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O Padrão dos Descobrimentos, a Casa Fernando Pessoa ou o Museu do Fado são alguns dos espaços culturais que desde 1 de Dezembro os moradores de Lisboa com idade até aos 23 anos ou com mais de 65 (inclusive) podem visitar de graça, através de um novo instrumento chamado Passe Cultura. Dois meses depois, 2000 pessoas usufruíram dele.
Diogo Moura, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), considera o valor “satisfatório” para um programa que, admite, não teve qualquer estudo ou projecção. Em entrevista, o autarca eleito pelo CDS-PP, que acumula outros pelouros (Economia, Espaço Público, Orçamento Participativo e Juntas de Freguesia), fala ainda sobre os atrasos nas obras da cidade, a subida do preço nas entradas de monumentos só para turistas e justifica a redução do orçamento dado à EGEAC, a empresa municipal que gere equipamentos culturais e que ficará encarregue pelo renovado Teatro Variedades. O Capitólio também pode voltar à alçada municipal.
Quantas pessoas usufruíram do Passe Cultura?
Neste momento, que perfaz dois meses de implementação, tendo ainda as festas de Natal pelo meio – ou seja, há uma parte em que não há programação –, tivemos 1700 pessoas [uma semana depois desta entrevista, a Câmara divulgou os números actualizados, perfazendo 2000] que aderiram a esta iniciativa. É bastante satisfatório.
Estava prevista uma campanha de divulgação que não avançou. Porquê?
Ainda não avançámos e por isso ainda mais surpreendente é o número de pessoas que aderiram. Temos tido várias campanhas da CML, desde o Recuperar+, que foi uma emergência, por causa das inundações, de apoio às empresas e às famílias, e tivemos o lançamento do Plano de Saúde 65+. Estamos a tentar passar estas campanhas para não termos tudo em simultâneo, e depois então lançar a campanha do Passe Cultura. Uma vez que ele tem uma vigência maior e estes programas têm uma vigência temporal muito mais pequena e são medidas urgentes que temos de implementar já, decidimos atrasar um pouco o lançamento da campanha, mas estamos a divulgar em tudo o que são equipamentos municipais aderentes a esta iniciativa. Acho que os números são positivos.
Face à expectativa que tinham? Houve algum estudo ou alguma projecção que tivesse sido feita para a implementação deste programa?
Não. Tínhamos noção que os equipamentos municipais que geralmente têm lotação esgotada teriam mais procura, o que se comprovou. Em particular nos -23 está o LUCA [Teatro Luís de Camões], porque é um teatro direccionado para a programação infantil, e depois nos 65+, mas também com um número expressivo em termos de jovens, o São Luiz Teatro Municipal.
São os equipamentos mais utilizados através do Passe Cultura?
Sim. Nos menores de 23 anos quase 90% foi de acesso a teatro, ao LUCA e ao São Luiz. Nos maiores de 65, 50% dos que aderiram foi para o acesso ao São Luiz, mas também ao Palácio Pimenta, onde temos o Museu de Lisboa. Percebe-se que há um maior interesse das pessoas com mais de 65 pela história de Lisboa e a parte museológica, e no caso dos -23 percebe-se que é o teatro.
Que impacto teve na receita nestes dois meses?
Não sei o valor exacto. Tínhamos um valor estimado de perda de 80 mil euros para todos os equipamentos até Junho. O que, tendo em conta aquilo que são as receitas da EGEAC dos equipamentos, é um valor muito irrisório para aquilo que é a mais-valia deste programa.
O subsídio dado pela Câmara à EGEAC tem diminuído. Em 2020 foram 23 milhões de euros, em 2023 são 11,3. O que motiva este corte de quase 50% no espaço de três anos? E o que sofre com ele: a programação, os recursos humanos?
Na prática é preciso fazer uma distinção. Quando pensamos na cultura na cidade, e isso foi mostrado quando apresentámos o Orçamento [Municipal], houve um acréscimo de cerca de 25% no orçamento total da CML no que diz respeito à cultura.
Agora nos 40 milhões de euros.
Sim. Em 2020 e 2021 tivemos um acréscimo. Aliás, no próprio ano de 2021 foram feitas várias adendas do subsídio à exploração, para aumentar, tendo em conta que houve menos equipamentos abertos, menos espectáculos, muito também virado para o digital, mas foi preciso reforçar aquilo que eram as despesas da EGEAC face à diminuição das receitas. Isso teve um impacto em tudo, desde os teatros aos espaços que são maioritariamente frequentados por turistas, como o Castelo de São Jorge ou o Padrão dos Descobrimentos, que tiveram uma quebra acentuada. Este ano, depois da análise feita pela actual administração, conseguiu-se aferir que não havia necessidade de transferir os 16 milhões, porque no ano passado havia ainda um impacto negativo da pandemia. Este ano foram menos porque também há uma perspectiva maior de aumento das receitas da EGEAC.
