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“É estranho perceber que esta é uma série política”

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
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Colony estreia-se finalmente em Portugal. A protagonista Sarah Wayne Callies, que conhecemos de Prison Break, esteve em Lisboa e sentou-se à conversa connosco sobre esta série do futuro que podia ser de agora.

A nova aposta do SyFy chega ao canal numa altura em que nos EUA caminha já para a terceira temporada. É sobre uma invasão alien, mas é também sobre Trump, como nos conta a actriz norte-americana.

O que podemos esperar de Colony?
É a história de uma família que luta para sobreviver a uma ocupação e é obrigada a decidir se arrisca a sua segurança ao falar e a tomar acções contra o sistema ditatorial em que vive ou se compromete as suas crenças como forma de protecção. São colocadas uma série de questões que várias pessoas em todo o mundo ao longo da história se viram obrigadas a colocar. A grande vantagem da ficção científica é que podemos fazer essas perguntas travestidas de aliens e naves espaciais.

Algumas dessas questões encontram paralelo no que se vive hoje nos EUA com Donald Trump.
Tem piada porque quando começámos a série, algures entre 2015 e 2016, estávamos na administração Obama e era diferente, especialmente para alguém do Havai com um filho negro adoptado. E a história de Colony é a história de pessoas que vivem sob um ditador que constrói muros, é narcísico e acha que tem sempre razão, despede pessoas que discordam dele e comporta-se de formas que não protegem as liberdades dos cidadãos. Isto tudo pode descrever o Presidente dos Estados Unidos. É muito estranho descobrir que não estamos a fazer ficção científica mas uma história política contemporânea.

O rumo da série mudou depois disso?
A terceira temporada foi a primeira sabendo que Trump seria Presidente e os argumentistas tinham a consciência de que vivíamos num mundo diferente. Não estamos a tentar fazer uma série de comentário político, não se trata de Os Homens do Presidente ou House of Cards, mas acho que a terceira temporada pega em algumas questões específicas. Como é que um regime se mantém num momento em que as hashtags #blacklivesmatter ou #metoo têm tanto poder? 

O movimento #metoo trouxe de volta a discussão da desigualdade de género em Hollywood. Alguma vez sentiu essa desigualdade?
Recebi sempre menos do que os homens com quem trabalhei. Eu tenho uma família de quatro e por isso sou forçada a fazer isso por menos do que os homens fazem. Apenas por ser mulher. Por isso, sim, sinto a desigualdade de género todos os dias. Tento fazer tudo o que posso para criar personagens femininos que possam dar uma imagem diferente das mulheres para lá do cozinhar, limpar e pedir permissão para se fazerem ouvir. Comecei a realizar este ano, realizei o meu primeiro episódio na televisão na terceira temporada de Colony. Tento usar a minha arte e a minha voz para criar um novo paradigma, mas não há desculpas para me pagarem menos. Não há mesmo. Mas disseram-me várias vezes que se pedisse o mesmo dinheiro, dariam o trabalho a outra pessoa. Talvez mude um dia e a minha filha não tenha de se preocupar com isso. Espero bem.

SyFy. Ter 22.15 (estreia)

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