas bebidas. Se a carta de vinhos aparenta um cuidado e uma atenção, a de cocktails não fica atrás. Divididos entre cockails metediços, insolentes e sem pudor, há mais de 20 opções – e ao que parece o Moscow Mule (9€), com vodka, sumo de lima e ginger beer, tem tido muita saída. Nas cervejas, há quatro à pressão e outras tantas em garrafa. E até na sangria, além das clássicas branca e tinta (5€/copo, 13€/1 litro, 20€/2 litros), há uma selecção que inclui, por exemplo, vinho verde e Porto (17,5€/1 litro, 30€/2 litros) ou Aperol e Henricks com espumante Sexy Brut (55€/1,5 litro). “Há aqui uma aposta na noite”, diz Francisco, para que não existam dúvidas. 

Mas que isso não signifique que a comida é deixada para trás. Pelo contrário. Na cozinha está o chef Sandro Farinho, que já passou por restaurantes como A Cevicheria ou o Feitoria. À semelhança do que acontece no Sem Vergonha, a carta dá toda ela para ser devorada em conjunto, mesmo os pratos que aparecem sinalizados como sendo “do chef”. É o caso do polvo assado (20€), com batatas confitadas, puré de cebola caramelizada e puré de pimentos assados, ou o arroz nero de carabineiro (28€), com maionese kimchi e salada de alga wakame.

Descarado
Mariana Valle LimaCeviche

Já nas entradas, que se dividem entre frias e quentes, distingue-se o fresquíssimo ceviche do mercado (14€), feito com peixe do dia e leite de tigre como ditam as regras, a salada de polvo coreana (15€), com maionese kimchim pickle de cebola roxam tomate cherry, ervilha de wasabi, lâminas e rebentos de rabanete, ou o pica-pau de atum asiático (15€), com pickles caseiros, maionese de sésamo e molho asiático. 

Descarado
Mariana Valle LimaPolvo assado

Não falta também o croquete gordo que já tem fama no Sem Vergonha, servido com mostarda (2,5€). 

“É uma cozinha contemporânea e internacional com uma aposta forte na matéria-prima portuguesa. Muitas matérias que temos no Sem Vergonha, temos aqui. A roupagem é que é mais moderna, atrevida, mais descarada”, defende o responsável para quem a apresentação dos pratos não é um detalhe. “Visualmente são muito apelativos, com boa apresentação e muita cor.” E não é para ser fogo de vista, é mesmo para arrebatar. “Queremos criar uma tendência para que as pessoas voltem. E temos conseguido, é o que acontece no Sem Vergonha”, diz, notando “uma reconversão nas Docas”. “Temos alguma culpa nisso e ainda bem. Há muitos restaurantes a abrir, e os que estão reiventaram-se de certa forma, para que as Docas voltassem a ser um espaço de eleição, não só para os turistas, mas também para os portugueses.”

É a pensar nos locais que o restaurante tem também um menu executivo, de terça a sexta-feira, com couvert, prato do dia, bebida e café por 20€. Para encontros de grupo, o Descarado também tem opões a partir de 35€. 

Doca de Santo Amaro, Armazém 14 (Alcântara). Ter-Qua 12.00-01.00. Qui-Sáb 12.00-03.00. Dom 12.00-18.00

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