Sendo que há uma perda com o Passe Cultura.
Sim, mas muito diminuta. Isso não desequilibra as contas da EGEAC. Não é que se tenha cortado em termos de actividade e investimento, até porque, por exemplo, vamos fazer uma obra de meio milhão de euros no Museu de Lisboa: o primeiro piso do museu está fechado há anos e portanto decidimos investir para abrir essa ala, que é extremamente importante para o principal museu da cidade. Mas também há uma perspectiva de aumento das receitas. A crise inflacionária ainda se vai sentir, mas já percebemos que a actividade na cidade está a retomar e no mês de Abril, com o aumento do turismo, vai aumentar exponencialmente. Houve um aumento das receitas em relação ao Castelo de São Jorge e ao Padrão dos Descobrimentos, em que a entrada aumentou. Esse crescimento da receita faz com que se consiga equilibrar as contas e que não haja tanta necessidade de um subsídio à exploração por parte da CML. No Castelo de São Jorge, por exemplo, [a entrada] aumentou, mas não afecta quem é lisboeta. Afecta na maioria turistas, que é o principal público. Estamos a falar de um valor que passou de 10 para 15 euros, mas que vai em linha daquilo que são monumentos e espaços como estes na Europa.
Ou seja, o menor investimento da CML na EGEAC prende-se com a expectativa de maior receita da EGEAC?
A questão é que não há desinvestimento. Há um equilíbrio melhor das contas. É preciso ter em conta também que a par da CML de Lisboa e de outras empresas, houve o aumento normal dos salários, como fez o Governo, e portanto, mesmo assim, o que conseguimos foi, optimizando recursos dentro da casa, ter este aumento de receita que está previsto e que me parece totalmente exequível que se realize durante o ano de 2023.
Uma das soluções encontradas para captar investimento nos últimos anos tem sido a renomeação dos equipamentos. Vimos agora o caso do Campo Pequeno que passará a chamar-se Sagres Campo Pequeno. Como olha para esta renomeação de algumas salas históricas da cidade? Como de resto já aconteceu com o Tivoli BBVA, por exemplo.
Não tenho nada contra. São iniciativas privadas e todas as entidades têm essa legitimidade. Percebo que as entidades hoje em dia e as estruturas culturais tenham que ganhar algumas fontes de financiamento para fazer face àquilo que são as despesas. Nós sabemos que a cultura é um investimento, mas a verdade é que há custos operacionais e logísticos que é preciso enfrentar, e muitas vezes aquilo que são as receitas de bilheteira não chega. Parece-me normal se encontrem estratégias de financiamento que possam passar não só pelo mecenato, mas através de patrocinadores oficiais, a vários níveis, nomeadamente ter um patrocinador que faça o naming do espaço. Que, aliás, é algo que tem vindo a ser feito em equipamentos ao longo dos anos e que pelos vistos tem resultado em termos de equilíbrio financeiro das entidades e das estruturas.
O programa Teatro em Cada Bairro [que prevê uma rede de teatros em várias zonas da cidade]. Depois da inauguração do Avenidas [no bairro do Rego], a próxima abertura divulgada é o Cine-Teatro Turim, em Benfica. A abertura mantém-se em Abril?
As obras vão começar no próximo mês. Abrirá em Maio.
Começam em Março?
Finais de Fevereiro, Março, depende sempre depois do concurso, da adjudicação, mas à partida sim. Já está tudo previsto, é um projecto que será feito a meias com a junta de freguesia de Benfica, esse é um dos modelos do teatro em cada bairro.
Segue-se o de Belém.
Sim, vamos começar com as obras. É um espaço mais difícil porque está praticamente em ruínas. O edifício sofreu um grande incêndio. Estamos a perceber de que forma podemos intervencionar, a fazer a avaliação do projecto para perceber em quanto é que fica e se é exequível.
Então há a possibilidade de já não abrir este ano.
Este ano, não. Este ano será sempre de obra.
E o que estava previsto na Ajuda?
Também. Este ano pode haver a possibilidade de abrir um em Alvalade. Estamos a perceber. Ainda não posso revelar onde, mas à partida conseguiremos. E já estamos a testar outros locais também.
Este programa do Teatro em Cada Bairro foi uma grande bandeira deste executivo. Isso deveu-se a um diagnóstico de que os equipamentos na cidade eram insuficientes?
