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A intervenção no Bairro de São Miguel, em Alvalade, desdobra-se em três fases. A primeira, já concluída, foi na Rua Diogo Bernardes, com o objectivo de melhorar os canteiros e logradouros, fortalecer os solos, colocar um sistema de rega gota-a-gota e plantar novos arbustos. A segunda incidiu sobre a Praça Francisco de Morais, devolvendo água ao lago com repuxo e melhorando o piso desta zona de convívio do bairro. E a terceira, com início previsto para Setembro, implica a requalificação da zona envolvente da Escola Básica do Bairro de São Miguel, que foi alvo de obras de melhoria em 2019, obras essas que deixaram sequelas na área circundante e que é preciso resolver, como explica à Time Out Tomás Gonçalves, vogal da Junta de Freguesia de Alvalade (JFA).
A requalificação resulta de um investimento total de 95.400 euros, ao abrigo de um contrato de delegação de competências entre a Câmara Municipal de Lisboa e a JFA, com o objectivo não só de melhorar o espaço público e permitir uma vivência social mais rica dos moradores, como também de valorizar o legado paisagístico de Gonçalo Ribeiro Telles nesta zona de Lisboa.
Recuperar a Alvalade dos anos 50
Desenhada pelo arquitecto João Faria da Costa, a urbanização a sul da Avenida Alferes Malheiro, que viria a ser Alvalade, começou a erguer-se em 1947. A ideia era esta: expandir a cidade para Norte, projectando-se para aquela nova zona uma capacidade para alojar 45 mil pessoas, a partir de um plano dividido em oito células, cada uma delas centrada num equipamento escolar. Nada por acaso. O Bairro de São Miguel era a sétima célula e o projecto paisagístico coube a Ribeiro Telles, então um jovem de 28 anos, que já defendia o conceito que haveria de reiterar ao longo da vida: o da necessidade de as malhas urbanas serem atravessadas por corredores verdes, ou "contínuos naturais". Uma das finalidades da reabilitação agora em curso é precisamente não deixar morrer essa ideia, na década em que mais se fala sobre a resiliência das cidades às alterações climáticas e na importância de naturalizar o espaço público.
Contrariar "o impacto negativo da ilha de calor com a redução de zonas pavimentadas e não arborizadas", conforme se lê na memória descritiva do projecto em curso, partilhada com a Time Out, é assim um dos efeitos calculados por Ribeiro Telles e que agora se tem o intuito de reforçar. Ao mesmo tempo, criar zonas verdes e de estadia, ligadas ao projecto original de São Miguel, é uma forma de se "fortalecer a identidade do bairro", explica Tomás Gonçalves.
Já em 2017, no mandato do executivo anterior, o jardim da Rua António Ferreira, junto à Escola Básica, foi alvo de intervenção, perante a criação de um espaço de estadia e a instalação de um bebedouro (que incluía uma saída de água para cães). Também houve uma intervenção no lago da Praça Francisco de Morais, mas não de fundo, de acordo com o testemunho do actual vogal da JFA.
"Actualmente o espaço é sentido como velho e degradado. O elemento de água não está operacional e a vegetação perdeu muito da sua qualidade cénica. O pavimento em betuminoso está degradado e reflecte muita da radiação recebida", explica-se na memória descritiva, com data de Novembro de 2023. Instalada uma nova bomba de circulação da água, o repuxo voltou à vida esta semana e a praça está, agora, de cara lavada. No grupo de Facebook Vizinhos do Bairro de São Miguel, partilha-se o regozijo: "Há sete anos que não se via a água tão limpa", sublinha um dos membros.
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