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Do rato das cerejas às feridas que carregamos, Xabregas tem mais cor

Ao mural impulsionado pelo colectivo Queer Art Lab seguiu-se o Cor de Chelass, uma vaga de pinturas na zona sul da Estrada de Chelas, onde Bordalo II instalou o seu novo atelier.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Um Corpo é um Território de Sossego
Francisco Romão PereiraUm Corpo é um Território de Sossego
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No Café Tuxa, em Xabregas, a conversa é sobre os "rapazes" que andam lá fora a pintar fachadas. Em paredes que são propriedade da autarquia, um grupo de amigos juntou-se durante o mês de Fevereiro para dar cor à rua, num movimento que coincide com a instalação do artista Bordalo II no seu novo espaço de trabalho, na Estrada de Chelas. À acção deram o nome de Cor de Chelass, tag que tem aparecido nas redes sociais para enquadrar pinturas como o homem de chapéu do ilustrador Jaime Ferraz, o boneco amarelo de kampu5 ou o Cherry Mouse de Bordalo II. Como define o último na sua página de Instagram, a Estrada de Chelas tornou-se, nos últimos dias, "o novo playground da cidade", "longe dos lugares chiques".

Cherry Mouse
DRCherry Mouse

Ainda antes deste "festival", a Galeria de Arte Urbana, da Câmara Municipal de Lisboa, havia autorizado e impulsionado, em parceria com a Junta de Freguesia da Penha de França, a criação de um grande mural na Rua Gualdim Pais (visível desde a Estrada de Chelas), que começou com uma residência artística nos vizinhos Arroz Estúdios. "Partimos do tema '360 graus de pele', bastante aberto, e virámo-nos para o corpo como um espaço que conta histórias, com todas as suas batalhas internas. Este mural foi uma forma de expressarmos as nossas lutas", conta à Time Out Noah Zagalo, que trabalhou com Micaela Guedes, Bruna Borges e Marina Panerai nesta criação, sob a mentoria da artista Tamara Alves e o apoio do Queer Art Lab, colectivo que impulsiona a criação e intervenção de artistas emergentes da comunidade LGBTQIA+.

Um Corpo é um Território de Sossego
Francisco Romão PereiraUm Corpo é um Território de Sossego

Como explica Ary Zara, director artístico do colectivo, "este é um laboratório para os artistas poderem experimentar, à vontade, e o tema '360 graus de pele' fala sobretudo sobre questões de identidade, mas também tem uma abstracção muito interessante". Foi essa abstracção que permitiu aos artistas partirem das suas experiências pessoais e competências várias, para chegar a esta pintura "íntima" e "livre", que "conseguiu dar vida a um espaço que estava a precisar", como descreve Noah Zagalo. "A minha base é o design têxtil e já fiz 30 por uma linha. Neste caso, fiz aquelas peças que saem da parede, porque queria muito pensar nas nossas cicatrizes emocionais e brincar com relevos. Acho que a arte tem de ser íntima, tem de mexer. E a verdade é que [o mural foi finalizado em Outubro] ainda ninguém foi lá 'grafitar' por cima. O pessoal curtiu", avalia. 

Desde Outubro, na Estrada de Chelas, por onde Noah, curiosamente, passava vezes sem conta com os pais em criança, "há muita arte urbana em vez de paredes cinzentas". Na mesma linha, Ary Zara defende que "era preciso sair do centro, que está muito carregado". E os locais, avalia Bordalo II, parecem estar a gostar "das cores que o graffiti, a arte de rua e a arte pública em geral estão a trazer para a zona".

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