Eles são insuficientes porquê? Porque por um lado temos imensas estruturas que não têm espaços, para poder representar, para poder apresentar os seus trabalhos, e muitas delas não têm espaços para ensaios. Esta lacuna já está há muito tempo identificada, aliás, lembro-me do último estudo que foi feito, da Estratégia para a Cultura 2017, esta era uma lacuna que saltava aos olhos de todos, que era uma necessidade da cidade de Lisboa. Os equipamentos da cidade hoje em dia, pelo menos os municipais, não são suficientes para dar resposta a esta procura por parte das estruturas, mas também muitas vezes por grupos informais na área da cultura. Quisemos casar essas duas necessidades. E, mais do que tudo, procurar também parceiros que possam abrir espaços de Teatro em Cada Bairro, que possam partilhar os seus espaços. Isto tem de funcionar como uma rede que trabalha em itinerância e entre si também, que trabalhe em proximidade com as comunidades, mas que também funcione como uma partilha entre várias estruturas e várias necessidades. Alguns de forma mais permanente, outros de forma mais temporária, mas acho que é a única forma de nós, a médio prazo, podermos dar resposta às necessidades das actividades culturais da cidade de Lisboa e de todas estas estruturas.
O espaço Avenidas abriu em Dezembro, mas sem programação. Não se corre o risco de daqui a uns anos termos uma série de equipamentos reabilitados, mas vazios?
Isso será impossível porque a procura não nos deixará certamente que estejam vazios. Estes espaços também têm de ser vistos como espaços de proximidade. Não têm uma dinâmica só cultural, também têm de ter uma componente social e económica muito importante, de valorização da comunidade que o envolve. Não pode ser um espaço fechado em si, tem de ser um espaço aberto à comunidade. Neste momento já temos programação prevista e pré-programada para o Avenidas, até Agosto. Ainda não a lançámos.
Essa programação está a ser feita por quem?
No caso em particular do Avenidas temos uma equipa da CML que depois é articulada com a rede social da freguesia, com a rede comunitária, com várias entidades culturais do local, com várias associações, desde a polícia às escolas, mas depois é aberto a todos. Se tivermos um grupo da cidade de Lisboa que precisa de um espaço para fazer uma apresentação e precisar do nosso auditório, estes espaços estão abertos para isso mesmo.
A ideia é replicar esse modelo, ou seja, todos terão a programação sob gestão de uma equipa da CML ou isso variará?
Temos vários modelos. Neste modelo [do Avenidas] como o edifício é municipal a gestão é feita pela CML e há uma parte em articulação com a junta de freguesia das Avenidas Novas, que tem um piso para serviços deles, mas com quem vamos fazendo esta articulação. Neste caso a equipa, os recursos humanos, é da CML. No caso de Benfica, foi a junta que fez o contrato de arrendamento com o Cine-Teatro Turim, à qual afectará recursos humanos seus. A CML entrará com parte da programação e com este valor agora para obras. É um modelo diferente. O que vamos fazer é, consoante os espaços que existem na cidade, adaptar o modelo a cada um.
Os Artistas Unidos asseguraram a permanência no Teatro da Politécnica até 2024, depois de uma negociação com a Universidade de Lisboa que teve como "intermediário" a Câmara. Segundo a companhia, existe já uma proposta de espaço na Rua do Diário de Notícias, no Bairro Alto [precisamente num edifício onde esta companhia esteve instalada até 2002]. Confirma que ficarão no espaço da A Capital [onde o antigo jornal homónimo foi fundado]?
Está em cima da mesa, ainda esta semana houve uma reunião no local com a companhia de teatro e com os nossos serviços para poder aferir que necessidades temos de efectuar para adaptar aquele espaço a um espaço que seja exequível para a actividade dos Artistas Unidos. Foi esse trabalho que fizemos, de terreno, com os arquitectos, com os técnicos especializados, e agora vamos avaliar. Há ali uma parte dentro do espaço que teremos de adaptar para fazer face às necessidades da companhia e portanto é isso que está em estudo.
Portanto, é certo que os Artistas Unidos vão para este espaço?
Se conseguirmos fazer essa adaptação, sim. Se não, teremos de encontrar outro espaço. Mas à partida tudo se encaminha para ali, é isso que queremos. Os Artistas Unidos, também. Voltam praticamente ao espaço de origem. É só vermos uma adaptação que tem a ver com o projecto de construção do edifício, que quando foi projectado não era expectável que tivesse uma companhia de teatro. Estamos totalmente empenhados neste processo. Da Universidade de Lisboa [UL] também houve alguma abertura depois de algumas questões entre a Universidade e os Artistas Unidos, mas foi possível estender e prolongar o contrato de arrendamento até ao início do ano que vem. Esperemos tentar resolver esta situação até lá. Hoje em dia, como sabemos, os prazos das obras não conseguem muitas vezes ser cumpridos por várias vicissitudes, mas estamos a fazer todos os esforços para que isso aconteça.
