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E se a Inteligência Artificial tomasse conta dos tribunais? Filme luso-espanhol imagina o futuro próximo

‘Justiça Artificial’ é um thriller sobre algoritmos de Inteligência Artificial no sistema judiciário. É também o primeiro filme da Prime Video produzido com Portugal e estreia nos cinemas a 12 de Setembro.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Afonso Pimentel
©DRAfonso Pimentel, em 'Justiça Artificial'
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Portugal e Espanha voltam a juntar-se para uma produção audiovisual, desta vez num filme que se projecta num futuro muito próximo. Justiça Artificial junta equipas dos dois países, elenco incluído, e também uma preocupação global: a substituição dos humanos no sistema judicial por algoritmos de Inteligência Artificial. A longa-metragem é também a primeira com selo português que conta com o apoio da Prime Video. Lúcia Moniz, Afonso Pimentel e Marco d’Almeida são os actores nacionais do elenco.

Parece ficção científica, mas na realidade é uma conversa em cima da mesa. O conceito de advogados e juízes robôs que operam com base em algoritmos de Inteligência Artificial (IA) está a ser testado em alguns países, dos Estados Unidos da América à Estónia. A solução tem levantado questões éticas, embora apresente alguns argumentos a favor, como a rapidez de desempenho e a eficiência. É, de resto, o ponto central do argumento do filme Justiça Artificial, no qual acompanhamos Carmen Costa (Verónica Echegui), uma juíza espanhola que luta contra a implementação de um software chamado THENTE, que tem por objectivo automatizar e despolitizar a justiça, substituindo os juízes de todo o país. Nos dias que antecedem um referendo à população, Carmen vai desenterrando uma conspiração que pretende controlar todo o país a partir do sistema judicial, após a misteriosa morte de Alicia Kovack (Alba Galocha), a criadora do software.

Lúcia Moniz
@Oscar RocaLúcia Moniz, em 'Justiça Artificial'

O filme tem argumento e realização de Simón Casal, cineasta espanhol que há dois anos estreou um documentário com o mesmo nome, colocando as mesmas questões, embora noutro formato. Agora, temos uma história de ficção criada em cima de um debate bastante actual e levando ao extremo o que poderá ser considerado num futuro próximo, onde se situa a acção de Justiça Artificial. Ou seja, não se trata de recorrer à IA para apenas ajudar na organização de dados, mas sim para tomar decisões.

Neste enredo, o sistema THENTE está implementado nos tribunais, mas apenas oferece recomendações. Afonso Pimentel interpreta Jesús Castro, um hacker que está preso e cuja sentença é reavalidada por Carmen em tribunal. A juíza ignora a recomendação do sistema, que sublinha a elevada probabilidade de reincidência de Jesús, e este é libertado. Juntos vão trabalhar para obter informações sobre a morte de Alicia. Do outro lado da barricada está Lúcia Moniz, no papel de Sofia, uma manipulativa engenheira de telecomunicações que coordena o trabalho na THENTE. Já Marcos d’Almeida faz de Carlos Vidal, um ambíguo especialista em cibernética e IA.

Antes da estreia nas salas portuguesas, o filme fez um percurso pelo circuito dos festivais, tendo passado pelo Festival de Cinema de Shangai; pelo Pula Film Festival, na Croácia; e vai integrar a programação do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián (20 a 28 de Setembro), no País Basco. Também num futuro próximo, ainda sem datas, não só integrará o catálogo da Prime Video como passará pela programação da RTP1, que há dois anos também emitiu o documentário de Simón Casal.

“É um esforço de financiamento entre Portugal e Espanha muito grande”

Justiça Artificial é mais uma co-produção entre Portugal e Espanha, que junta a portuguesa Ukbar às espanholas Abano Produccións e também a Tornasol, com a qual a Ukbar trabalhou na longa-metragem O Homem Que Matou Dom Quixote (2022), de Terry Gilliam. As duas produtoras já têm planos para mais uma produção em conjunto, como nos revelou Pandora da Cunha Telles, co-fundadora da Ukbar, numa conversa por telefone. Aliás, a Ukbar já tem no portfólio algumas co-produções com Espanha, como as séries Operação Maré Negra e Ponto Nemo, que estreia no próximo ano.

Sobre o tema do filme que tem agora em mãos, Pandora confessa que até há pouco tempo usava “telemóveis com teclas” e que por isso ficou “fascinada com a possibilidade trabalhar num ambiente de futuro próximo, onde a justiça pode rapidamente sair das nossas mãos”. E destaca os diversos apoios atribuídos a esta produção, oriundos dos dois lados da fronteira. “É um projecto também da RTP, da Amazon… É um projecto que teve apoio do ICA [Instituto do Cinema e Audiovisual], infelizmente não desde o início, mas teve na finalização; é um projecto que teve apoio da televisão espanhola, da televisão galega… Por isso eu acho que é um esforço de financiamento entre Portugal e Espanha muito grande e isso é muito interessante”, revela Pandora.

Alba Galocha
©Oscar RocaAlba Galocha, em 'Justiça Artificial'

A produtora adianta ainda que a estreia desta quinta-feira, 12 de Setembro, não acontece apenas nas salas de cinema portuguesas, mas também em Espanha, na Grécia, na Colômbia e em vários países da América Latina, internacionalizando assim os mais diversos talentos de ambas as nacionalidades, nas mais diversas áreas. “Por exemplo, todos os efeitos digitais foram feitos em Portugal, pela Nu Boyana, que é uma empresa que está em Braga e que por isso está mais próxima da Galiza do que de Lisboa”, conta Pandora, colocando a geografia em perspectiva.

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