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Uma jovem órfã é acusada de bruxaria e começa a questionar a sua própria identidade. Ao mesmo tempo, no ano de 1943, aliados e forças alemãs nazis atacam-se num embate que ficou conhecido como a Batalha de Aljezur. São estes os dois principais fios condutores da narrativa de Finisterra, série assinada por Guilherme Branquinho e Leone Niel (que escrevem e realizam esta produção), que não se apresenta como uma série histórica, apesar de conter alguns fundos de verdade. Estreia a 10 de Março, às 21.00, na RTP1.
Superstição, mistério e medo. A produtora Take It Easy Film volta a apostar numa série embrenhada em misticismo, pouco tempo após Lusitânia. Mas estamos mais longe dos mitos e mais próximos da realidade, não só histórica, mas da que nos faz ter medo. Neste caso, medos alicerçados – como quase sempre – no desconhecido. Finisterra é o nome da série e também uma palavra que tem origem em finis terrae, que em latim se traduz em algo como “os confins do mundo”. Neste caso, uma comunidade isolada de Aljezur, onde conhecemos a protagonista de uma história envolta em mistério, bruxaria e na opressão de uma ditadura. Celeste (interpretada por Leonor Vasconcelos) é uma órfã que vive com os padrinhos, mas é acusada de carregar a heresia dos seus antepassados, sendo expulsa da vila e partindo em busca da verdade sobre a morte dos pais. Em simultâneo, a batalha que tem lugar nos mares de Aljezur acaba por resultar na presença nazi neste lugar, que esconde outros sombrios segredos. Mas Finisterra, apesar de tudo, não se identifica com o género de produção histórica, como explicaram os criadores na antestreia da série.

“Géneros, no fundo, são só códigos que nos ajudam a navegar estilisticamente uma história”, arranca Guilherme Branquinho, para quem “a série navega vários géneros”, acabando por brincar com as expectativas dos telespectadores. “Eu gosto de acreditar que a pessoa acaba o primeiro episódio a pensar que isto é uma série de bruxas, mas, no final, não sei se é”, diz, em jeito de suspense. Para Leone Niel, seria mais fácil “contar uma história verídica e ponto final”, mas não é disso que trata Finisterra, cujo argumento está em grande parte liberto das amarras da verdade histórica. Desta forma, defende Niel, a série “traz uma verdade muito mais interessante para as personagens e acho que torna a história muito mais interessante para todos nós”. Desde já, houve de facto uma caça às bruxas em Aljezur, mas muitos anos antes, em 1929, conta-nos Branquinho. Acima de tudo, a inspiração teve origem na questão do medo que tudo isto causou na comunidade. “Quer acreditemos em bruxos ou não, havia este medo real e quando foi a batalha também havia o medo da iminência de uma guerra. Pior do que isso: se eu vejo que há ataques alemães junto à costa onde vivo, mas depois o governo diz que não há guerra, onde está a verdade? Este dilema também nos inspirou a criar esta personagem principal, uma pessoa vista como a herdeira do mal e que vai ter que partir em busca da sua real essência e tentar responder à questão que acho que é comum a todos: serei eu aquilo que as pessoas dizem que eu sou?”, pergunta Branquinho. Afinal, explica, o tema principal da série acaba por ser “a maleabilidade da verdade”.

As consequências de viver numa cultura de medo
O que nos leva ao trabalho de Leonor Vasconcelos (Ao Largo), a protagonista, que teve de mergulhar em todas estas dúvidas para construir Celeste. “A série joga muito com esta ideia do quê que é verdade e do quê que não é verdade”, diz, alinhada com a visão dos realizadores. “E nós nunca sabemos muito bem o que é o quê. E o que se passa aqui. Foi interessante trabalhar sobre isso: é que até a Celeste, a certa altura, vai começar a duvidar de si própria e da realidade”, antecipa. Mas não pode revelar muito mais, a não ser que Celeste se torna “o bode expiatório de todas as coisas más que vão acontecer na série”, ao mesmo tempo que “começa a dar ouvidos ao dogma das outras pessoas”, originando uma “reviravolta” no arco da personagem.
E numa era de pós-verdade, esta história de outros tempos fala para os dias de hoje? Leonor Vasconcelos acredita que sim: “Acho que isto é tão pertinente na altura como é pertinente agora. Principalmente esta questão do jogo com a verdade, do trabalho e do questionamento sobre a verdade, o que é verdade e o que não é”. A actriz sublinha que em Finisterra “vemos as consequências de uma comunidade que vive numa cultura do medo, a viver no tempo do fascismo, sem acesso à informação e, portanto, sem capacidade de pensar criticamente ou com pouco esforço e pouco espaço para o fazer”. E defende que a série é também “um convite à auto-responsabilização no que toca a considerar várias perspectivas e vários pontos de vista antes de tomar qualquer posição e formar uma opinião”, assim como um convite ao “refreamento de aderir cegamente a qualquer dogma vigente”.

O elenco conta ainda com nomes como Gonçalo Waddington (A Travessia), Miguel Guilherme (Vizinhos Para Sempre) e Rui Pedro Silva (Sempre) nos principais papéis, numa série com um total de sete episódios. Como sempre, além da emissão na RTP1, Finisterra também fica disponível no streaming da RTP Play.
RTP1 e RTP Play. Estreia a 10 de Março às 21.00
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