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Mais do que uma loja, este é um daqueles sítios onde nos podemos perder — em épocas e acabamentos, em detalhes e medidas, a visualizar como esta ou aquela peça ficariam lá em casa. Os objectos são às centenas e atravessam séculos de história. António Sousa é um dos proprietários e o curador de serviço. Há 40 anos que faz disto vida — avaliar, escolher, comprar e vender — e a Relíquias da Memória é o mais recente capítulo.
“Isto começou tudo com o meu pai. Sempre quis ser piloto, não consegui. Foi ele que um dia me perguntou o que é que eu queria fazer a partir daquele momento, do que é que gostava. Sempre adorei história e, a partir daí, encorajou-me a entrar neste mundo”, conta. A narrativa é mais complexa. Um problema de saúde fechou-lhe a porta do maior sonho, mas acabou por abrir uma outra, a das antiguidades.
Durante quase duas décadas, teve uma pequena loja em pleno Chiado: a Barbacã, na Calçada Nova de São Francisco. Em Agosto, abriu a Relíquias da Memória (no espaço anteriormente ocupado pela República das Flores), onde as peças de decoração, mobiliário e luminária são a perder de vista. Há de tudo um pouco: arte sacra, móveis oitocentistas, candeeiros da década de 60, porcelanas orientais, lustres, letreiros e até um antigo posto de gasolina.
“O segredo está na irreverência. Nunca gostei de ser referenciado por vender porcelana ou por vender imagens. Vendo aquilo que gosto e o que tem pinta”, admite. Em nome de um ecletismo visual, António sempre fugiu à especialização que rege a maioria dos antiquários. Na nova loja, mistura tudo. “O que me dá mais gozo é ver as pessoas entrarem e começarem a descobrir”, continua, em conversa com a Time Out Lisboa.
O rol de clientes é tão ou mais diverso. Falam português (alguns são vizinhos) mas também inglês, francês, russo ou mandarim. Do Brasil, França e Espanha chegam muitos dos novos moradores da cidade. Os preços, que vão dos dois aos quatro dígitos, agradam a todos. “Há uma regra que aprendi há anos: o lucro não está na venda, está na compra”, refere. A maioria das aquisições são feitas em Portugal, especialmente por ocasião de falências e partilhas.
Mas António não está nisto sozinho. Tem mais três sócios: a mulher, Rita Praça, Pedro Muñoz, um decorador espanhol amigo do casal, e um quarto elemento que prefere manter-se no anonimato. As novidades estão sempre a chegar, até porque a maioria das peças não ocupa aquilo lugar por muito tempo. Algumas são reparadas e alvo de pequenos restauros antes de serem postas à venda, enquanto outras mantêm as marcas do tempo, aquilo a que se chama patine.
A cirandar pela Relíquias da Memória, descobrimos uma colecção de aviões suspensos no tecto. António e Rita não lhes resistem até hoje, embora os voos sejam outros.
Rua da Misericórdia, 31. Seg-Sáb, 10.30-20.00.