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É uma livraria de arte? Feminista? De contracultura? É a Well Read

Inaugurada em Maio, esta loja quer ser um ponto de encontro e de troca de ideias. Vale a pena a subida à Calçada de Sant’Ana.

Hugo Geada
Escrito por
Hugo Geada
Jornalista
Well Read
DRWell Read
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Entrar na Well Read, livraria na Calçada de Sant’Ana, é um ataque aos sentidos. Não sabemos se devemos olhar primeiro para os livros – admirar o seu minucioso posicionamento nas estantes – ou apreciar a decoração e perceber como cada espaço é ocupado com um propósito. Se calhar o melhor a fazer primeiro é pedir um café e sentarmo-nos na sala de convívio. 

“Quando estava a procurar um espaço para a livraria, era muito importante que tivesse um sítio para socializar. Queria que fosse um local onde as pessoas pudessem sentar-se, beber café e conversar”, explica à Time Out a proprietária da Well Read, Kaitlyn Davies, 29 anos. “As livrarias são espaços interessantes para conviver, mas as pessoas não estão a par disso. A maioria é concebida para ver livros durante um bocado e depois sair. Um dos meus maiores objectivos é tornar a livraria num ponto de encontro e de troca de ideias”, conta. 

Após conhecer melhor a canadiana, que também é organizadora do festival FWB, na Califórnia, é fácil perceber que a Well Read é uma extensão da sua personalidade e dos seus gostos. Na loja, ouvimos “Cities in Dust” de Siouxsie and the Banshees ou a banda japonesa de rock psicadélico Kikagaku Moyo, e começamos a perceber porque é que existem tantos livros sobre música.  

Aqui encontramos uma selecção eclética de livros, escritos em português ou inglês, que vão desde o nicho, como Basta Now. Women, Trans & Non-binary in Experimental Music, ou a biografia da lenda do jazz espacial Sun Ra, A Strange Celestial Road, mas também fenómenos da cultura pop, como The Woman in Me, livro de memórias de Britney Spears.  

Mas não tem apenas música, também tem ficção contemporânea (com livros que poderiam ser encontrados em vídeos virais do TikTok), design, culinária, arquitectura ou zines dos mais variados temas. “Esta curadoria é muito importante, especialmente, numa altura em que estamos muito expostos a algoritmos que nos sugerem o que ler, ouvir e ver. Quero que as pessoas se revejam nestes livros”, afirma. “Os clientes entram aqui e têm diferentes reacções. Há quem pense que somos uma livraria de música, outros dizem que é de artes, feminista ou antissistema. Para mim, a Well Read é tudo isto”, explica.  

A eclética seleção de livros da Well Read
DRA eclética seleção de livros da Well Read

Após viver em Toronto, Londres, Nova Iorque e Berlim, Kaitlyn mudou-se para Lisboa há dois anos e meio. A vontade de abrir este espaço surgiu quando regressou aos EUA e visitou uma livraria onde teve uma experiência semelhante à que quer implementar. A canadiana ficou encantada e começou a reflectir sobre se existiria um espaço semelhante em Lisboa. Quando percebeu que a resposta era negativa, decidiu arregaçar as mangas e criar a sua própria versão deste local de encontro e de troca de ideias. 

No início do ano, começou a procurar sítios e encontrou no Idealista um antigo armazém de uma loja que pertencia a uma família há mais de 50 anos. Apesar de ter visto outros espaços, ficou encantada com este – com as salas, com o tecto adornado e com as charmosas janelas. Depois de quatro meses de remodelações, que contaram com o suor e esforço da proprietária, em Maio, a Well Read foi inaugurada.  

A princípio ficou reticente sobre a localização, na Calçada de Sant’Ana, numa colina entre o Martim Moniz e a Avenida da Liberdade, mas situada num bairro residencial onde (aparentemente) não acontece nada. No entanto, rapidamente, percebeu o potencial desta situação. “Gosto que as pessoas nos encontrem por acaso. Sentem-se atraídas pelo espaço e descobrem livros sobre as suas paixões. É uma experiência mágica e enriquecedora”, descreve. 

Well Read
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Além de tudo isto, na Well Read é possível assistir a palestras, apresentações de livros e workshops. No futuro, Kaitlyn espera fazer ainda mais. “Instalei um projector e espero fazer, em breve, exibições de cinema. No próximo ano espero conseguir organizar ainda mais eventos e trazer mais convidados. Quero fazer coisas que nunca pensaram ver em Lisboa”, diz-nos.  

E em relação há música? Será que vamos assistir a concertos na livraria? “Por enquanto, não quero trazer aqui nenhum DJ para actuar”, revela a canadiana. “Só se for para falarem dos seus livros”, acrescenta entre risos.  

Calçada de Sant'Ana 92/94 (Pena), Sex-Seg 14.00-19.00

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