O destino do Cineteatro Capitólio tem de estar aliado ao que será o Teatro Variedades, para trabalharem em conjunto.
Há um plano antigo de juntar essa zona, do fim do Jardim Botânico até ao Parque Mayer, um plano que até prevê um funicular. Esse plano ainda está em cima da mesa?
O que está previsto para o espaço da Politécnica é haver um espaço expositivo laboratorial de materiais que estão guardadas em armazéns da UL, ali no Museu de História natural, que já há alguns anos tem um projecto para alocar na zona onde está agora os artistas unidos. Por isso é que eles precisam daquele espaço e pretendem que os Artistas [Unidos] saiam. Depois, há o projecto do Parque Mayer, que estamos a desenvolver. Era extremamente importante fazer essa ligação, pedonal. Um funicular não me parece, até porque há um plano pormenor do Parque Mayer, de salvaguarda, há um plano de salvaguarda do Jardim Botânico, que é extremamente importante. Estamos a falar com esta entidade e vamos falar de forma mais formal num futuro próximo, no âmbito daquilo que será o projecto do Parque Mayer, para termos esta ligação pedonal ao Jardim Botânico. Em tempos idos, nos contactos preliminares, havia essa abertura para que isso acontecesse, acho que é importante para o Jardim Botânico ter cada vez mais pessoas que possam aceder ao mesmo. Não ter só uma entrada na zona norte, mas ter também uma entrada pela zona sul. Mas lá está, são matérias que nós vamos afinar no final do processo do projecto que queremos alavancar no Parque Mayer.
Em Dezembro, o presidente da Câmara dizia que estava a ser preparado um "concurso de ideias" para o Parque Mayer. Esse concurso já está pronto?
Não é um concurso de ideias, é um concurso de concessão. Estamos a elaborar todos os elementos, a avaliar o plano de pormenor, a ver as datas de execução, o que é que teremos ali de componente cultural e que mantenha a identidade e a história do Parque Mayer. Como diz o presidente da Câmara, um Parque Mayer 2.0 que seja virado para o futuro, mas que obviamente valorize e mantenha parte daquilo que é a sua história, a ligação ao teatro de revista, ao Teatro Variedades que se mantém ali no seu espaço, ou ao Capitólio. É nessa matéria que temos vindo a trabalhar nos últimos três meses. Em Março já devemos ter estabilizado aquilo que queremos fazer.
No caso do Capitólio, a concessão foi dada à [promotora de concertos] Sons em Trânsito e termina em Março. A ideia é lançar um novo concurso ou o modelo está a ser repensado?
Estamos a repensar o modelo com base neste projecto que temos para o Parque Mayer. O destino do Cineteatro Capitólio tem de estar aliado ao que será o Teatro Variedades, para trabalharem em conjunto. Mas ainda estamos a estudar esse modelo.
Mas daqui a um mês a Sons em Trânsito já não estará lá?
Daqui a um mês, não. O contrato é até Outubro, eles terminavam no ano passado e foi renovado por um ano.
Portanto, há a possibilidade de voltar à alçada da Câmara?
Há a possibilidade, sim.
No caso do Variedades, a quem passa à porta parece pronto. O que o impede de abrir? Está a ser prevista uma concessão?
O Teatro Variedades está entregue à EGEAC. A obra atrasou um pouco, temos ali umas pequenas questões urbanísticas que temos de resolver. Vamos iniciar uma obra de colectores de saneamento que é extremamente importante para aquela zona. Começa agora a meio de Fevereiro. Depois estamos a lançar a parte cénica e de bancadas. É isso que ainda não temos. Não temos a plateia, os assentos. Esperamos que até ao final do ano ou no início de 2024 o teatro fique pronto para abrir portas.
Com programação a cargo da EGEAC.
À partida a cargo, sim. Também é um modelo que estamos a definir.
O Capitólio tem tido uma programação vocacionada para a música, por exemplo. Há alguma directriz da Câmara para aquilo que se espera que seja o foco da programação do Variedades?
