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Documentário conta a história dos computadores Spectrum “made in Portugal”

Marcaram uma geração, mas muitos desconhecem a história dos Spectrum portugueses. O documentário ‘TIMEX, Uma Revolução por Contar’ resgata a história do esquecimento e estreia quarta-feira, na RTP2.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Timex: Uma Revolução Por Contar
©Cortesia Galgo Filmes'Timex: Uma Revolução Por Contar'
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O que começou por ser uma fábrica exclusivamente dedicada à produção de relógios TIMEX converteu-se numa das mais bem-sucedidas produtoras de computadores Spectrum em todo o mundo. O documentário TIMEX, Uma Revolução por Contar recorda a fábrica portuguesa, em Almada, que produzia milhares de computadores por dia. Uma história pouco conhecida e uma produção da Galgo Filmes que tem estreia marcada para esta quarta-feira, 29 de Janeiro, às 22.55, na RTP2.

Foi a máquina que marcou uma geração que ainda hoje olha com nostalgia para esse ícone informático de há quatro décadas, onde tantas horas se gastaram a jogar títulos como Chuckie Egg, Arkanoid, entre muitos outros. O procedimento passava por ligar o computador à televisão e a um leitor de cassetes, onde se colocava o jogo, introduzir os comandos Load ““, pressionar Enter, esperar uns bons três minutos (se tudo corresse bem) acompanhados de estridentes sons e, por fim, aguardar que o jogo “entrasse”.

TIMEX, Uma Revolução por Contar
©Cortesia Galgo Filmes'TIMEX, Uma Revolução por Contar'

Não há geek dos anos 1980 que não se lembre dos computadores ZX Spectrum. São hoje uma espécie de máquinas de culto que permitiam aos jovens da altura jogarem os seus primeiros videojogos em casa, longe dos então populares salões de jogos arcade, onde cada moeda valia uma ronda de diversão. Com preços relativamente acessíveis, os Spectrum chegaram a casa de muitos portugueses, mas poucos sabem que a probabilidade de terem tido um computador made in Portugal era bastante elevada. O documentário TIMEX, Uma Revolução por Contar conta-nos a história de como uma fábrica de relógios em Almada se converteu, no início dos anos 1980, numa fábrica de computadores Spectrum muito bem sucedida. O documentário, que acompanha toda a história da fábrica desde a sua fundação em 1970, conta com a ajuda de testemunhos de vários trabalhadores que olham para esses tempos com muita saudade. Também fundamental para esta viagem no tempo foi a contribuição de João Diogo Ramos, coleccionador e fundador do museu LOAD ZX Spectrum, sediado em Cantanhede.

"É importante dar espaço às pessoas para contarem as suas histórias”

A investigação partiu de Pedro Ramalho Marques, hoje com 44 anos, realizador e co-fundador da produtora Galgo Filmes. Mas por um acaso. “Foi graças ao meu sogro. Ele fala-me de um museu, que é o Load ZX Spectrum, em Cantanhede, dinamizado pelo João Diogo Ramos”, que lhe falou imediatamente da história da TIMEX, começa por explicar o realizador à Time Out. Ironia do destino, quando Pedro Ramalho Marques toma conhecimento da história, percebe que o local fica a apenas cinco minutos de distância da sua casa. E disso nunca tinha ouvido falar. “Percebi que realmente isto era desconhecido para a maior parte das pessoas. [...] Quem tinha a possibilidade de ter um computador teria um Spectrum. Não se sabia é que milhares deles não só foram produzidos em Portugal, como distribuídos pelo mundo”.

TIMEX, Uma Revolução por Contar
©Cortesia Galgo Filmes'TIMEX, Uma Revolução por Contar'

Numa antiga exploração dedicada à agropecuária, na Quinta dos Medronheiros, Almada, nasceu em 1970 a TIMEX Portugal. Uma fábrica da conhecida marca de relógios para onde muitos queriam ir trabalhar, por ter condições de trabalho acima da média: seguro de saúde, temperatura controlada, assistente social, posto médico, transportes para os funcionários (e uma frota de mais de 50 autocarros), refeitório, bons salários, prémios de produção e um bom ambiente de trabalho. Eram as mulheres que se sentavam nas linhas de produção e para muitas, que entravam no mercado de trabalho tão novas como 14 anos, esta foi uma estrada de independência. Com o 25 de Abril de 1974, tudo mudou. A instabilidade e as greves também chegaram à TIMEX e acabaram por empurrar grande parte da produção para as Filipinas. Mas a administração portuguesa foi lutando para manter os trabalhadores ocupados. Começaram a trabalhar com outras empresas, da IBM à Minolta, mas foi uma parceria com a britânica Sinclair que acertou os ponteiros para tempos mais seguros, com a ajuda da experiência das antigas operárias da TIMEX.

“O Clive Sinclair, fundador e criador do Spectrum, a determinada altura precisa de um fornecedor fora do Reino Unido e, em 1981, identifica a fábrica TIMEX como uma potencial unidade fabril para começar a produzir”, recorda Pedro Ramalho Marques, sublinhando que a fábrica portuguesa chegou a ultrapassar a de Dundee, na Escócia. Se no arranque de produção a fábrica contava com cerca de 70 pessoas, no fim de 1982 já eram cerca de mil as operárias que fabricavam computadores, cujo principal mercado seria o norte-americano. Mas muitos Spectrum ficaram por Portugal, onde se vendiam que nem pãezinhos quentes.

Além de João Diogo Ramos, que participa como uma espécie de narrador, muitos dos que trabalharam na TIMEX regressaram ao local onde foram felizes e emprestaram o seu testemunho ao documentário. “Acho que uma coisa que enriquece o documentário são as entrevistas, é feito muito à base de depoimentos, porque é importante dar espaço às pessoas para contarem as suas histórias”, conta o realizador. Depoimentos que são feitos na EID, uma empresa de tecnologia militar que hoje ocupa as antigas instalações da TIMEX, oferecendo à produção uma “carga emocional e simbólica muito própria”. “Havia pessoas que não entravam ali há 40 anos e isso acabou por nos trazer depoimentos muito fortes”.

RTP2. Qua às 22.55 (29 de Jan)

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