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A Cinderela moderna do séc. XXI, Anora, foi a grande vencedora da 97.º edição dos Óscares. O filme de Sean Baker (realizador de Florida Project e Red Rocket) levou para casa cinco Óscares, falhando apenas uma categoria entre aquelas para que estava nomeado.
Esta foi uma grande noite para Sean Baker. O cineasta venceu três galardões, melhor edição, argumento original e realizador. A estatueta referente a esta última categoria foi entregue em mãos por Quentin Tarantino, uma clara influência para Baker – que disse que, sem o realizador de Pulp Fiction, nunca teria existido Anora, uma vez que a protagonista, Mikey Madison, foi descoberta em Era Uma Vez em… Hollywood.
Nos seus discursos, o artista – cujos filmes focam comunidades marginalizadas e contam com actores não profissionais no elenco – apelou à força do cinema independente. "Fizemos este filme com seis milhões de dólares, na cidade de Nova Iorque, com uma equipa de cerca de 40 pessoas”, começou por dizer. "Se estão a tentar fazer filmes independentes, por favor, continuem. Precisamos de mais. Isto é a prova", rematou.
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O filme conta a história de Ani/Anora, uma jovem dançarina de Brooklyn com ascendência uzbeque, que se envolve e casa com um imaturo filho de um oligarca russo que está a estudar nos Estados Unidos. Quando este a abandona – e com ele a promessa de uma vida longe dos decadentes clubes de strip – a protagonista tem de partir numa louca demanda pelo seu marido.
A encarnar esta personagem está Mikey Madison. Apesar de competir com actrizes mais experientes e reputadas, como Demi Moore (A Substância) ou Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui), a jovem de 25 anos foi considerada a melhor actriz principal. Madison, que também participa em Scream (2022), é a nona mulher mais jovem a vencer esta distinção.
Adrien Brody venceu o seu segundo Óscar na categoria de Melhor Actor Principal. A primeira vez foi em 2003, em O Pianista, e, agora, com a sua performance em O Brutalista, como László Tóth. O artista interpreta um arquitecto que escapa à miséria da guerra apenas para se perder na corrupção da fama e do dinheiro. Este é um papel complexo que lhe permite mostrar toda a sua amplitude dramática. Caso Timothée Chalamet (A Complete Unkown) tivesse ganhado, este teria sido o mais novo de sempre a vencer o prémio, registo que continua a pertencer a Brody. A longa-metragem de Brady Corbet venceu ainda o prémio de melhor banda sonora original e cinematografia.
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Na categoria de melhor actor secundário, Kieran Culkin venceu a estatueta – roubando-a ao seu irmão de Succession, Jeremy Strong – pelo seu papel como Benji Kaplan, em A Verdadeira Dor. Este filme realizado e protagonizado por Jesse Eisenberg conta a história de dois primos que fazem uma excursão pela Polónia para homenagear a avó que morreu.
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Dedicando a vitória à sua mãe, que estava na cerimónia, a melhor actriz secundária foi Zoe Saldaña, que interpretou Rita em Emília Pérez. A primeira mulher de ascendência dominicana a ganhar o galardão, a intérprete agradeceu com um discurso incrivelmente emotivo (em que aproveitou para agradecer ao cabelo lindo do marido). Apesar de esta longa-metragem estar envolta em controvérsia – a actriz principal, Karla Sofía Gascón, fez vários tweets racistas e o filme foi acusado de desrespeitar o México, uma vez que, apesar de acontecer neste país, não utilizou nenhum actor mexicano – acabou por vencer também prémio de Melhor Canção Original, "El Mal".
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O Carnaval também se sentiu nos Óscares, com Ainda Estou Aqui a ser escolhido como o melhor filme internacional. O filme de Walter Salles segue Eunice Paiva (Fernanda Torres, nomeada para Melhor Actriz Principal), uma mulher casada com um ex-político durante a ditadura militar no Brasil, que se vê obrigada a reinventar-se e a traçar um novo destino para si e os filhos, depois de a vida da sua família ser impactada por um acto violento e arbitrário. Este foi o primeiro brasileiro a vencer um Óscar.
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Mas este não foi o único filme a fazer história na cerimónia. Com a vitória de Flow – À Deriva, na categoria de melhor filme de animação. Não só foi a primeira longa-metragem da Letónia a ser nomeada para um galardão, como o venceu. Este filme, sem diálogos, é uma metáfora sobre as alterações climáticas. Conta a história de um gato preto que descobre que os humanos desapareceram e as águas estão a avançar. Pelo caminho, faz amizade com um golden retriever, uma capivara, um lémure e uma ave secretário. Além desta categoria, também estava nomeado para melhor filme internacional.
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Apelando ao fim dos ataques na Palestina, estava a equipa do No Other Land, que venceu o prémio de melhor documentário. Este filme, criado por um colectivo que mistura israelitas e palestinos, é um relato sobre a história de resistência nesta região.
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Também a quebrar história, está Paul Tazewell (Wicked), que se tornou o primeiro designer negro a vencer o Óscar para melhor guarda-roupa. Este filme que explora o universo do Feiticeiro de Oz ganhou também o prémio para melhor design de produção.
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A cerimónia aconteceu no Teatro Dolby, em Los Angeles, Califórnia, durante a madrugada de segunda-feira, 3 de Março, com Conan O’Brien como apresentador (e Nick Offerman como narrador).
🍿 Onde e como ver os filmes com nomeações aos Óscares
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