O Cineteatro Capitólio quando foi feita a sua renovação limitou um pouco as actividades que ali podem ser feitas. Teatro é muito complicado fazer naquela sala. Seja em termos de acústica, mas em termos das próprias condições do espaço, não são as mais adequadas para teatro, portanto tem-se optado muito por concertos, dança, tem havido várias conferências, eventos. O Capitólio tem-se dedicado a este tipo de programação. No futuro a programação pode ser diferente, mas temos de olhar para as limitações do teatro e das obras que ele teve, que nos limita o que se pode fazer ali.
Nesta planificação para o Parque Mayer e os seus espaços, como é que tem sido o diálogo com o Maria Vitória, tem estado nas conversações?
Neste momento ainda só estamos a ver o que é que vamos fazer na zona. Mas o Teatro Maria Vitória tem de ter o seu espaço, o teatro revista tem de se manter, não está esquecido. Temos articulação com eles. Não nesta parte de desenvolvimento do projecto, porque ainda está a ser um trabalho interno de serviços, para perceber as várias condicionantes, do ponto de vista patrimonial, urbanístico, casar todas estas valências, mas iremos depois falar obviamente com aqueles que estão ali. Não só o Teatro Maria Vitória, mas também o restaurante A Gina, que já é emblemático naquele espaço, e todos eles fazem parte do Parque Mayer.
Falando de uma outra concessão, a do Teatro Maria Matos, que está entregue à Força de Produção. Na altura o CDS-PP opunha-se a esta concessão. A meio do contrato, que começou em 2020 e tem a duração máxima de cinco anos, continua a ser contra?
Acho que a concessão tem corrido bem. A posição que tinha era de que se devia manter na gestão da EGEAC. Foi uma opção na altura, não vou criticar porque estou aqui em representação da Câmara. Mas vamos acompanhando a evolução destes contratos de concessão. É preciso olhar para todos e perceber até que ponto são viáveis e se mantêm no futuro. Neste momento, as concessões estão a correr bem, mas é uma matéria que a EGEAC está a estudar e que nós depois avaliaremos.
Quanto ao MUDE [Museu do Design e da Moda], qual é o ponto de situação? Sabemos que está em curso a discussão sobre quem gere o museu, o único museu municipal que não está sob a alçada da empresa municipal de cultura, a EGEAC.
Essa é uma matéria que não está decidida. [Para já] mantém-se na esfera municipal e portanto gerido pela CML. A data de abertura está prevista para o final do ano. Também teve alguns atrasos. Teve de haver ali uma conciliação de obras que demorou mais tempo do que o expectável. Neste momento estamos em velocidade cruzeiro nos procedimentos para a abertura, desde a comunicação à sinalética e à iluminação. Tudo o que é recheio e preparação do espaço está a ser feito em simultâneo com a obra.
Sobre o altar-palco, já há alguma perspectiva de algum evento que tenha demonstrado interesse ou que possa de facto acontecer lá findas as Jornadas Mundiais da Juventude?
Neste momento, não. Primeiro, é uma pasta que não está comigo, portanto não lhe posso dar dados muito concretos sobre essa matéria. A ideia é que, mais do que um custo, é um investimento. Estamos a criar uma nova estrutura que fica para a cidade. Não só o Parque Tejo, que era um aterro que não podia ser utilizado, que fica aberto a todos, como pode ser utilizado no futuro para grande eventos. O palco ali será extremamente importante como centro de toda aquela actividade. Programação não existe. Neste momento ainda estamos a resolver as questões actuais e depois no futuro, sim, pode-se pensar no que se pode fazer naquele palco.
Não terá o mesmo destino da Pala da Doca de Santo Amaro, feita para a Expo 98, que também se esperava que fosse um palco de grandes concertos e onde depois aconteceram meia dúzia de eventos?
Acho que o investimento que foi feito naquela pala... Cheguei lá a fazer um concerto em vidas anteriores. Tem ali um grave problema, que é o ruído da ponte e do comboio. É muito difícil fazer ali algum tipo de eventos. A pala acabou por ser aproveitada para área desportiva. Portanto acho que o investimento não foi deitado ao lixo, foi aproveitado. O Parque Tejo tem exactamente as condições contrárias. É o espaço que ainda assim tem uma zona residencial próxima, mas diminuta face aquilo que são outros espaços da cidade de Lisboa onde existem concertos. É um espaço privilegiado para fazermos grandes eventos para grandes massas e penso que é um novo espaço que a cidade ganha, extremamente importante. Não vai ao encontro de muitas das problemáticas que são levantadas em relação a outras zonas da cidade onde há eventos, por causa de serem espaços verdes, que têm de ser protegidos, por questões do ruído, da fauna e da flora. Ganhamos ali um grande espaço e que fica para um futuro longínquo.