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O Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) vai digitalizar e disponibilizar ao público o arquivo de António de Oliveira Salazar, líder do Estado Novo, que é o terceiro mais requisitado da instituição, logo a seguir aos arquivos da Inquisição e da PIDE. É mais um projecto que avança ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e que irá resultar num catálogo colocado "parcialmente na Internet, em complemento com [a inventariação] actualmente existente em papel, da autoria de Madalena Garcia [antiga subdirectora do ANTT], publicado pela Editorial Estampa em 1992", explicou o o director, Silvestre Lacerda, à agência Lusa.
Em causa está a digitalização de 1,2 milhões de imagens, já que o Arquivo de Salazar, no total, é de uma dimensão considerável, compondo-se por 1177 caixas, dois ficheiros e um armário com objectos pessoais (tudo ocupa, no total, cerca de 460 metros). Entre a documentação actualmente disponível, na sala de referência da Torre do Tombo podem ser consultados os Diários de Salazar, que foram integralmente transcritos, durante dez anos, por Madalena Garcia e publicados em 2021, em versão ebook, pela Porto Editora.
Os livros que lia, os jantares que tinha
A digitalização deverá acontecer até 2026 e permitirá ao público aceder a "um conjunto grande de informações do quotidiano [de Salazar]: quem recebia e quantas vezes era nomeado; ficamos a saber que todos os domingos jantava com o médico Bissaya Barreto, os livros que lia, etc.", descreveu Silvestre Lacerda à Lusa, sublinhando o facto de o homem que presidiu ao Governo da ditadura durante 36 anos (1932-1968) saber "que estava a escrever para a História".
Recorde-se que, em 2009, uma parte (a última) do arquivo que hoje está na Torre do Tombo foi encontrada pelo contínuo de um armazém do Estado no Pendão, em Queluz, como noticiou na altura o jornal Público. A partir de milhares de documentos distribuídos por 2827 pastas tornou-se, então, possível reconstituir processos de decisão política de Salazar em momentos como a Guerra Civil de Espanha ou a II Guerra Mundial, mas também factos que marcaram a ditadura, como a proibição de "fatos de banho inconvenientes" ou a alteração de horários de trabalho na Função Pública.
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