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‘Divertida-mente 2’: a culpa é toda da puberdade

O novo filme da Pixar chega aos cinemas portugueses a 11 de Julho. Em cena, uma miúda de 13 anos e novas emoções ao rubro. Falámos com as vozes da versão portuguesa.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
INSIDE OUT 2
Pixar‘Divertida-mente 2’
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Mudar de cidade, de casa e de escola não é pêra doce. Riley e as suas emoções primordiais – Alegria, Medo, Raiva, Tristeza e Repulsa – sabem-no bem. Mas nada é capaz de competir com o caos que é amadurecer. Quando o “alarme da puberdade” toca, não é só o corpo que começa a mudar, e as mudanças que não vemos, mas que sentimos com intensidade x2, são porventura a maior revolução de todas. É o que acontece em Divertida-Mente 2. Dois anos depois de ir viver para São Francisco, Riley, agora uma pré-adolescente, está prestes a entrar no secundário e a sua mente inclui um recém-formado elemento, o seu “sentido do Eu”, construído a partir das memórias e dos sentimentos que formam as suas crenças. Até que, de repente, é hora de fazer renovações no Quartel-General que conhecemos e tudo o que Riley é e o que as suas emoções conhecem fica novamente sob ameaça.

Realizada por Kelsey Mann, a animação da Pixar só chega aos cinemas portugueses esta quinta-feira, 11 de Julho, mas já atingiu o marco histórico dos dois mil milhões de dólares e mantém o primeiro lugar nas bilheteiras norte-americanas pelo terceiro fim-de-semana consecutivo. É fácil perceber porquê. Todos passamos pela puberdade, esse período que marca a transição da infância para a idade adulta, entre os 10 e os 19 anos. No início é particularmente difícil. Um pequeno acidente ou conflito é como uma tempestade num copo de água. Afinal de contas, os adolescentes sentem, em média, mais ansiedade do que as crianças ou os adultos, e a controladora Ansiedade, que parece ter bebido mais café do que a sua conta, é precisamente uma das novas emoções a chegar ao Quartel-General, juntamente com a carente Inveja, a insegura Vergonha e a não-estou-nem-aí Apatia. Pior, chegam numa altura particularmente sensível: Riley está prestes a ir para um estágio de hóquei com as suas melhores amigas, Bree e Grace, e a confrontar-se com a vontade de se juntar a um grupo de miúdas mais velhas e cool.

INSIDE OUT 2
PixarVergonha, Ansiedade, Inveja e Apatia, as novas emoções de Riley

Mais desajeitada e consciente de si própria, Riley está naquela fase em que lhe é fisicamente impossível parar de pensar em como é que os seus pares a vêem. Na sua mente, a Alegria, que esteve em controlo até agora e faz questão de proteger o “sentido do Eu” que ajudou a construir, é agora desafiada pela Ansiedade, que chega pronta para garantir que Riley vai ser aceite e bem-sucedida a todo o custo. E, apesar de ser impossível prever as consequências de a pressionarem demasiado, é precisamente isso que acontece. Esse fenómeno universal, que é mudarmos quem somos só para que gostem de nós e acabarmos a perceber que, se calhar, não precisávamos de ter mudado, e que as experiências menos felizes também são lições importantes e podem abrir caminho para a melhor versão de nós próprios.

“Quando era miúda, também tive problemas de ansiedade. Neste filme, confrontei-me com essa minha emoção. Não posso dizer que tenha sido terapêutico, mas foi bonito”, revela Carla Garcia, que interpreta a voz portuguesa da Alegria (Amy Poehler no original). Bárbara Lourenço, que interpreta Repulsa (Liza Lapira), não podia concordar mais. “Na maior parte das vezes a adolescência não é maravilhosa. É caótica, angustiante. Estamos sempre em dúvida, sobretudo em momentos de ansiedade, em que imaginamos cenários que nos parecem extremamente realistas, mas que ainda não aconteceram e provavelmente não vão acontecer”, acrescenta. “Eu acho este filme fundamental, para os miúdos que estão a passar pelo mesmo, para os mais novos, que têm oportunidade de perceber aquilo porque vão passar, e para os adultos, que ganham uma nova perspectiva.”

INSIDE OUT 2
PixarA Tristeza e a Alegria no interior do “sistema de crenças” da Riley

A Ansiedade (interpretada por Maya Hawke no original e Érica Rodrigues na versão portuguesa) é uma clara antagonista, mas não é uma vilã, e o mesmo é verdade em relação à Vergonha (Paul Walter Hauser/Eduardo Madeira), que explora a forma como os adolescentes lidam com a insegurança; à Inveja (Joana Coelho), que representa o sentimento de “quem me dera” com o qual todos nos tornamos familiares mais tarde ou mais cedo; e à Apatia (Adèle Exarchopoulos/Letícia Blanc), que personifica aquele lado que não quer saber ou lidar com o mundo. “Acho incrível a forma como se consegue, através de um filme divertido, cheio de emoção e de emoções, falar de coisas tão complexas como o que se passa no nosso cérebro durante a adolescência”, diz o humorista e actor Eduardo Madeira. “Toda a gente tem estas emoções todas, e a grande questão é aprendermos a controlá-las, encontrarmos um equilíbrio. Pessoalmente, estou muito ansioso para que as minhas filhas vejam, porque a mais velha tem quase a idade da Riley.”

Será Riley capaz de lutar contra o perfeccionismo e a pressão de grupo? Será a sua Ansiedade capaz de perceber que um bocadinho é bom, muito é demais? Serão as outras emoções capazes de refrear os seus piores instintos? São algumas das pequenas grandes questões que guiam Divertida-Mente 2 ao longo de não uma, mas três aventuras – a do mundo real, onde acompanhamos o estágio de hóquei de Riley, e as que acontecem no seu interior, com as novas e as antigas emoções a competir pelo controlo do Quartel-General. Pelo meio, não só voltamos a ter um vislumbre das Ilhas da Personalidade (a da Amizade é agora gigante comparada com a da Família) e da Terra da Imaginação (que agora inclui uma Montanha de Crushes e um jornal de mexericos), como descobrimos a existência da “parte de trás da mente”, para onde vão todas as coisas em que não vale a pena pensar, e O Cofre, uma espécie de prisão para segredos e, surpresa, emoções reprimidas.

“Eu tinha 14 anos quando fiz o primeiro filme. Passaram-se nove anos, a minha voz mudou entretanto. E, apesar de agora ser muito mais velha do que a Riley, lembro-me muito bem de como foi ter sido adolescente”, partilha Luz Fonseca, que interpreta a voz da protagonista na versão portuguesa (Kensington Tallman no original). “Acho que esta sequela está muito bem conseguida. Não são só as novas emoções, é todo o contexto de ter de escolher entre as velhas e as novas amigas, de nos queremos sentir incluídos”, explica Luz, antes de admitir que não se importava nada de voltar a fazer o papel daqui a uns anos, talvez quando Riley estiver a entrar na faculdade e a confrontar-se com o drama que é ser um jovem adulto. “Eu gostava. Acho que seria muito giro. Fica a ideia.”

Estreia a 11 de Julho nos cinemas portugueses

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