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EIRA: 25 anos no centro do baile

Escrito por
Miguel Branco
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São 25 anos da estrutura que Francisco Camacho criou para sustentar a sua actividade artística: a dança. A EIRA viria depois a ser a casa de muitos bailarinos e coreógrafos, e até produz o festival Cumplicidades. Este sábado, n’A Janela, da Voz do Operário, apagam-se as velas.

Fazer acontecer. Abdicar do part-time. No fundo, ser profissional de. Em 1993, os convites de teatros e festivais europeus sucediam-se em catadupa para Francisco Camacho. Queriam-lhe espectáculos. Queriam-lhe o brilhantismo, a sensibilidade, queriam a sua dança. “Estava a conseguir sobreviver só através da dança, e, portanto, senti a necessidade de profissionalizar a minha actividade com o apoio de uma estrutura por detrás, que me sustentasse”, explica um coreógrafo central na compreensão da dança portuguesa.

E embora a EIRA só se tenha formalizado enquanto estrutura mais tarde, é a esta data, em 1993, que Francisco Camacho se refere sempre: “Foi nessa altura que fui para a casa de um amigo, onde tinha um quartinho, contratei uma pessoa e desenvolvi a criação da EIRA. Assim que fui dando os primeiros passos pensei que talvez fosse possível disponibilizar estes meios para ajudar outras pessoas, como a Lúcia Sigalho ou a Vera Mantero, que depois saiu para criar a sua própria estrutura. Fomos sempre renovando os artistas associados ou apoiados, fui sempre detectando alguns artistas que mereciam algum apoio à sua actividade”, conta.

O Rei no Exílio REMAKE
Nacho Correa

Foi com assinatura EIRA, e Francisco Camacho, que se fizeram espectáculos memoráveis: O Rei no Exílio, Nossa Senhora das Flores, Dom São Sebastião, Gust. Estes todos de Camacho. Mas também se testemunharam coisas de outros, A Queda de um Ego (Vera Mantero), Puro Sangue – Mulheres (Lúcia Sigalho) ou Blessed, uma colaboração de Meg Stuart; lançou-se gente como Filipa Francisco, Ana Galante e João Borralho, Filipe Viegas, Carlota Lagido, Miguel Bonneville, Vânia Rovisco, Rafael Alvarez, David Marques, Mariana Tengner de Barros. E a lista podia continuar. Não há ninguém nesta lista que não tenha uma palavra a dizer na dança portuguesa, e isso também se deve à visão, a “esse processo de identificar propostas, cabeças novas, em que reconhecia algum valor e contribuir para dar um empurrão”, explica Camacho.

Até porque, se mesmo hoje os exemplos não abundam, à época menos comum era existir uma estrutura com este género de funcionamento e capacidade de apoio. A vida evolui e, com o tempo, a EIRA deixou praticamente de produzir directamente alguns artistas, para, no fundo, funcionar como casa que cede espaço para ensaios. E, convenhamos, produz o Cumplicidades, festival de dança mais importante de Lisboa e que este ano decorre de 10 a 16 de Março em vários locais.  

“Sempre fui ambicioso, não sou doentiamente ambicioso e não acho que a minha ambição seja narcisista, quero sempre que tenha efeitos no terreno e na área, sempre quis afirmar esta ideia de dança no espaço social, cultural e nacional. Sempre quis crescer, foi por isso que fui para o estrangeiro estudar e não ser uma coisa fechada. Não sabia que um dia teria um festival, foi um desafio do Rui Silveira, que estava comigo na produção e que me disse: ‘Se achas que faz falta um festival de dança em Lisboa porque é que não fazes?’. E assim foi. No início não foi muito reconhecido pelas estruturas mais institucionais, mas lá conseguimos que o meio acolhesse bem o festival e isso deixou-nos muito contente.”

Lost Ride
Isa Silva

Somos obrigados a admitir – bom, não é que seja uma obrigação, é apenas evidente – que há pouca gente com tanta propriedade para falar desta manifestação artística em Portugal como Francisco Camacho. E, como é lógico, decidimos perguntar-lhe como considera o estado actual desta arte cénica. A resposta é agridoce: “Acho que a dança portuguesa tem conseguido mostrar uma grande resiliência, artística e profissional. Desde logo por ter continuado a existir em momentos muito difíceis, de faltas de apoio e tudo mais. Hoje em dia parece-me que estamos a crescer em termos de visibilidade e isso satisfaz-me bastante. Por outro lado tenho alguma apreensão. Apesar de reconhecer uma série de conquistas em termos da solução governativa actual, confesso que tenho alguma desilusão pela cultura não ser, desta vez, uma paixão da esquerda.”

Amanhã, a partir das 20.30, apagam-se as velas à EIRA e apresenta-se a programação oficial do Cumplicidades 2018. Tudo n’A Janela da Voz do Operário. Vamos a isso.

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