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‘Elemental’. Uma história sobre imigração e amor, com muita química

A nova longa-metragem da Pixar chega aos cinemas portugueses a 13 de Julho. A protagonista é Ember, uma miúda-Fogo prestes a cair de amores por um rapaz-Água.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Elemental
© Disney/Pixar. All Rights Reserved.Elemental
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Ela, temperamental e impetuosa, é filha de trabalhadores imigrantes. Ele, descontraído e sentimental, é herdeiro de uma família rica. Podia ser o começo de uma qualquer comédia romântica, mas é bem mais do que isso. Com realização de Peter Sohn (A Viagem de Arlo), que se inspirou na sua própria experiência como filho de imigrantes coreanos a viver na Nova Iorque da década de 1970, a nova longa-metragem original da Pixar leva-nos até à deslumbrante Cidade Elemento, onde os residentes – feitos de fogo, água, terra e ar – tentam conviver em harmonia, apesar das óbvias diferenças atómicas. A protagonista, a miúda-Fogo Ember, está prestes a ser confrontada com as suas crenças sobre o mundo e aquilo que acha saber sobre o perigo de se misturar com alguém, digamos, como o rapaz-Água Wade. A estreia de Elemental em Portugal está marcada para 13 de Julho.

Inspirada em grandes cidades portuárias, a Cidade Elemento é composta por vários bairros, inclusive a Fire Town, que surge mais ao menos ao mesmo tempo que a primeira vaga de imigrantes, como é o caso do casal Lumen, os pais de Ember. À chegada, Bernie e Cinder, assim nomeados na fronteira para facilitar a pronúncia dos seus nomes, encontram alguma resistência, mas acabam por construir a sua própria loja de conveniência e ver a sua filha crescer feliz, junto da sua fogosa comunidade – onde se ouve falar muito firish (uma linguagem criada por David J. Peterson para o filme). Até que, já relativamente independente, Ember conhece Wade, é forçada a sair da sua zona de conforto e começa a questionar tudo aquilo em que sempre acreditou. “No início, é fácil perceber a razão porque fogo e água não se misturam. Quer dizer, podem literalmente acabar um com o outro”, diz Leah Lewis, antes de revelar que se revê um pouco na personagem.

ELEMENTAL
Pixar

“Ela é uma jovem muito impetuosa, apaixonada e independente. De certa forma, reflecte um eu mais jovem, uma versão mais defensiva. E, embora ela pareça muito cautelosa, acho que só está com um pouco de medo de sair para o mundo e ver o que os outros elementos têm para oferecer, porque ela não sabe realmente. Mas [a Ember] é linda, e absolutamente radiante, e muito leal à sua família, que também é algo com o qual me relaciono. Quer dizer, para defender as coisas com as quais realmente me importo, ia até ao fim do mundo. Ela também tem essa paixão intensa, que pode resultar em algo explosivo. Eu também tenho esse lado, mas ambas aprendemos a torná-lo em algo bom, que pode ajudar a minha família e os meus amigos.”

Além de abordar as dificuldades sentidas pelos imigrantes na construção e decorrer de uma nova vida fora da sua terra-natal, Elemental explora o binómio ternura-tensão no seio das relações familiares e o que é para um filho sentir que tem de honrar o sacrifício dos seus pais através do sacrifício das suas próprias aspirações. É por isso que, apesar de ter um talento criativo, Ember insiste tanto em assumir a responsabilidade pela loja de conveniência dos seus pais e evita ao máximo sair de Firetown. Entre lidar com o seu temperamento, que leva muitas a vezes a explosões inesperadas, e tentar provar que merece a confiança da sua família, sobra-lhe muito pouco tempo para, como é esperado de qualquer jovem adulto, descobrir o seu lugar no mundo longe do ninho.

Elemental
© Disney/Pixar

Wade, por outro lado, tem uma vida privilegiada e, embora pareça ter problemas em manter um emprego (é ele que o confessa entre lágrimas…), revela-se relativamente à vontade consigo mesmo e as suas emoções.“O facto do personagem ser [literalmente] transparente levou-nos nessa direcção, de ‘pois, claro, ele não consegue esconder o que sente’. É possível ver através dele”, explica o realizador Peter Sohn. “Está tudo [como se costuma dizer] à flor da pele.” Neste caso, literalmente (por falar nisso, há uma cena imperdível no bairro do Ar, onde vemos uma plateia inteira a fazer a onda).

Imigração e amor

Numa altura em que a imigração domina o debate político nos Estados Unidos, a problemática desta nova produção não poderia ser mais pertinente, e o realizador – que assina o argumento com John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh – não é o único envolvido com uma história para contar. Em 1989, o animador e actor vocal Ronnie del Carmen, que dá voz ao pai de Ember, emigrou das Filipinas para os Estados Unidos, onde tem feito carreira (co-escreveu, por exemplo, Divertida-mente, que venceu um Óscar de Melhor Filme de Animação em 2016 e cuja animação é bem capaz de ter inspirado o imaginário visual de Elemental). Já a actriz e cantora Leah Lewis, que interpreta Ember, foi adoptada por um casal norte-americano num orfanato, em Xangai, na China; e o actor Mamadou Athie, que interpreta Wade, nasceu na Mauritânia, no noroeste de África, e só obteve a cidadania norte-americana há um ano.

“A minha família veio para cá quando eu tinha apenas cinco meses de idade. O meu pai trabalhava como diplomata, tinha dois mestrados [para os quais não recebeu equivalência], e teve de começar tudo do zero. Como adulto, entendo o sacrifício que foi, mas não consigo imaginar realmente o que é fazê-lo para garantir a segurança e o bem-estar da minha família. Mas os meus pais fizeram-no, e fizeram-no sem hesitar”, recorda Athie. “Acho que eu e o Pete [Sohn] partilhamos essa gratidão, e esse sentimento de estar em dívida, mas sabes, na verdade, entretanto tive oportunidade de conversar sobre isto, também com os meus pais, e já não sinto que seja uma dívida. Parece-me mais, como, como é que se diz – como um presente, que deves retribuir, mas em celebração da tua própria vida, ao dares o teu melhor.”

O projecto, que demorou sete anos a ser concluído e exigiu recurso a novas ferramentas de animação, conta com produção de Denise Ream, banda sonora de Thomas Newman e nomes como Wendi McLendon-Covey e Catherine O’Hara no elenco de vozes. Ainda não há informações sobre a dobragem em português, mas os nomes dos protagonistas foram trocados de Ember e Wade para Chispa e Nilo.

o encontro de carl
© Disney/PixarO Encontro de Carl

Antes do filme começar, conte ver O Encontro de Carl. Escrito e realizado pelo nomeado ao Óscar e vencedor de um Emmy Bob Peterson e produzido por Kim Collins, esta nova curta-metragem mostra-nos um Carl que, apesar de relutante, aceitou sair com uma amiga. Como amigo prestável que é, o seu cão Doug (que tem uma coleira que traduz os seus latinos) intervém para acalmar o nervosismo pré-encontro e oferecer algumas dicas valiosas. Estão garantidas tantas lágrimas quanto risadinhas.

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