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Manuel, “o monstro em cima da cama dos pais” a quem Luís Leal Miranda dedica o seu novo livro, ainda não tem medo do monstro debaixo da cama – até porque, ao que parece, a sua está coladinha ao chão e é, portanto, à prova de sustos. Mas o medo do desconhecido há-de chegar. Nessa altura, a sua estante já terá um exemplar de Há um Monstro Em Cima da Cama / Há um Monstro Debaixo da Cama (12,90€), um livro reversível editado pela Caminho, para ser lido pela ordem que nos apetecer. Até lá, há muitas outras crianças (e até adultos) a precisar de ganhar alguma perspectiva.
Costuma dizer-se, muito sabiamente, que todas as histórias têm pelo menos dois lados. É precisamente isso que Luís Leal Miranda, fundador da micro-editora Livraria Plutão, que em Março de 2020 inaugurou um divertido clube do livro via e-mail, nos quer relembrar. “Eu tinha escrito uma história, que até era para adultos, a partir da perspectiva de um monstro debaixo da cama, que imaginava o que se passava lá em cima”, conta-nos por telefone, desvendando como a ideia original, que data do Verão de 2018, se foi transformando até surgir o reverso da medalha – a história do menino que tem medo do tal monstro, sem saber que o próprio monstro o acha “a coisa mais assustadora que podem imaginar”.
A pensar “na criança que há dentro de nós e no adulto que há dentro das crianças”, Luís reflecte, com muito sentido do humor, sobre como o receio do que não conhecemos nos leva a imaginar os piores cenários. Com ilustrações de Christina Casnellie, que conseguiu a proeza de desenhar “monstros super curtidões”, as duas histórias – que são, na verdade, duas perspectivas para a mesma coisa – dialogam entre si, encontrando-se num final em comum (no meio do livro), que por estar em aberto convida os leitores, pequenos e grandes, a imaginar o que poderá acontecer quando decidimos enfrentar o desconhecido.
Nos próximos meses, o autor prevê, confidencia-nos, a publicação de mais dois livros – um deles resultado de uma bolsa de criação literária da DGLAB – com histórias que, apesar de remeterem para qualquer coisa da infância, se apresentam desafiantes. Por agora, faz votos para o sucesso deste novo álbum ilustrado, que espera vir a tornar-se um clássico. “Do ponto de vista ecológico, chateia-me que se lance um livro, ele esteja nas prateleiras durante meio ano e depois desapareça para sempre. Gostava que não acontecesse, que perdurasse. É pedir muito?”
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