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Pedro Maia é cineasta e especialmente versado em live cinema. Lucy Railton é violoncelista, com um gosto pela improvisação. O que juntou os dois? Um filme-concerto, resultado de uma residência artística conjunta de dez dias nos Açores, que combina som e imagem num espectáculo musicado ao vivo.
Um projecto que começou por ser encomendado pelo Walk&Talk (Festival de Artes dos Açores) em jeito de concerto de abertura do evento. “A ideia, desde o início, era fazer um espetáculo que pudesse ser fortemente influenciado pela geografia dos Açores”, revelou Pedro Maia à Time Out Lisboa.
Pedro e Lucy já se conheciam há algum tempo, precisamente de alguns encontros proporcionados pelas lides artísticas. “Quando o Walk&Talk fez o convite, achei que era o projecto ideal para finalmente colaborarmos e que seria musicalmente interessante para trabalhar com field recordings [gravações no terreno], violoncelo e sintetizadores modulares. Lancei o desafio à Lucy e cá estamos.”
No caso do cineasta, as características geográficas dos Açores, pelo clima e pelas particularidades das diferentes ilhas, vem de longe. “Durante a residência, sabíamos que essa exploração seria o foco da criação. Por isso é que cada dia começava com uma caminhada e terminava com a revisão do material recolhido. Dia após dia, o projecto começava a ganhar forma. O título Janela do Inferno faz referência a uma das caminhadas.” Janela do Inferno é uma parede vertical em São Miguel, com nascentes e uma cavidade criada pela erosão da água.
Janela do Inferno é um trabalho de resposta à natureza e forças sísmicas que compõem o arquipélago. “Decidimos basear parte do conceito na ideia de rotação constante — isso guiou-nos tanto nas imagens, como no som — e, como na Janela do Inferno, criar uma espécie de portal para o exterior, um olhar de dentro para fora, um ponto de vista do interior do vulcão para um universo sempre em movimento.”
É um trabalho sonoro e visual dinâmico, com performance do violoncelo ao vivo e gravações captadas nas ilhas, convertendo a experiência vivida nos Açores num produto artístico. A luz desempenha também um papel fundamental — com o espectáculo a alternar entre brilho e escuridão —, além da atenção à beleza dos detalhes. O som do violoncelo de Lucy foi gravado num farol, e as imagens com que Pedro trabalha foram gravadas em formato digital, mas posteriormente transformadas e editadas em película.
Teatro do Bairro Alto, Rua Tenente Raúl Cascais, 1A. Ter (29 de Março) 19.30. Bilhetes: 12€ (5€ para menores de 25 anos).
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