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Dos sonhos e delírios infantis, João Magalhães fez uma colecção (e performance)

Never For Love, Always For Money é colorida, exuberante e "monstruosa". A apresentação das peças aconteceu no novo atelier do designer, na Graça.

Beatriz Magalhães
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Beatriz Magalhães
Jornalista
Never For Love, Always For Money
© Ana PaganiniNever For Love, Always For Money
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Não havia uma passerelle, nem tão pouco se podia chamar de desfile. Numa apresentação performativa, envolta em fumo, música, cor e elementos, que mais pareciam ter sido retirados de sonhos, ficámos a conhecer a Never For Love, Always For Money, a mais recente colecção de João Magalhães. No novo atelier, monstros, criaturas fantásticas, sonhos e delírios de infância deram o mote para as peças.

Já foi há oito anos que João Magalhães se estreou na ModaLisboa. Na edição de Março deste ano, por azar, o designer ficou doente e não chegou a pôr pé no evento. Mas, como mais vale tarde do que nunca, a nova colecção foi, finalmente, apresentada na última quinta-feira, 18 de Abril. Mais do que uma simples apresentação das novas peças, o designer quis proporcionar uma experiência imersiva, levando-nos numa viagem por um universo de sonhos, pensamentos vertiginosos, medos e delírios.

“É o meu universo infantil. Na escola, quando me sentia 'overwhelmed', retraía-me no meu mundo imaginário, o que eu acho que é muito comum nas crianças e elas também são um bocado perversas. E eu reparei, quando estava a construir isto, que é uma inocência misturada com uma ligeira perversidade”, descreveu João Magalhães à Time Out, após a apresentação. À volta de uma mesa de jantar, os modelos, vestidos nas peças do designer e adornados com acessórios e com maquilhagens exuberantes, tornaram-se o veículo para dar a conhecer este lado infantil e “monstruoso” que fascina o designer. 

A performance também foi uma forma de mostrar todas as facetas de João Magalhães, que se quer estabelecer como mais do que um designer: como director criativo também. “Eu quis, cada vez mais, experimentar coisas novas, porque, para fazer roupa mais complexa, torna-se muito cara. Então eu decidi ser complexo noutras áreas, talvez simplificar a roupa, fazendo uma coisa com uma mensagem forte, ou seja fazer coisas mais simples e tornar mais complexo o resto do processo, porque eu sempre quis fazer desfiles que não fossem só passerelle, mas que tivessem outras coisas a acontecer.” 

Na nova colecção, que só estará disponível para encomenda a partir da segunda semana de Maio, não faltam os padrões e as cores, desde os tops de mesh às sweatshirts compridas e com cores fortes, às camisolas de malha, com fios pendurados e remendos. De tudo, as t-shirts serão as peças mais básicas – são brancas e à frente apresentam uma frase “Hell is other people” ou “Fruity summer”. As peças são produzidas em Portugal, maioritariamente em Lisboa, à excepção das malhas, produzidas no norte do país. 

Esta apresentação, que contou com a colaboração de Marcos Hasshorn, que desenhou os acessórios, e Pedro Caiado, chef responsável pelos pratos, decorreu no novo atelier do designer, que em breve estará aberto ao público também como showroom. Em 2022, o designer tinha estreado morada na Rua das Trinas. Entretanto, depois de alguns problemas no espaço, como inundações, mudou-se para o número 10A da Rua Professor Celestino da Costa, na Graça, há cerca de dois meses. Dar a conhecer, pela primeira vez, o atelier, na passada quinta-feira, veio da vontade de proporcionar um momento de encontro e contacto artístico. “As pessoas que aqui estão, não as conheço a todas, mas estamos todos conectados de alguma forma e, portanto, esta comunidade é uma situação tão complexa que, acho que assim, uniria as pessoas e uniria as áreas criativas – com a esperança de que, daqui, nasçam projectos”, rematou.

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